No conto do médico e o monstro, duas personalidades habitavam o mesmo corpo, entrando em cena em momentos distintos. Num paralelo com o mundo das motos, o comando de válvulas variável oferece comportamentos diferentes para o mesmo motor sem grandes modificações. Pela primeira vez, esse sistema está em um modelo esportivo, a Suzuki GSX-R 1000R.
Os dispositivos de comando variável adotam sistemas hidráulicos – por meio de soluções mecânicas, a pressão de óleo interfere no movimento dos ressaltos – ou eletroidráulica, no qual uma válvula acionada eletronicamente controla a pressão do lubrificante. No caso da Suzuki, o dispositivo foi criado para atender as regras da MotoGP, em que essas duas soluções são proibidas. O segredo é a utilização de forças mecânica e centrífuga.
Há 12 esferas na engrenagem do eixo de comando localizadas dentro de ranhuras, que são mais profundas na base e rasas no topo. Duas molas de pressão mantêm as esferas na base até a rotação do motor subir. A força centrífuga move as esferas para as pontas, vencendo a resistência das molas.
Quando isso ocorre, o centro de massa no comando é alterado, mudando o peso e atrasando os ressaltos. Assim, as válvulas de admissão ficam abertas por mais tempo. O resultado, segundo dados da Suzuki, é um aumento de potência de 5% (10 cv) em giros elevados, para 202 cv. Portanto, é possível supor que, sem o recurso, o motor de quatro cilindros e 999 cm³ da esportiva produza 192 cv.
Na prática, o sistema variável garante desempenho “forte” em altas rotações, sem comprometer a entrega e a retomada em giros baixos e médios. Esse equilíbrio é difícil de ser obtido em motos esportivas, mesmo com a adoção de tecnologias como injeção de combustível e acelerador eletrônicos, que mitigam a falta de fôlego em baixas e médias rotações.
De série, a GSXR 100 R traz equipamentos como freios ABS de curva, controles de largada e tração com dez níveis de intervenção e três modos de condução para pista seca e outros três para pista molhada.