Imagine a cena: na largada de uma corrida, metade do grid parte em um sentido da pista, enquanto a outra metade arranca para o lado oposto. Quando se encontrarem, os carros – sem nenhum ser humano no controle – deverão conversar entre si. E decidir a trajetória que cada um seguirá para não bater, a 300 km/h.
O cenário parece impensável. Mas é uma das opções vislumbradas pelo piloto brasileiro Lucas Di Grassi, capaz de enxergar um futuro em que sua profissão sobreviverá apenas como hobby.
Di Grassi, campeão mundial da Fórmula E, de carros elétricos, é CEO da Roborace, uma corrida que deverá reunir carros autônomos. “O piloto ainda é mais rápido do que a máquina hoje em dia, mas com o tempo a máquina vai ganhar”, ele garante.
Para sustentar sua tese, ele cita o computador Deep Blue, que em 1997 ganhou do campeão mundial de xadrez Garry Kasparov. Ou, ainda, máquinas que conseguem superar os melhores jogadores de pôquer do mundo.
A Roborace é uma categoria que tem dois tipos de carros. Um deles pode ser conduzido por seres humanos. Denominado Devbot (development robot, ou robô de desenvolvimento), tem uma bolha fechada, e é utilizado para experiências. A primeira parte da corrida é feita com pilotos.
Só que, em um determinado ponto da competição, em vez da usual troca de pilotos, quem está ao volante sai e o carro continua sozinho.
Robocar: apenas máquinas no comando
Já o Robocar não tem posto de pilotagem. O modelo foi concebido por Daniel Simon. Designer alemão com passagem pelo grupo Volkswagen, ele atualmente desenvolve projetos para a Disney, Marvel e Universal. Entre seus trabalhos estão máquinas que aparecem em filmes como Oblivion, Capitão América e Tron.
O Robocar é totalmente autônomo e mede 4,8 metros de comprimento por 2 m de largura. Como no Devbot, a propulsão é elétrica. São quatro motores de 250 cv cada, um em cada roda. O torque chega a 122 mkgf.
Com baterias instaladas no assoalho e estrutura de fibra de carbono, o modelo pesa 1.000 kg, o que resulta em relação peso-potência de 1 kg/cv. De acordo com a Roborace, o carro pode alcançar 322 km/h de máxima.
A escolha da trajetória é decidida com base nas informações captadas por GPS, seis câmeras, cinco rastreadores a laser, dois radares e 15 sensores de ultrassom espalhados pelo carro, que coletam dados, processam as informações e “decidem” o que fazer. Isso inclui determinar a velocidade em cada ponto da pista, ângulo de esterçamento do volante, pressão de frenagem, desvios de trajetória, etc.
A ideia é que o carro seja o mesmo para todas as equipes. A programação, no entanto, ficaria a cargo de cada time.
O Devbot já fez demonstrações durante as etapas da Fórmula E. Quando o Robocar estiver pronto e competitivo, as competições com pilotos deverão perder o sentido. “Nós podemos correr para saber quem é o mais rápido entre nós dois, mas não dá para ganhar da máquina”, finaliza.
A tecnologia ganha; a emoção perde.