O anúncio feito nesta quinta-feira (17) de que Mercedes-Benz deixará de produzir carros no Brasil pegou todo o mercado de surpresa. A empresa encerrou a produção de veículos de passeio após quatro anos do aporte de mais de R$ 600 milhões na fábrica de Iracemápolis (SP). Com isso, surgiu uma interrogação acerca das operações de Audi, BMW e Land Rover.
Os mesmos motivos que levaram a Mercedes-Benz a encerrar a produção pode causar um efeito cascata. E afetar outras fábricas de carros premium que se instalaram no Brasil. Todas foram implantadas mirando os incentivos prometidos pelo Inovar-Auto. Trata-se do programa do governo federal voltados a fomentar a indústria e à criação de empregos.
O câmbio desfavorável do dólar é apontado como o principal problema. Não é vantajosa a operação de produzir nacionalmente carros que têm quase 100% das peças importadas. Há ainda a queda de vendas do mercado e também a de carros premium, sobretudo com a pandemia da covid-19.
Procuramos várias marcas para saber se há possibilidade de encerramento da produção local. Audi, BMW e Jaguar Land Rover responderam aos questionamentos feitos pelo Jornal do Carro.
Audi
Na Audi, a situação é digamos, mais dramática. A empresa já havia deixado de produzir o SUV compacto Q3 quando o modelo mudou de geração na Europa. Com isso, resto à fábrica de São José dos Pinhais (PR) apenas a produção do A3 Sedan. O carro também está saindo de linha no País.
Segundo informações da Audi, há um estudo em curso sobre a viabilidade de fabricação de um novo modelo no Paraná. Contudo, não há nada de concreto ainda. O mais provável é que, se isso ocorrer, o escolhido será o novo Q3. Ou até mesmo o A3 reestilizado, que já está à venda na Europa.
Os alemães da sede da empresa, em Ingolstadt, esperam por uma definição do governo brasileiro acerca do Inovar-Auto. E aguardam os créditos dos impostos prometidos a quem decidisse fabricar carros no País. O imbróglio começou no governo de Dilma Rousseff (PT), passo pelo de Michel Temer (MDB) e chegou ao do atual mandatário, Jair Bolsonaro (sem partido).
“Entre o fim da produção do A3 Sedan e a confirmação de um novo produto, haverá um hiato de produção”, informa a Audi por meio de comunicado. Ou seja, em 2021, a fábrica ficará ociosa – ao menos por uma boa parte do ano. Isso porque, mesmo que seja confirmado um novo carro, a empresa precisará adequar a linha e treinar seus funcionários.
BMW
Com fábrica em Araquari (SC), a BMW está bem mais otimista que a Audi em relação à manutenção de sua planta no Brasil. “Os planos do BMW Group Brasil permanecem inalterados e todos focados no médio e longo prazo. Acabamos de assinar nossa participação na Rota 2030 e continuamos trabalhando para nos mantermos com alta capacidade de nos reinventar”, informou a companhia ao Jornal do Carro.
A BMW produz no País o sedã Série 3 e os SUVs X1, X3 e X4. Na mesma planta a empresa produziu, por um breve período, o Mini Countryman. A marca inglesa faz parte do grupo alemão.
Mas, na mudança para a atual geração, o SUV da Mini voltou a ser trazido da Europa. Inaugurada em 2014, a planta catarinense tem capacidade para fazer até 32 mil carros por ano.
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Inscreva-seJaguar Land Rover
Inaugurada em 2016, a fábrica da Jaguar Land Rover em Itatiaia (RJ) também já teve dias melhores. No início das operações, a planta produzia os SUVs Evoque e Discovery Sport. Desde 2019, apenas o segundo modelo continua sendo fabricado por lá.
A fábrica ficou parada de março até junho deste ano por causa dos impactos do novo coronavírus. A JLR informa, em comunicado, que mantém “a estratégia de longo prazo no mercado brasileiro, mas que existe um grande desafio pela frente”.
No fim da nota, a empresa informa que a prioridade é passar pela crise da melhor maneira possível. E complementa dizendo que “mantém a estratégia atual e para 2021”, sem citar os próximos anos.
A Jaguar Land Rover investiu R$ 750 milhões para erguer a fábrica. A capacidade produtiva é de 24 mil unidades por ano. Mas a planta produziu “exemplares suficientes para abastecer o mercado brasileiro”, diz a marca.
A segunda geração do Evoque não foi nacionalizada. O motivo eram os custos da modernização extra do modelo. Apesar disso, o motor flexível foi mantido como uma opção.
Todas sofrem e mercado é pequeno
Apesar de apenas a Audi ter sido incisiva na possibilidade de encerrar a produção local, todas as marcas de luxo que produzem no Brasil estão na berlinda. É cada vez mais difícil fazer a a conta fechar.
A BMW tem os melhores números de emplacamentos de produtos feitos no Brasil entre as marcas de luxo. De janeiro a novembro de 2020, foram vendidas 2.830 unidades do X1 e outras 4.171 do 320i.
O Discovery Sport tem as vendas somadas com as do Discovery. Juntos os dois modelos tiveram 2.052 exemplares emplacados.
Da Audi, o A3 Sedan soma 1.748 unidades nos 11 meses do ano. Os números são da Fenabrave, federação que reúne as associações de concessionárias.