Muita gente nunca ouviu falar no Toyota Mirai. Mas é compreensível, afinal, o sedã – apesar de estar na segunda geração – nunca veio ao Brasil. O motivo é a tecnologia de células de combustível que usa para se locomover. O conjunto elétrico usa hidrogênio. Ou seja, por aqui, devido à falta de infraestrutura, é praticamente impossível abastecê-lo.
Basicamente, o Mirai é um sedã com ares de cupê (à lá Audi A5) que funciona como um carro elétrico. Para gerar energia, no entanto, uma verdadeira química acontece. Em contato com o oxigênio, o hidrogênio se transforma em eletricidade que, por sua vez, alimenta a bateria do carro (1,24 kWh) e, assim, alimenta o motor elétrico.
“O subproduto dessa reação química (hidrogênio + oxigênio) é o vapor d’água, que condensa e gera o líquido no final”, explicou Eduardo Bennacchio, gerente de engenharia de produto. Segundo ele, cada 100 km rodados geram 6 litros de água. É isso mesmo! Apenas água resulta de tudo isso. Um ponto interessante é que o líquido fica armazenado num compartimento abaixo do assoalho e, para descartá-la, basta apertar um botão no painel.
Ao contrário do modelo elétrico convencional, que precisa de tempo para recarga, o Mirai precisa de não mais que 5 minutos. Entretanto, a bomba necessária (com 700 bar de pressão) é que tira o modelo da nossa rota. Afinal, trata-se de um equipamento extremamente caro.
Como é o Mirai?
Para mostrar o modelo de perto, a Toyota levou o Jornal do Carro até a fábrica de Sorocaba (SP). Lá, a japonesa mostrou todas as suas tecnologias sustentáveis disponíveis pelo mundo. Assim, disponibilizou o híbrido flex Corolla Cross, o híbrido plug-in Prius, o Lexus UX 300e, que é alimentado exclusivamente por baterias, e, por fim, o Mirai.
Na prática, demos uma única volta no modelo na pista de testes da Toyota, no interior paulista. O sedã – que registrou até recorde no Guiness Book em 2021, quando rodou mais de 1.300 km com uma única recarga – é meio pesadão, tem mais de 2 toneladas. Mas, como nos carros eletrificados, o silêncio é total e o torque é instantâneo (30,5 mkgf).
Em relação aos demais dados, o Mirai gera 184 cv de potência e, assim, vai de 0 a 100 km/h em 9,2 segundos. Claro que, para chegar aos 600 km de autonomia, não dá para abusar do pé direito. O seu motor elétrico vai no eixo traseiro. Já sob o capô, vai a célula de combustível e, sob o assoalho, os cilindros e a bateria. Essa “mágica” é exibida na tela do painel.
Elétrico, no Brasil, ainda não
Acreditando que os modelos híbridos ainda sejam a maneira mais sensata de fazer a transição para os veículos totalmente elétricos, a Toyota – mesmo já possuindo as tecnologias – prefere manter os pés no chão, adequando seus sistemas de acordo com o mercado.
“O brasileiro ainda tem o pé atrás com carros movidos a baterias”, afirmou o CEO da marca para a América Latina, Masahiro Inoue, durante conversa com a imprensa. Para o executivo, ao contrário de países desenvolvidos (como o Japão), o consumidor local ainda levanta muitas questões que vão desde a recarga ao descarte da bateria.
“Mas isso está mudando. As vendas do Prius, por exemplo, cresceram mais de 10 vezes no País ao longo de uma década. Tudo é um processo”, defendeu Inoue. Na Califórnia (EUA), onde o Mirai tem boas vendas, o preço inicial do modelo é de US$ 49.500, o equivalente a R$ 252 mil na conversão direta e sem taxas. Ou seja, custa o dobro do Prius, que parte de US$ 25.075 (R$ 128 mil), e do Corolla híbrido, com valor inicial de US$ 24.050 (R$ 122,6 mil).
Por isso que a Toyota, mesmo já tendo anunciado investimento bilionário em fábrica de elétrico, ainda não cogita a chegada de modelo movido a eletricidade por aqui. O SUV BZ4X (foto acima) ainda está fora da realidade local. Por hora, talvez a marca trabalhe com o Lexus UX 300e, que faz parte da linha “rica” da Toyota. O modelo está pronto e, portanto, tem uma rota mais fácil para chegar ao mercado brasileiro. Entretanto, de acordo com os executivos da empresa, “há estudos, mas ainda sem nada de concreto quanto ao possível lançamento”.