Há alguns meses, a GM anunciou que deixaria de usar gradativamente a conectividade com Apple CarPlay e Android Auto em seus veículos elétricos. Esses sistemas de espelhamento da tela do celular são muito populares entre os consumidores de carros novos e usados. Assim, ficaram dúvidas se esse seria o melhor caminho a seguir. Agora, a montadora deu mais explicações para tomar essa decisão.
Apesar de algumas declarações iniciais terem sido básicas, a justificativa não havia sido comunicada de forma clara. Mas Tim Babbitt, chefe de produto para infotenimento da GM, declarou ao site MotorTrend que a grande questão para o banimento das tecnologias é por conta da segurança.
GM alega falha dos programas
De acordo com o executivo, são muitas as distrações por conta do uso do celular ao volante. Isso porque tanto o Apple Carplay quanto o Android Auto têm problemas de instabilidade, gráficos pobres, respostas lentas e conexões que caem com frequência. E quando essas falhas acontecem, o motorista costuma pegar o telefone novamente. Dessa forma, tira os olhos da estrada e inutiliza os propósitos desses programas. Resolver esses problemas fogem do controle das montadoras, por isso a frustração da GM.
A tese de Babbitt é de que se os motoristas conseguissem acessar seus dados pelos programas nativos do veículo, não pegariam tanto seus telefones. Portanto, se distrairiam menos e ficariam mais seguros atrás do volante. Ele admite, contudo, que a GM não testou essa tese em laboratório ou no mundo real. Mas acredita que ela tem potencial, caso os consumidores embarquem na ideia.
Novo software
Para sanar essa questão, a GM desenvolveu o software Ultifi, que integra aplicativos do Google como Maps, além de outros apps populares, como Spotify. É por conta desses recursos, por exemplo, que os consumidores consideram importante ter um dos dois sistemas em seus carros.
Mas o ponto principal dessa estratégia é o Google Assistant. Ele pode não só atender chamadas e responder mensagens de texto pelo pareamento do celular via Bluetooth, como também controlar o sistema de som, a navegação, o ar-condicionado, entre outras coisas. Desse modo, o motorista consegue acessar tudo o que precisa sem tirar as mão do volante e os olhos do trânsito.
Mesmo que as capacidades de Apple CarPlay e Android Auto tenham evoluído ao longo dos últimos anos, ambos não têm acesso à maioria desses sistemas. Com isso, a GM pretende comprovar que seu Ultifi é mais vantajoso. Isso porque quando encontram problemas de conexão, os consumidores costumam culpar a montadora, e não a fabricante do telefone. Ou seja, eliminar a possibilidade de espelhamento será uma forma de evitar reclamações dos clientes no futuro.
Coleta de dados e serviços por assinatura
Apesar de a estratégia parecer razoável, não se trata apenas de simples altruísmo. Montadoras em todo o mundo discutem há anos com a Apple e a Google sobre acesso, controle e propriedade dos dados gerados no veículo. Independentemente do software que o motorista usa, quantidades enormes de dados são coletados sobre como ele dirige, onde vai, quais aplicativos acessa etc. Essas informações são valiosas para as fabricantes e para as empresas de tecnologia como fonte de pesquisa e até para serem vendidas para outras companhias.
Além disso, os softwares próprios permitirão que as montadoras tenham eventualmente uma nova fonte de renda. Já existem aplicativos, embora ainda não muito populares, que permitem que o usuário gaste dinheiro pela central multimídia do veículo. Seja para pagar pela gasolina ou pelo lanche no drive-thru, por exemplo. Dessa forma, é possível fazer parcerias com esses comércios. A GM também procura oferecer serviços de assinatura por meio dessa mesma interface. Essa é uma grande aposta das montadoras para o futuro como uma fonte lucrativa. De acordo com projeto da própria GM, a expectativa é arrecadar US$ 25 bilhões por ano apenas com serviços por assinatura.
A montadora, aliás, já tem um dos serviços mais antigos por assinatura, o OnStar. A ideia é criar planos de expansão para novos modelos que estão chegando. A Blazer EV (que será vendida no Brasil), além de outros carros elétricos, já virão sem a conectividade com Apple CarPlay e Android Auto. No lugar, terão o sistema baseado no Google com o Maps e o Google Assistant de graça por oito anos. Entretanto, após esse período, deverão pagar para poder usar os recursos.
Siga o Jornal do Carro no Instagram!