O desenvolvimento conjunto da nova Volkswagen Amarok e da nova Ford Ranger não foi adiante na Argentina. O chamado Projeto Cyclone foi descartado, e as marcas não devem mais unificar a próxima geração das picapes, que estava prevista para 2022 ou 2023. Lembra o episódio da Autolatina, nos anos 90.
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A razão da paralisação do projeto é atribuída à crise no mercado local, agravada pela pandemia do novo coronavírus. Mas, segundo o portal Autoblog Argentina, há um outro motivo. Especula-se que a Volkswagen argentina não estaria contente de entregar a produção da Amarok à Ford. Pelo acordo, embora o desenvolvimento fosse conjunto, a fabricação das duas picapes ficaria a cargo da marca norte-americana.
Isso liberaria espaço na fábrica para a Volkswagen produzir o Tarek, SUV médio que será feito na Argentina, e que estará à venda também no Brasil.
Embora as relações entre Volkswagen e Ford permaneçam inalteradas a nível global, há rumores de que na Argentina as duas marcas ainda tenham ressentimentos desde a época da Autolatina, casamento que começou nos anos 80.
Autolatina foi criada para possibilitar corte de custos
A Autolatina foi uma joint venture criada pelas duas multinacionais, e que perdurou de 1987 a 1996. O objetivo era criar uma sinergia entre as marcas e reduzir custos. Algo semelhante estava sendo feito também em Portugal, com a criação da Autoeuropa. Também daquela vez o casamento não foi muito duradouro.
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Na época, a Volkswagen era líder de mercado, com cerca de 34% de participação. A Ford tinha 21%. Com a joint venture, a nova empresa criaria uma gigante com mais de 50% de mercado no Brasil e 30% na Argentina.
Apesar de o acordo ter sido firmado em julho de 1987, na prática a nova empresa começou a funcionar em 1990. A Autolatina nasceu com um capital dividido em 51% da Volkswagen e 49% da Ford. Em termos de economia, a unificação de departamentos como compras aumentava muito o poder de negociação da nova empresa, porque o volume era bem maior.
Casamento gerou vários irmãos
Do casamento entre as duas marcas surgiram vários veículos híbridos. O Gol recebeu motor 1.0 CHT, proveniente da Ford. No início dos anos 90, a Fiat foi rápida no desenvolvimento do “carro popular”, e lançou o Uno Mille. Os concorrentes tiveram de correr atrás, e o caminho foi reduzir a cilindrada do CHT 1.6.
Em troca, o esportivo Ford Escort XR3 recebeu o motor AP 1800 da Volkswagen, muito mais potente que o CHT 1.6. Com isso, ele finalmente poderia enfrentar o rival Gol GTS, que já tinha o mesmo motor.
A diferença básica na mecânica era que no Ford Escort o motor já estava na posição transversal, enquanto a Volkswagen ainda empregava a posição longitudinal em seus carros.
Além da troca de motores, houve também criação de automóveis irmãos, com detalhes diferentes. O sedã Santana, da Volkswagen, deu origem ao Ford Versailles. Da mesma forma, a perua Santana Quantum gerou a Versailles Royale. Na época, os modelos da Volkswagen tinham visual levemente esportivo, enquanto os da Ford eram mais orientados para o luxo.
Na categoria abaixo deles, as marcas geraram os irmãos Ford Verona e Volkswagen Apollo. Além dos dois, Logus e Pointer, ambos da Volkswagen, foram desenvolvidos a partir da plataforma do Escort.
Uma curiosidade do Logus é que o estilo do interior foi concebido pelo designer escocês David Wilkie, que na época trabalhava no estúdio Ghia. A história de nosso bate-papo, e que rendeu como bônus uma voltinha na Ferrari Dino dele, está aqui.