Blog do Boris

Mobileye: de olho no motorista distraído

Estamos a décadas do veículo autônomo, mas já podemos usar sua tecnologia para reduzir acidentes de trânsito

Boris Feldman

22 de jul, 2019 · 6 minutos de leitura.

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LeBron James em um carro autônomo: tecnologia já chegou às ruas, mas ainda precisa evoluir
Crédito: Crédito: Intel/Divulgação

Carro autônomo? Pode ser, mas o Brasil está lá atrás na fila de países aptos a recebê-lo. Aliás, numa lista elaborada pela KPMG, empresa de consultoria, ele se classificou em 17º lugar em 2017. E baixou para 25º país em 2018.  Piorou ao invés de melhorar!

Entrevistei Ernesto Pesochinsky, da Mobileye, empresa israelense que lidera o desenvolvimento mundial de tecnologia para sistemas de assistência ao motorista e direção autônoma.

Ele divide a tecnologia do carro autônomo em três pilares:

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  1. Equipamentos como sensores, câmeras e radares que situam o carro,  “enxergam” o caminho à frente e em sua periferia;
  2. Os mapas e a sinalização física de ruas e estradas;
  3. A inteligência artificial, que toma decisões como um ser humano.

O primeiro deles, de situar um automóvel não é complicado: sistemas como Waze ou outros GPS são capazes de localizá-lo geograficamente. Entretanto, o nível de precisão exigido pela direção autônoma é muito mais rigoroso e não admite a mesma tolerância do Waze, por exemplo.

Nenhum problema nem perigo de acidente se o Waze identifica a posição de um carro com erro de um metro. Mas, no caso dos sistemas desenvolvidos para a autonomia veicular, a tolerância é de 10 cm no máximo. Dois carros numa mesma rua em sentido inverso poderiam se chocar frontalmente ao se cruzarem se estiverem ambos deslocados um metro para o mesmo lado em relação à sua posição ideal.

O segundo pilar exige não somente mapas detalhados de todas as cidades e estradas de cada país, mas também uma perfeita sinalização horizontal e vertical. A primeira é, por exemplo, a pintura de faixas muito bem definidas nas estradas para orientar corretamente os sensores.  A vertical é que indica, por exemplo, a velocidade máxima permitida ou a existência de obstáculos à frente.


O terceiro pilar é o “cérebro” do carro autônomo, responsável por acionar seus comandos, repetindo exatamente (e com maior precisão) as atitudes tomadas pelo motorista ao volante. É o sistema mais complexo tecnologicamente e a quem cabe decisões simples como virar o volante numa curva ou complicada de perceber se uma pessoa parada numa esquina vai (ou não) atravessar a rua.

Carro autônomo nas ruas: desafios

Apesar dos bilhões de dólares investidos no desenvolvimento desta tecnologia, sua adoção ainda enfrenta questões cruciais. Ernesto cita os acidentes:  “Só no Brasil morrem hoje, no mínimo, 50 mil pessoas por ano em acidentes com automóveis. Mas quantos seriam aceitos com os veículos autônomos?”

E, também, o perigo de ataque dos hackers, pois os autônomos são conectados à internet. E também a responsabilidade dos eventuais acidentes: de quem fabrica o carro ou dos responsáveis pelos equipamentos de assistência à direção? E o desemprego gerado pelos autônomos?


Preocupações ainda distantes da nossa realidade pois, segundo Ernesto, nossa malha rodoviária é precária, com poucas exceções. Seu ponto mais crítico é a sinalização quase inexistente, tanto a horizontal como a vertical. Mas ele enfatiza que a Mobileye desenvolve equipamentos essenciais para a segurança veicular e que já estão presentes em diversos modelos que rodam no Brasil, nacionais e importados.

Claro que a autonomia veicular é seu principal produto mas ela oferece também dispositivos avulsos para equipar o veículo na linha de montagem ou depois dela. O campeão de vendas é o que alerta o motorista para um choque iminente quando o carro se aproxima perigosamente de outro que vai à frente. Ou do pedestre cruzando a pista. Tem também o que aciona o alarme para o motorista distraído (ou sonolento) se o carro estiver invadindo outra faixa (na mesma pista) ou, pior ainda, se desviar para pista contrária.

Alguns destes sistemas são tão importantes para a segurança veicular que já foram tornados obrigatórios em outros países. Mas no Brasil, infelizmente, a preocupação atual é eliminar radares, aumentar a tolerância de pontos no prontuário e desconsiderar as multas pela falta de cadeirinhas.


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Oficina Mobilidade

Sistemas de assistência do carro podem apresentar falhas

Autodiagnóstico geralmente ajuda a solucionar um problema, mas condutor precisa estar atento

22 de abr, 2024 · 2 minutos de leitura.

Os veículos modernos mais caros estão repletos de facilidades para a vida do motorista e, dependendo do nível, podem até ser considerados semiautônomos. Câmeras, sensores, radares e softwares avançados permitem que eles executem uma série de funções sem a intervenção do condutor.

As tecnologias incluem controlador de velocidade que monitora o carro à frente e mantém a velocidade, assistente para deixar o veículo entre as faixas de rolagem, detectores de pontos cegos e até sistemas que estacionam o automóvel, calculando o tamanho da vaga e movimentando volante, freio e acelerador para uma baliza perfeita.

Tais sistemas são chamados de Adas, sigla em inglês de sistemas avançados de assistência ao motorista. São vários níveis de funcionamento presentes em boa parte dos veículos premium disponíveis no mercado. Esses recursos, no entanto, não estão livres de falhas e podem custar caro para o proprietário se o carro estiver fora da garantia.

“Os defeitos mais comuns dos sistemas de assistência ao motorista estão relacionados ao funcionamento dos sensores e às limitações do sistema ao interpretar o ambiente”, explica André Mendes, professor de Engenharia Mecânica da Fundação Educacional Inaciana (FEI). 

Recalibragem necessária

O professor explica que o motorista precisa manter sempre os sensores limpos e calibrados. “O software embarcado deve estar atualizado, e a manutenção mecânica e elétrica, ser realizada conforme recomendações do fabricante”, recomenda.

Alguns sistemas conseguem fazer um autodiagnóstico assim que o carro é ligado, ou seja, eventuais avarias são avisadas ao motorista por meio de mensagens no painel. As oficinas especializadas e as concessionárias também podem encontrar falhas ao escanear o veículo. Como esses sistemas são todos interligados, os defeitos serão informados pela central eletrônica.

A recalibragem é necessária sempre que houver a troca de um desses dispositivos, como sensores e radares. Vale também ficar atento ao uso de peças por razões estéticas, como a das rodas originais por outras de aro maior. É prudente levar o carro a uma oficina especializada para fazer a checagem.

Condução atenta

A forma de dirigir também pode piorar o funcionamento dos sensores, causando acidentes. É muito comum, por exemplo, o motorista ligar o piloto automático adaptativo e se distrair ao volante. Caso a frenagem automática não funcione por qualquer motivo, ele precisará agir rapidamente para evitar uma batida ou atropelamento.

Então, é fundamental usar o equipamento com responsabilidade, mantendo sempre os olhos na via, prestando atenção à ação dos outros motoristas. A maioria dos carros possui sensores no volante e desabilita o Adas se “perceber” que o condutor não está segurando a direção.

A desativação ocorre em quase todos os modelos se o assistente de faixa de rolagem precisar agir continuamente, sinal de que o motorista está distraído. Alguns carros, ao “perceber” a ausência do condutor, param no acostamento e acionam o sistema de emergência. “O usuário deve conhecer os limites do sistema e guiar o veículo de forma cautelosa, dentro desses limites”, diz Mendes.