Gustavo Henrique Ruffo
Um grupo de empresas e entidades de classe está se unindo para defender a oferta no País de veículos de passeio com motor a diesel, cujas vendas são proibidas desde 1976. A associação será anunciada no dia 28 de agosto, durante o 10º Fórum SAE de Tecnologia de Motores Diesel, que ocorrerá em Curitiba.
O lançamento será durante o painel “Carro Diesel – Venda essa ideia” e tem o apoio de gigantes como Bosch e Delphi e do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), entre outros. Detalhes só serão revelados no Fórum.
A liberação do uso de diesel para carros de passeio no País já foi defendida até pelo então presidente Lula, em 2004, durante o lançamento do Programa Biodiesel. Também virou o Projeto de Lei 656, de 2007, de autoria do senador Gerson Camata (PMDB-ES), que espera, desde 2011, por uma audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos e teve parecer contrário feito pelo senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
De acordo com o parecer, o projeto deve ser engavetado. Entre os motivos está o fato de a medida ser inconstitucional, pois o diesel é subsidiado (24% de seu preço corresponde a impostos, ante os 42% da gasolina). Além disso, o combustível é importado, e ações que ampliem seu consumo piorariam o resultado da balança comercial do País. Por fim, o etanol perderia espaço.
Outro baque contra o uso do diesel veio em junho de 2012, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS), por meio da Agência Internacional para Pesquisas sobre Câncer (IARC), informou que os gases gerados pela queima desse combustível são cancerígenos.
“A avaliação de risco da IARC se refere a todos os tipos de emissões causadas pela queima do diesel. Há ainda uma questão científica sobre se os futuros motores, que seguirão normas mais rígidas de emissões, poderão ser considerados seguros ou menos perigosos”, afirma a relações-públicas da agência, Véronique Terrasse.
Fontes ligadas à futura entidade dizem que não defenderão o uso do derivado de petróleo, mas sim o acesso do consumidor brasileiro ao motor de ciclo diesel, mesmo que abastecido com outros combustíveis. Além do biodiesel, esses propulsores podem usar etanol, como faz a Scania.
“Produzimos o primeiro (motor de ciclo diesel que queima etanol) no fim de 1980. Usamos um aditivo para não precisar de faísca na ignição do combustível. O rendimento térmico é de 42%, ante 43% do diesel. A relação de consumo do etanol para o diesel é de 60% por litro”, diz o gerente de pré-vendas da Scania, Celso Mendonça.
As mesmas fontes dizem que a restrição impede que a engenharia nacional de motores desenvolva novas tecnologias de ciclo diesel. Isso diminuiria a competitividade do País nas exportações.
Legislação
O uso de diesel como combustível no Brasil é restrito a veículos com capacidade de carga acima de uma tonelada e/ou que tenham tração 4×4 com reduzida.
Ainda assim há fabricantes locais de peças para motores a diesel (a maioria para exportação), o que facilitaria a fabricação local caso haja ganho de escala. Segundo fontes, o preço do carro a diesel no Brasil seria, no máximo, 20% superior ao do mesmo modelo a gasolina.