Até os muscle cars estão ficando caretas

Houve um tempo em que eu andava de bicicleta o tempo todo. Tenho cicatrizes das tentativas de manobras até hoje em minha pele. Também tenho em minha memória afetiva o som que a magrela fazia quando eu colocava uma carta de baralho dobrada presa ao freio, arrastando na roda, na tentativa de simular o som de uma moto ao algo parecido.

O barulho da aceleração é algo que fascina as pessoas que gostam de carro. Basta, em qualquer feira automotiva, colocar um V8 para roncar para o local se apinhar de gente como formiga atrás de açúcar.

Acontece que as pessoas gostam cada vez menos de carros – e de açúcar. E neste mundo chato que se configura, até o poder de um oito cilindros deve ser censurado. É o que prova o sistema “Good Neighbor Mode” (Modo Bom Vizinho) do novo Ford Mustang. Com ele ligado, o motor V8 do carro é amordaçado nas primeiras horas da manhã ou a noite para não perturbar os vizinhos.

Olha, ter um V8 e ter que andar a 50 km/h já é frustrante, imagina não poder nem ouvir a música que sai dos canecos. É muito para mim. Eu sei, entendo que há pessoas que não têm noção e ficam dando “acelerão” a qualquer hora, algo que também abomino. Mas este tipo de gente não vai apertar o botão do sistema mesmo, então tanto faz o Mustang ter ele ou não.

Na verdade, o que parece que a marca quer dizer com este equipamento é que os tempos deste tipo de motor e som estão com os dias contados. E realmente estão, basta ver os governos dizendo que vão proibir carros a combustão nas ruas em 20, 30 anos.

É claro para quem quiser ver que o conceito de carro que temos hoje acabou. Os automóveis caminham para ser meros meios de transporte, não importando seu estilo, design ou velocidade. O foco estará todo no poder da interatividade.

Eu não gosto do que estou vendo, mas não sou de brigar com o futuro. Porém, eu tinha esperança de que os muscle cars seriam os bastiões da combustão, ostentando seus V8 até que fosse crime ter um. Já não sei mais…

Hoje você me decepcionou, Mustang, muito. Mas como há ainda muito amor por aqui, não vamos nos afastar. Mas lembre-se que o silêncio pode destruir um relacionamento.