Ainda sem um detalhamento por parte do governo federal, o plano do carro popular não deve contemplar veículos importados, dentre eles alguns modelos considerados “nacionais”. São os casos, por exemplo, do Nissan Versa, que é feito no México, e do Fiat Cronos e do Peugeot 208, montados na Argentina. Estes são livres de taxa de importação, mas, por não serem feitos no País, deverão ter abatimento menor no IPI e no PIS/Cofins.
É que, de acordo com as regras do anúncio feito na semana passada por Geraldo Alckmin, vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, a volta do carro popular depende de alguns fatores. Para reduzir IPI e PIS/Cofins, em cortes que vão de 1,5% a 10,96%, precisa custar menos de R$ 120 mil, ter boa eficiência energética, bem como um alto índice da nacionalização. Ou seja, quanto mais peças feitas no Brasil, mais barato fica.
De acordo com o site Motor1 da Argentina, empresários do país vizinho estão preocupados com o impacto do decreto do carro popular. Alguns falam em “tapeação” por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Afinal, o pacote de incentivos afetará o Mercosul, bloco econômico de livre-comércio. “Uma das bases da fundação deste acordo foi salvar a indústria automobilística da Argentina e do Brasil”, recorda o site argentino.
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Opinião do especialista
Mas não é bem assim. Conforme explica Milad Kalume Neto, diretor de desenvolvimento de negócios da Jato do Brasil, ainda não dá para cravar o que vai acontecer. “É tudo suposição”, diz. Para ele – que se recusa a adotar o termo “carro popular”, e prefere “carro de entrada”, por causa dos valores ainda altos – há necessidade de esperar a publicação do decreto. Afinal, “(o decreto) pode, talvez, contemplar carros feitos no Mercosul”, pontua. Assim, há a possibilidade de que esses acordos entrem na versão final da Medida Provisória.
Questionado sobre a possibilidade de o Brasil passar a produzir peças de determinados modelos no País a fim de aumentar a nacionalização, Neto vê como algo impossível. “A medida vai durar 3 ou 4 meses. É pouco tempo para gerar tanto impacto”, pontua.
Desse modo, mesmo com imposto zero de importação – conforme determina o acordo entre Brasil e Argentina -, caso o decreto siga as diretrizes apresentadas ao pé da letra, Fiat Cronos e Peugeot 208, por exemplo, ficarão em desvantagem. Ambos custam abaixo do teto sugerido e têm bom índice de emissões. Mas são feitos na Argentina.
Assim, para fazer com que a dupla continue competitiva, a Stellantis (detentora de Fiat e Peugeot) tem duas opções: torcer por modificações no decreto ou mexer em conteúdo dos carros a fim de barateá-los. O lado B da história é que essa indefinição “fez o mercado parar”, conforme publicou o Estadão. “Quem está antenado nos últimos acontecimentos do setor prefere esperar (os preços baixarem). Resta aguardar e acompanhar as definições”, finaliza.
Onix Plus ou Logan como o sedã mais barato do mercado?
Pode ser que o Fiat Cronos, que parte de R$ 84.790, perca o posto de sedã mais barato do Brasil. O Chevrolet Onix Plus, por exemplo, começa em R$ 96.390, mas pode se beneficiar do desconto máximo de 10,96% e cair para R$ 85.826. Assim, se a GM der mais um “empurrãozinho”, pode torná-lo o sedã mais em conta do mercado. Já o Logan nem precisaria de medidas da Renault, já que só o desconto máximo já baixaria seu preço dos atuais R$ 89.560 para R$ 79.744.