A rápida ascensão da BYD nas vendas de carros elétricos é um fenômeno global. A chinesa vem tirando o sono de executivos de marcas tradicionais na Europa e já superou a poderosa Tesla, de Elon Musk, mesmo sem (ainda) atuar nos Estados Unidos. No Brasil, o cenário é igual. A montadora vem quebrando recordes com o Dolphin e já vai lançar o Dolphin Mini, novo elétrico que custará próximo de R$ 100 mil. E há outro modelo em alta: o Seal.
Para quem achava que os chineses não conseguiriam construir carros de alto nível, o sedã elétrico lançado no fim de 2023 impressiona. O visual, por exemplo, é muito interessante. O BYD Seal atrai olhares. Aliás, o modelo foi até confundido com esportivo da Porsche, a despeito do desenho autoral. Isso se deve principalmente às formas abauladas e orgânicas, bem como ao estilo cupê, que confere linhas aerodinâmicas.
BYD Seal é mais barato que Série 3 e mais potente que 718 Cayman
Disponível em versão única por R$ 296.800, o BYD Seal não é nada barato. Porém, nesta faixa de preço, não há outro modelo que se aproxime do chinês em desempenho. O sedã a bateria tem tração integral e 531 cv de potência máxima. Há dois motores elétricos, um no eixo dianteiro, com 218 cv, e outro no eixo traseiro, que gera 313 cv. E o torque máximo combinado chega a 68,3 mkgf. Assim, a aceleração de 0 a 100 km/h leva 3,8 segundos.
Para dimensionar, o BMW Série 3, sedã de luxo mais emplacado do Brasil, traz motor 2.0 turboflex de 184 cv e 30,6 mkgf e câmbio automático de 8 marchas, com 0-100 km/h em 7,1 segundos. O modelo custa a partir de R$ 322.950 na versão 320i GP. Já o Porsche 718 Cayman tem tabela inicial de R$ 535 mil e motor boxer 2.0 turbo de 300 cv e 38,7 mkgf. Com câmbio automatizado de dupla embreagem e tração traseira, faz 0 a 100 km/h em 4,9 segundos.
Ao volante, esse poder de aceleração do BYD Seal é visceral. Com o torque entregue de forma imediata, o sedã acelera muito rápido a ponto de dar frio na barriga. No modo Sport, o corpo é pressionado contra os assentos – os dianteiros são do tipo concha, com ajustes elétricos. E, mesmo no modo Eco, as respostas são poderosas. Ao mesmo tempo, o centro de gravidade baixo e as linhas fluidas conferem ótimo equilíbrio ao sedã.
Seal é elegante e capricha no conforto e nas tecnologias
Mas apesar de desempenho, o BYD Seal não é um esportivo. O modelo é voltado ao conforto e isso é reforçado por seu rodar macio. Portanto, o chinês não tem tocada de cupê alemão. Mas tem um excelente sistema de freios a disco nas quatro rodas. E uma bateria de 82,5 kWh que fornece autonomia de 372 km, segundo o Inmetro. Por isso, durante a avaliação, nem foi necessário recarregar. Rodamos cerca de 230 km com o sedã.
A bordo, o Seal surpreende pelo requinte. O acabamento não chega a ser luxuoso como em um Porsche, mas o capricho nos materiais e no arremate agradam. Por exemplo, há partes do painel forradas com camurça, outras com couro liso com costuras pespontadas. Há também algumas partes de plástico rígido, como o console flutuante entre os bancos. Nele, o destaque é o joystick do câmbio, pequeno e envolvido com uma resina que parece cristal.
Ali ficam os únicos comandos físicos do carro, como o botão de partida, o freio de estacionamento, ajustes do som e o seletor dos modos de condução. Todas as demais funções são operadas pelos botões no volante ou pelo multimídia, que tem uma tela giratória de 15,6 polegadas. Além de grande, o display responde rápido aos comandos e é cheio de recursos. Só faltou a conexão sem fio com Apple iPhone. Ativar o Carplay exige cabo USB.
Sedã raspa em lombadas e rampas, e é enorme por dentro
No mais, chama a atenção o espaço a bordo. O sedã tem nada menos que 2,92 metros de distância entre-eixos, o que resulta em um enorme espaço para pernas na frente e atrás. Além disso, o porta-malas leva 400 litros e o compartimento é todo revestido, como nos carros premium. Por fim, o sistema de som da Dynaudio, fabricante dinamarquesa, tem 12 alto-falantes e subwoofer, e o ar-condicionado tem paletas que se movem como no modelo Split.
Vale a compra?
A resposta está vindo nos números. Em janeiro, o BYD Seal somou 612 emplacamentos e foi o terceiro carro elétrico mais vendido do País. No ranking, ficou atrás apenas do fenômeno Dolphin e do rival, o GWM Ora 03. Mais que isso, o Seal já aparece atrás apenas do Toyota Corolla entre os sedãs mais vendidos de 2023. Um feito e tanto para um modelo que acabou de chegar. E que mostra o potencial dos carros a bateria no mercado brasileiro.
É claro que ainda há uma série de questões que envolvem a compra de um modelo do tipo. Há, por exemplo, a necessidade de se ter um carregador de parede em casa, afinal, recarregar a bateria do Seal vai exigir tempo. Em carregadores rápidos de corrente direta e 150 kW, o sedã recupera 80% da energia em cerca de 30 minutos. Mas no Wallbox residencial, em corrente alternada e até 11 kW, o tem de recarga pode levar em torno de 8 horas.
Seja como for, o BYD Seal excede expectativas no desempenho e na autonomia. Quem roda 50 km por dia vai recarregar o carro uma ou duas vezes por semana. E a um custo várias vezes menor que o da gasolina. Além disso, entrega requinte, capricho e alta tecnologia. Há radares e sensores de última geração, assistentes semiautônomos, câmera de visão 360º e dois carregadores de celular por indução. E por um preço bem competitivo.
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