O paddock de Interlagos está tomado por móveis sofisticados, food trucks e muitos fãs de carros esportivos. Nos boxes, as principais atrações: modelos da Motorsport, ou “M”, a divisão de preparação da BMW. Mas é na frente dos boxes, a área chamada de pit lane, que está a verdadeira diversão: máquinas para acelerar. Uma delas, branca, sem capota, olha para mim, pronta para ser desafiada. É o novo BMW Z4 M40i, que acaba de ser lançado no Brasil e por enquanto é a versão mais poderosa do conversível.
Caminho pelo pit lane (para quem acompanha automobilismo, é a área onde são feitos os pit stops nas corridas) em direção ao novo BMW Z4 M40i. “Com a capota aberta ou fechada”, pergunto ao piloto que vai me acompanhar, sentado no banco do carona.
Ele sugere que eu mantenha a capota do conversível abaixada. Aceito sem pensar duas vezes. Afinal, quando vou ter novamente a oportunidade de pilotar um carro em Interlagos com o rosto contra ao vento (ao menos, é isso que eu penso ao tomar a decisão)?
A imagem de Mark Webber vem à minha mente. Em sua última corrida de Fórmula 1, justamente em Interlagos, o piloto australiano retirou o capacete na volta de retorno aos boxes, ao fim da corrida. Poderia ser punido, mas e daí? Não estaria lá no ano seguinte para cumprir a punição.
Ao volante do BMW Z4 M40i, usei e abusei da provocação. Procurei levá-lo ao limite, ignorando o fato de que o meu chega muito antes do da máquina. O carro até tentou perder a cabeça e me colocar em meu devido lugar, mas não conseguiu. O autocontrole dessa máquina impressiona.
‘M’ puro x ‘M’ moderado
Na linha BMW, os modelos “M” puros não levam dois ou mais números na frente da letra. Eles são, por exemplo, o M3 (M do Série 3) e M5 (M do Série 5). No caso dos SUVs, X3 M, ou X4 M.
Um exemplo prático é o Série 8. A BMW acaba de lançar no Brasil o M850i (leia a avaliação aqui e veja o vídeo abaixo). Ele é um “M” moderado. Já o M8, já mostrado na Europa, é um “M” puro, mais visceral, da linha.
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Os “M” moderados são equivalentes aos S da Audi, por exemplo. Os “M” puros, aos RS. No primeiro caso, há preparação, mas com motores um pouco mais fracos e menos esportividade em ajustes de suspensão e direção.
O BMW Z4 M40i é um moderado. Ainda assim, a diversão é garantida.
BMW Z4 M40i em detalhes
O BMW Z4 M40i foi apresentada aos brasileiros em novembro do ano passado, durante o Salão do Automóvel, em São Paulo. A marca escolheu essa configuração para promover a estreia nacional da terceira geração do carro.
Porém, a versão mais dócil chegou primeiro. Em abril, foi lançado aqui o Z4 na versão sDrive 30i M Sport, com um 2.0 turbo de 258 cv e preço de R$ 309.950.
A configuração M40i chega só agora, por R$ 386.950. Seu lançamento ao público ocorreu nos dias 10 e 11 de agosto, durante o BMW MFestival.
Esse evento, em Interlagos, voltado a donos de modelos da divisão “M” e outros convidados, reuniu marcas de luxo para diversos tipos de experiência, como as gastronômicas. Teve até tratamentos estéticos bem legais. E, claro, exposição dos modelos da BMW Motorsport.
O maior apelo do evento, porém, foi a possibilidade de guiar esses carros esportivos na pista de Interlagos. Ocasião em que pude testar o novo BMW Z4 M40i.
Seu motor dianteiro e longitudinal é um seis-cilindros de 3 litros e 340 cv, com torque de 51 mkgf disponível a partir de apenas 1.600 rpm.
O câmbio do BMW Z4 M40i é automático de oito marchas. Há elementos exclusivos por fora, como as rodas, e por dentro. Além dos bancos semi-esportivos, chama a atenção nesse dois-lugares o cinto de segurança, decorado com as famosas listras da divisão Motorsport, nas cores vermelha e azul.
Duas voltas quase insanas
Um dos meus colegas de redação costuma dizer “as tradicionais três voltas” ao se referir à maior parte das experiências de pista que temos com carros aqui no Brasil. Três voltas são insuficientes.
A primeira é para se habituar ao traçado (e, se você não o conhece, esqueça! Precisará de muito mais do que isso). Na terceira, geralmente o piloto profissional no banco do carona pede educadamente para que se tire o pé, para evitar frenagens bruscas. O objetivo é “resfriar os freios”.
Ou seja: na prática, dá para acelerar de verdade em apenas uma volta. O meu encontro com o BMW Z4 M40i, no entanto, não foi assim.
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“Você já tem experiência em track days (experiências de pilotagem na pista)?”, pergunta o piloto profissional que é meu acompanhante. Explico que sou jornalista, testo carros e faço isso constantemente.
Acrescento que, há pouco mais de um mês, fiz o curso de pilotagem esportiva do Roberto Manzini, no qual muitos pilotos profissionais são formados. Vejo um sorriso se abrir no rosto de meu acompanhante enquanto levo o carro para fora dos boxes, rumo à reta oposta.
Ele diz que vai olhar como eu me saio e, com base nisso, ir dizendo a que ponto posso levar o carro. Mas logo após a “Descida do Lago”, já faz sinal positivo com o dedo, e me autoriza: “pé embaixo”. A diversão começa mais cedo do que eu esperava e eu consigo, após relembrar o jeito certo de fazer o traçado, converter duas voltas quase insanas. Ao menos para mim.
Autocontrole
De “pé embaixo” na reta dos boxes, o cone vermelho que indica o ponto de frenagem se aproxima. Meu “carona”, porém, diz que ainda não é a hora de frear. Basta tirar o pé do acelerador.
A frenagem começa pouco depois da placa dos 100 metros (para a curva do “S”). Mesmo sem fincar o pé no pedal, o BMW Z4 M40i vai perdendo velocidade rapidamente, e de maneira controlada, mostrando o grande equilíbrio de seu chassi e de todo o conjunto mecânico.
Meu “carona” consegue provar seu ponto. Os sistema de freios com discos ventilados nas quatro rodas é impecável. Ataco então a primeira parte da curva do “S”, a mais complicada de Interlagos, sem acelerar. Começo a pressionar o acelerador logo após o segundo trecho.
Mais alguns metros e estou novamente de “pé embaixo”, na saída das curvas. Pela primeira vez, o BMW Z4 M40i reage à provocação e ameaça escapar de traseira. Porém, desiste, ou é convencido a desistir.
Todo ele é preparado para entregar equilíbrio. Sua divisão de peso é perfeita: 50% em cada eixo. Além disso, tem controles eletrônicos de tração e estabilidade, bem como diferencial eletrônico. As suspensões são adaptativas – elas se moldam à condição de pilotagem.
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Modos de condução
Estamos no modo de condução mais esportivo, o Sport Plus, no qual o carro fica preparado para entregar desempenho máximo. Meu companheiro de teste, sempre me incentivando a não ter dó do pedal do acelerador, conta que, nessa configuração, o controle de estabilidade não age. Apenas o de tração.
Mas eu sinto o de estabilidade agindo também nas rodas quando o carro ameaça escapar, sempre nas saídas de curvas com “pé embaixo”.
Nesse momento um M5 passa por mim trazendo ao volante Augusto Farfus, piloto de fábrica da BMW e com experiência em diversas categorias internacionais. Ele faz um drift controlado incrível. Missão quase impossível com o controle de estabilidade em ação, mesmo em um carro de tração traseira.
Mais tarde, descubro que nos “M” moderados essa tecnologia sempre atua, mesmo que pouco, no modo Sport Plus. Já nos “M” puros, não.
Seria possível perder a cabeça?
Mesmo sendo um carro bem mais fraco, em potência e torque, que o M5, o Z4 M40i é também muito leve. São apenas 1.562 quilos, ou 4,6 kg/cv de relação peso-potência.
Apesar de todo o equilíbrio, é fácil notar que ele poderia sim perder o controle, ou ao menos dar algumas “traseiradas” emocionantes, com os sistemas eletrônicos desligados. O modo Sport Plus não faz isso, mas há um comando específico para reduzir essas assistências a quase zero.
Eu, no entanto, não pude experimentar essa configuração. Estava proibida no evento. Afinal, estamos falando de uma experiência em que, para guiar em Interlagos, o único requisito era ter CNH válida. Não havia exigência nem de experiência em pista.
O único ponto fraco dessa experiência com o Z4 M40i foi a direção. Ela é sim muito direta, mas, em algumas ocasiões, a assistência parece exagerada, dando ao sistema uma pegada artificial. Ela parece um pouco anestesiada, impedindo uma interação completa entre piloto e máquina.
Velocidade
A diversidade de “pilotos” também levou a organização a instalar uma chicane um pouco depois da Junção, obrigando os carros a praticamente pararem antes da entrada dos boxes.
Ali, começava uma nova volta, na qual o BMW Z4 M40i atingia os 100 km/h em uma velocidade impressionante e com o motor roncando de forma animadora. De acordo com a fabricante partindo da imobilidade, o carro chega aos 100 km/h em 4,5 segundos.
Os 250 km/h de velocidade máxima (limitada eletronicamente) talvez fossem possíveis de atingir sem a presença da chicane. Afinal, do fim da Junção em diante, são metros, metros e mais metros de “pé embaixo”.
Com a chicane, eu consegui me aproximar dos 220 km/h. Então, era hora de finalizar a experiência, sem necessidade de resfriar os pneus. Meu “carona” me permitiu provocar o BMW Z4 M40i até o fim.
Ao estacionar o carro no pit lane, meu coração estava disparado e a adrenalina a mil. Só alguns minutos depois, já fora do carro, percebi que faltou a sensação de vento contra o rosto.
Talvez tenha sido por causa do capacete obrigatório na pista. Ou da eficiência do para-brisa do BMW Z4 M40i.
Ou, ainda, porque com tanta velocidade, frenagens bruscas e saídas de curvas rápidas, em um dos autódromos mais incríveis do mundo, fique difícil perceber o vento ou qualquer fator que não seja a conexão com a máquina.
Ficha técnica
Preço sugerido – R$ 386.950
Motor – 3.0, seis cilindros, 24V, turbo, gasolina
Potência – 340 cv
Torque – 51 mkgf a 1.600 rpm
Câmbio – Automático, 8 marchas
Tração – Traseira
0 a 100 km/h – 4,5 segundos
Velocidade máxima – 250 km/h
Peso – 1.562 quilos
Comprimento – 4,32 metros
Entre-eixos – 2,47 metros
Altura – 1,3 metro
FONTE: BMW