O preço do carro usado disparou durante o auge da pandemia da covid-19. O principal motivo foi a queda na produção das montadoras, por causa da falta de peças. Assim, o consumidor do novo migrou para o seminovo, gerando um efeito cascata no mercado. Como resultado, muitos modelos de segunda mão chegaram a ficar mais caros que os zero-km. Aos poucos, a situação na indústria está sendo normalizada e os preços dos usados começaram a recuar. E, embora ainda não dê para dizer que se trata de uma tendência consolidada, os números do mercado indicam estabilidade. “Os valores não vão voltar aos patamares anteriores ao início da pandemia”, diz a coordenadora do curso de Graduação em Administração da FEA/USP e especialista em indústria automotiva, Adriana Marotti.
As distorções ficaram mais evidentes no início do ano passado. Uma Fiat Strada seminova era negociada por preços, em média, 3,37% mais altos que a tabela da picape zero-km. No caso do T-Cross, o preço sugerido pela Volkswagen era 2,87% menor que o pedido pelo usado. Já o interessado em um Chevrolet Onix Plus de segunda mão tinha de desembolsar 2,43% a mais que o preço publicado no site da GM. Os dados são de um estudo feito pela Kelley Blue Book (KBB), consultoria internacional da área de veículos.
Preço do usado recua
Agora, com a relativa normalização da entrega de peças, as fábricas ampliaram a produção. Com isso, a oferta de veículos novos cresceu. Assim, já há reflexo no setor de usados, que vem registrando queda nos preços. De acordo com dados da KBB, em agosto a redução foi de, em média, 1% na comparação com julho. Vale lembrar que agosto foi o melhor mês de 2022 em vendas de veículos novos do País.
Segundo a consultoria, o levantamento refere-se aso preços de veículos entre quatro e dez anos de uso. Aliás, os valores dos modelos mais antigos foram os que tiveram maior alta em 2021. Seja como for, mesmo com a redução, na média o preço do carro usado mantém viés de alta. Além disso, mesmo em agosto os modelos fabricados em 2012, 2013 e 2016 ficaram ligeiramente mais caros. Confira abaixo:
Segundo a KBB, para realizar o levantamento foram analisados os preços de 23.622 versões de veículos. Isso inclui novos, seminovos e usados que estavam disponíveis no mercado. Conforme a consultoria, os SUVs foram os modelos que mais desvalorizaram. Em média, a queda foi de 0,16%, em agosto.
Tendências
Seja como for, o preço do carro usado deve continuar a cair. Porém, o recuo não será acentuado a ponto de fazer com que os valores voltem aos patamares anteriores ao início da pandemia. A avaliação é da coordenadora do curso de Graduação em Administração da FEA/USP e especialista em indústria automotiva, Adriana Marotti.
De acordo com ela, a retomada da produção e o aumento das vendas de novos gera uma tendência de reacomodação do mercado. Porém, a especialista explica que a venda do carro usado tende a crescer sempre que há restrições ao crédito e queda na renda. Ou seja, como está acontecendo agora. Além disso, os preços dos modelos novos continuam subindo.
Segundo a KBB, em agosto os preços dos zero-km tiveram alta média de 0,27% em relação a julho. No caso da linha 2023, o aumento foi ainda maior: 1,07%. No entanto, os preços da linha 2022 registraram queda média de 0,14% no mesmo mês.
Além disso, Marotti diz que as montadoras estão reduzindo a oferta dos chamados modelos populares. Segundo ela, a tendência de mais lançamentos de carros de maior valor, como os SUVs, por exemplo. Aliás, recentemente chegaram às lojas o Honda HR-V renovado e o inédito Fiat Fastback. “Esses fatores tendem a manter o mercado de usados aquecido”, afirma.
De acordo com a especialista, as locadoras também contribuem com o aumento da oferta de seminovos. “Essas empresas compram veículos zero-km com redução de IPI e isenção de ICMS. Depois, esses carros são vendidos no mercado de usados.” Marotti acrescenta que há uma tendência de crescimento do setor de locação. “Especialmente por causa de motoristas de aplicativos, esse mercado está aquecido”, afirma. Vale lembrar que, em geral, as locadoras renovam suas frotas, em média, uma vez por ano.
Seminovos
No caso dos seminovos, ou seja, com até três anos de uso, os preços recuaram em agosto. Segundo a KBB, a maior queda média, de 0,89%, foi registrada nos valores dos modelos feitos em 2021. Portanto, Marotti acredita que, se a tendência se consolidar, o segmento de usados deve crescer ainda mais.
Vale lembrar que o mercado de carro usado no Brasil é cerca de seis vezes maior que o do novo. Conforme a especialista, esses modelos têm vida relativamente longa no País. “Em média, passam pelas mãos de três ou quatro pessoas ao longo de 12 a 15 anos”, afirma. De acordo com dados da Fenabreve, em setembro 933.236 modelos usados trocaram de dono no País.