A Renault está completando 25 anos de Brasil. Mais precisamente, o primeiro protótipo saiu das linhas de produção da planta de São José dos Pinhais (PR) em abril de 1998. Trata-se do Megane Scenic, monovolume que nasceu na França em 1996 e estreou no mercado brasileiro em março de 1999. Nisso, abriu caminho para que outras montadoras apostassem no segmento. O modelo saiu de linha em julho de 2010, após 12 anos de produção.
Em comemoração à data de chegada ao País, a fabricante disponibilizou a primeira unidade do Scenic para a imprensa especializada. Para-choques pretos, calotas e câmbio manual eram comuns na época. Algo impensável hoje em dia, afinal, estamos falando de um carro de nicho.
Curioso é que, mesmo pertencendo a um segmento inédito no País, a minivan chegou fazendo sucesso. Só no primeiro ano de vendas, emplacou 33 mil unidades no mercado nacional. E mais de 142 mil unidades ao longo dos seus 12 anos.
Nesse meio-tempo, entretanto, teve diferentes versões e conjuntos mecânicos. Inclusive, em 2004 (quando se tornou flex) ganhou a versão Sportway, com visual aventureiro incrementado por rodas diferenciadas e rack de teto, entre outros acessórios.
Detalhes do carro
Feito na plataforma do Megane, o Scenic compartilhava vários componentes com o hatch e o sedã (que também foram vendidos no Brasil). Por isso, dá para notar a forte semelhança logo de cara, principalmente nos faróis, grade e para-choque.
Nas laterais, um ponto que chama a atenção é o para-lamas de plástico injetado. A ideia da Renault visava reduzir danos em pequenas colisões, além de manutenção mais barata e, claro, economia de custos de produção. As rodas, de 15 polegadas, eram cobertas com calotas.
Atrás, como era bem comum na década de 1990, as lanternas têm acabamento fumê. Quem não se lembra dessa solução nos saudosos Chevrolet Kadett e Monza e até no Volkswagen Gol?
Na tampa do porta-malas, a inscrição tem nome e sobrenome. Afinal, apesar de ninguém usar, o monovolume adotava o prenome Megane.
Por falar em porta-malas, o compartimento abriga até 410 litros. E tem outras soluções como porta-objetos nas laterais e tampa removível. Dá para usá-la em dois níveis.
Soluções inovadoras
Apesar das medidas compactas na comparação com outros modelos da época, como Chrysler Caravan, por exemplo, o Scenic prezava pela família. E, para isso, inovou. O banco de trás é tripartido – dividido em três partes, um para cada ocupante – e totalmente customizável. Dá para correr pelos trilhos (a exemplo da solução Magic Seat, adotada posteriormente pela Honda) e até transformar o assento do meio em mesa. Sob os bancos, há um compartimento para pequenos objetos. Aliás, o carro tem mesinhas do tipo avião. Solução pensada pela engenharia da Renault brasileira e, depois, copiada lá fora.
O bom espaço, inclusive, é sentido também no banco do motorista. Mesmo sem regulagens para o volante, a ergonomia é ótima. Tem posição elevada, grande área envidraçada. Ponto para a Renault.
No painel, nada de soluções vistas hoje em dia, como telas digitais e acabamento black piano ou metal, por exemplo. Mas é tudo muito caprichado. É bem nostálgico entrar em um carro com disposição para som (usava-se CD Player), ar-condicionado analógico e regulagem manual de retrovisores externos. Entretanto, os vidros têm comando elétrico. O que não era muito comum no Brasil de 1999.
Motores e impressões
Debaixo do capô dianteiro, o primeiro Scenic produzido no País trazia o motor 2.0 de quatro cilindros e 8 válvulas, e capaz de gerar 115 cv de potência. Mas só bebe gasolina. Carro flex ainda não era realidade no início da produção.
O Jornal do Carro deu uma voltinha com o Scenic no local do evento – um resort no interior de São Paulo. Mesmo em um breve contato (o carro não pode trafegar em vias públicas, porque não é emplacado), a nostalgia foi imensa. A suspensão é rígida na medida certa. E a direção, numa época com carros de volante extremamente duros, o Scenic oferecia assistência elétrica. Uma mão na roda.
Outra característica comum na década de 1990, mas que já não cabe hoje em dia, é a oferta de câmbio manual. Tem cinco marchas e engates bem longos, principalmente na primeira marcha. Contudo, vale para matar a saudade. E recordar que os modelos com câmbio automático (quatro marchas) chegaram a partir de 2001, com a reestilização do carro – que ganhou também opção de motor 2.0 16V.
Pela ficha técnica, o carro tem 115 cv e 17,5 mkgf. Mas o torque aparece a 4.250 rpm. Por isso, não é tão ágil nas acelerações. Compreensível, afinal, não dá para esperar desempenho de esportivo em um modelo voltado para a família.
Passagem de bastão
Conforme o tempo passou, o brasileiro se encantou com outro tipo de carro. Os SUVs, que invadiram o mercado nacional a partir do começo da década de 2000. Por isso, o Scenic não resistiu e, com vendas em queda, saiu de cena.
Agora, 25 anos depois, outra história, mas o mesmo nome. Em pleno 2023, o nome Megane está de volta e 100% elétrico. A montadora exibiu o modelo por aqui em 2022 e agora bateu o martelo. Vai lançar o Megane E-Tech ao Brasil no segundo semestre. A marca ainda não disse a data e tampouco deu uma estimativa de preços. Entretanto, especula-se que custe em torno de R$ 300 mil. Deve concorrer com Chevrolet Bolt, Nissan Leaf e cia.
A Renault já vende o carro na Europa. Lá, tem duas versões. Aqui, mantém segredo, mas deve vender a configuração mais completa. Nela, o motor elétrico gera 220 cv e 30,6 mkgf de torque. E o hatch acelera de zero a 100 km/h em 7 segundos. Detalhes sobre o comportamento do modelo, só em alguns meses. Isso porque não pudemos acelerar o SUV elétrico.
De acordo com a marca, a autonomia pode superar 450 km com apenas uma carga. Tudo isso, evidentemente, vai depender de vários fatores, como a qualidade da pista, o pé do motorista, o clima, e por aí vai. Sobre o carregamento, em estações de carga rápida em corrente direta (DC), dá pra recuperar 100 km em apenas oito minutos. O Megane E-Tech tem, ainda, sistema de frenagem regenerativa com quatro níveis de atuação.
Visual
Em relação ao estilo, o Megane E-Tech adotou a filosofia “sensual tech”, com um toque esportivo. Dá pra notar pelo formato agressivo dos faróis e para-choque, bem como pelas rodas de 20″ com belíssimo design. Tem maçanetas embutidas nas portas da frente e atrás os puxadores ficam escondidos na coluna dos vidros. Destaque também para as lanternas bem finas, que atravessam a tampa do porta-malas e formam um conjunto único.
Em medidas, são 4,21 metros de comprimento e 2,70 metros de entre-eixos. No porta-malas, cabem 440 litros. Já na parte de dentro, bom espaço para quatro pessoas – talvez o passageiro central traseiro fique um pouco apertado. Para o motorista, boa ergonomia.
O acabamento é caprichado. Mescla suede, tecido e couro. Além disso, tem iluminação ambiente e telas digitais. O quadro de instrumentos tem 12,3″ e o multimídia, 12″.
E já que estamos falando de carro sustentável, todos os revestimentos têxteis são produzidos a partir de materiais reciclados, o que pode equivaler a até 2,2 kg no total, conforme a versão. “Vários componentes visíveis (parte inferior do cockpit) e não visíveis (estrutura do painel) são produzidos com plásticos reciclados, totalizando 27,2 kg. No fim do ciclo de vida, 95% do veículo poderá ser reciclado”, anuncia a Renault.