Se a principal vocação de uma van é ser um carro de família, a Chevrolet Amazona 1962 do analista de sistemas aposentado João Valli Jr. tem cumprido essa missão com maestria. É a bordo dela que ele, a esposa Rosemary e as filhas Vitória, de 11 anos, e Mariana, de 1 ano e 2 meses, marcam presença em eventos de antigos.
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“Ela desperta muita curiosidade. As pessoas ainda encontram por aí a picape 3100 Brasil, da qual a Amazona é derivada, mas não a van”, ele comenta.
A linha da Chevrolet marcou a infância do aposentado. “Um vizinho meu tinha uma picape Brasil e colocava a molecada na caçamba para dar uma volta no quarteirão”, ele conta. “As linhas da Amazona sempre me atraíram, mas só na adolescência eu me apaixonei por ela”.
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Há cerca de 15 anos, o flerte com a van começou a ficar sério. Valli sempre via um exemplar em um estacionamento pelo qual passava a caminho de Curitiba, onde tinha clientes, e um dia teve a certeza de que queria comprar uma Amazona. O problema era encontrar uma Chevrolet sobrevivente.
A busca só terminaria no final de 2008, com um anúncio na internet. Como a van à venda preservava o motor original e vários emblemas na carroceria, Valli se interessou e fechou negócio.
Restauração da Amazona foi trabalho digno de artista
“A pintura tinha bolhas e precisava ser refeita. Eu e minha esposa cogitamos fazer apenas a repintura. Mas concluímos que o carro era tão raro que merecia uma renovação completa”, explica.
Durante o trabalho de restauração, que começou em 2010 e levou cinco anos, a raspagem da pintura revelou extensas porções de massa na lataria. “Isso explicava as bolhas. O carro não estava tão íntegro como havíamos imaginado”, ele conclui.
Um dos detalhes mais complicados do processo foi a reconstrução do emblemático “bigode” que marca a dianteira do modelo. “Foi um trabalho de dobradura de chapa que exigiu muita perícia”, comenta o proprietário. “E o assoalho de madeira na parte traseira da cabine foi uma obra de artista”, completa, sem esconder o orgulho pelo carro pronto.
Escola, estrada e igreja: a Amazona topa todas
Passados quatro anos do restauro, a Amazona ainda está tinindo. Os bancos, ainda originais, receberam novo revestimento, em tecido bicolor do tipo “saia e blusa”. Para garantir o bom funcionamento do conjunto mecânico – um motor 4.3 de seis cilindros e 142 cv e um câmbio de três marchas – Valli roda com a Amazona pelo menos duas vezes por semana.
Um dos trajetos habituais são os 25 km que separam sua casa da escola onde a filha Vitória estuda. Mas a van já levou até noivas para a igreja. “Muitas amigas pedem outro antigo que tenho, um Bel Air, mas algumas preferiram a Amazona, que foge do lugar-comum”, diz o aposentado.
Viagens em família também são frequentes, e a Chevrolet mantém velocidade de cruzeiro de 100 km/h sem problemas. Para aumentar a segurança de todos, Valli instalou freios a disco nas rodas dianteiras. “O antigo sistema, a tambor nas quatro rodas, não dava conta de deter o carro, que vazio pesa 1.650 kg. Antes era preciso se antecipar bastante nas frenagens, senão ele não parava a tempo. Hoje me sinto mais tranquilo”, ele conta.
Valli não cansa de admirar a Amazona e, por isso, propostas para vendê-la estão fora de cogitação. Para driblar os insistentes, ele tem uma tática: diz que é apenas o usuário da van e que a propriedade do veículo é das filhas. “Experimente falar com a Vitória para ver o que acontece! Amigos meus vêm brincar com ela, dizendo que compraram a Amazona de mim e pedindo que ela retire os pertences do carro. Ela fica brava”, diverte-se o aposentado.
Amazona era a filha “trabalhadora” da família
A Amazona é derivada da picape Chevrolet 3100 Brasil. Esse modelo, por sua vez, é uma versão da 3100 norte-americana, carro-chefe da linha de comerciais leves que a General Motors lançou após o fim da Segunda Guerra Mundial.
A 3100 foi apelidada carinhosamente de “Boca de Sapo” por causa do desenho da dianteira. Após
ser nacionalizada, em 1959, a picape ganhou algumas variantes. A primeira delas foi a van Amazona, que surgiu em 1960. Era definida como uma “camionete de uso misto”, na qual passageiros e bagagem ficavam no mesmo compartimento (e não separados, como na picape).
No Salão do Automóvel de 1961, a picape 3100 gerou outros dois frutos. Um deles era a 3114 (conhecida como Alvorada), uma picape cabine dupla para seis pessoas. O outro era o Corisco (oficialmente, Chevrolet 3105), um furgão fechado para carga.
A Amazona foi muito empregada como veículo de trabalho: era a perua escolar, o carro do leiteiro. Com isso, grande parte das unidades se perdeu após anos de uso intensivo. “A minha teve mais sorte porque, de acordo com o proprietário anterior, ela foi usada pela Marinha para transportar oficiais. Por isso, não foi tão judiada”, diz Valli.