O test-drive de apresentação do novo JAC E-J7 foi diferente do que nós, jornalistas, estamos acostumados. Fomos conhecer o sedã chinês 100% elétrico, com ares de cupê, que já está à venda no Brasil por R$ 264.900. Mas, ao chegar no evento, demos de cara com uma frota de sedãs alemães, com Audi A4, BMW Série 3 e Mercedes-Benz Classe C.
Não entendeu? Vamos por partes. A ideia central da JAC, claro, era permitir que os jornalistas experimentassem o novo carro e ressaltar todo o investimento na eletrificação. Mas, além disso, a marca tem uma ousada ambição de posicionar o JAC E-J7 como alternativa aos sedãs alemães de luxo com motor à combustão – e sem cobrar mais por isso.
Então, em um circuito fechado, participamos de uma espécie de prova de arrancada com os quatro carros. Sim, JAC E-J7 X Audi A4 X BMW Série 3 X Mercedes-Benz Classe C. No caso do modelo da estrela de três pontas, a saber, tratava-se de uma versão mais antiga – não o 2.0 híbrido-leve avaliado pelo Jornal do Carro no fim de 2021.
Pingos nos is
O JAC E-J7 conta com dimensões e potência (193 cv) semelhante a dos rivais alemães. No entanto, como já era esperado, o torque imediato de 34,7 mkgf do elétrico chinês deixou o trio alemão “no chinelo”. Em todas as arrancadas, o elétrico se saiu melhor frente aos rivais, principalmente, o Classe C antigo.
Ou seja, o foco está no custo-benefício – a tradicional estratégia da marca. A tecla em que a JAC quer bater é: seu produto custa o mesmo (ou menos) que modelos tradicionais a gasolina, mas com zero emissões. Ah, claro! E que deixa os alemães para trás no 0 a 100 km/h.
A título de comparação, o Audi A4 – o que mais se aproxima do chinês, em números – tem 190 cv. Com 1 centímetro a menos na carroceria (4,77 metros contra 4,76 m), leva 7,3 segundos para chegar aos 100 km/h. O E-J7 precisa de apenas 5,9 segundos para realizar o feito.
Dedo do Grupo Volkswagen
Construído em plataforma própria, mas com a parte dinâmica de chassi da Volkswagen, o JAC E-J7 também herdou traços da marca alemã em seu design. A traseira, por exemplo, tem o mesmo estilo do SUV ID.4, com régua reflexiva que liga as lanternas do carro.
As setas são dinâmicas, como nos Audi (também do Grupo VW). A grade fechada, como em todo elétrico (pois dispensa arrefecimento) é substituída por uma portinhola que esconde os plugues de recarga.
Ainda falando em design, um dos grandes destaques do E-J7 é o estilo fastback. Isso, inclusive, rendeu abertura de porta-malas diferenciada. Ao contrário dos sedãs convencionais, que abrem apenas o tampão, o JAC tem abertura total da tampa (junto com o vidro traseiro), como nos hatches e SUVs. Por falar nisso, o latifúndio em questão carrega até 590 litros. Por baixo, não há estepe, afinal, o modelo usa a tecnologia Runflat.
O belo modelo, desenhado no estúdio italiano da JAC, ainda se destaca pelo teto em preto, com teto solar panorâmico. As rodas são de 17″.
Por dentro
Do lado de dentro, o entre-eixos de 2,76 metros comporta com comodidade quatro ocupantes. Na verdade, até mesmo um quinto integrante é bem-vindo, sem que alguém tenha um ataque de claustrofobia. Afinal, ao contrário de modelos a combustão, carros elétricos têm assoalho plano e eliminam o túnel central alto, dando mais comodidade ao passageiro do meio. Ali, inclusive, tem saídas de ar-condicionado e duas entradas USB.
Sentado no banco do motorista (que só tem regulagem elétrica para a base do assento), é possível perceber, a princípio, a interessante mistura de materiais, como piano black e partes emborrachadas. O painel de instrumentos digital, de 10,25″, até troca de cor. A função é possível por meio de um botão do lado direito do volante.
A tela central, de 13 polegadas, tem formato vertical, ao melhor estilo tablet. Conexão Apple CarPlay e Android Auto, todavia, são feitas por fio. Carregador por indução não está na lista, mas temos tomadas USB na frente, sistema autohold, freio de estacionamento eletrônico e bancos revestidos com couro.
Dentre os itens de segurança, encontramos air bags frontais, laterais e de cortina, além do sistema Isofix de fixação de cadeirinhas infantis. O JAC E-J7 conta ainda com controles de tração e de estabilidade, frenagem com distribuição eletrônica, assistente de partida em rampas e monitoramento de pressão de pneus. Por fim, sensores de estacionamento dianteiro e faróis com ajuste de altura fazem parte do pacote.
Dinâmica
Além dos testes de arrancada, o Jornal do Carro conseguiu dar algumas voltinhas no circuito do Haras Tuiuti (em Tuiuti, interior de São Paulo). O modelo roda até 402 km com uma carga da bateria de 50,1 kWh. De acordo com a JAC, são necessários 30 minutos para obter de 30% a 80% em pontos de recarga rápida. E, apesar do pacote de baterias, na média, o E-J7 é apenas 100 quilos mais pesado, em média, que os concorrentes a combustão.
Considerando o custo médio atual de tarifas de R$ 0,62 por kWh (dado da Aneel), o proprietário do modelo vai desembolsar R$ 7,75 a cada 100 km, o que equivale a 1,2 litro de gasolina por 100 km. A cada recarga completa, o proprietário do JAC E-J7 gastará pouco mais de R$ 30. “É o equivalente a uma média de 80 km/l em um carro a combustão”, ressalta Sergio Habib, presidente do Grupo SHC e da JAC Motors Brasil.
O comportamento dinâmico agrada e o JAC E-J7 se segura bem nas curvas. Cortesia do casamento entre o baixo centro de gravidade, proporcionado pelas baterias posicionadas no assoalho, com a suspensão independente nas quatro rodas, com sistema Multilink na traseira. E, como já vimos lá no começo, retomadas e acelerações são excelentes. A posição de dirigir é boa e o sistema de direção tem três modos selecionáveis, enquanto a regeneração de carga conta com dois níveis de atuação. A velocidade máxima é limitada eletronicamente a 150 km/h.
Degrau acima
Essa mãozinha da Volkswagen fez a marca subir de patamar. Portanto, se ao lembrar da marca você ainda pensa naquele J3 vendido no começo da década passada, que concorria no segmento de compactos de entrada, esqueça! O JAC E-J7 está, definitivamente, alguns degraus acima.
Só que, outros elétricos também rivalizam nessa faixa dentre 250 e 300 mil reais, como Fiat 500e, Mini Cooper SE, Peugeot 208 e-GT e até o veterano Nissan Leaf. E, além disso, brigar com Gol e Palio é uma coisa. Encarar a concorrência de A4, Série 3 e Classe C é outra, completamente diferente, com um público que tem muitas outras demandas além de sair na frente no semáforo.