O 718 Cayman GT4 RS consegue ser ainda mais instigante que os outros exemplares da Porsche. Em um campo dominado pela esportividade, e sob pesada concorrência, a marca alemã consegue destaque seja pelas opções que disponibiliza à clientela ou mesmo no coração dos entusiastas. E, agora, a fabricante veio com mais essa carta na manga. O preço é salgado: R$ 1.157.000. Mas há quem pague. E as primeiras entregas já começam neste trimestre.
O grande chamariz para justificar esse valor milionário vem das mudanças evolutivas na comparação com o 718 Cayman GT4 (veja vídeo). Este tem tabela de R$ 798.000.
Pois bem, para ver isso de perto, o Jornal do Carro foi pilotar o bólido no autódromo Velocittà, em Mogi Guaçu (SP). Lá, uma fileira de esportivos da Porsche esperava por nós. Entre eles, o sedã elétrico Taycan, o híbrido Panamera Turbo S E-Hybrid e até os bólidos cobiçados, como o 911 GT3 RS, por exemplo. O test drive faz parte do Porsche World Road Show, evento anual que roda o mundo e mira potenciais clientes. E a estrela desta edição é o 718 Cayman GT4 RS.
O encontro
A nova versão do cupê exala esportividade por todos os ângulos. O exemplar que aceleramos tinha pintura na cor Cinza Ártico (são 115 tons disponíveis na paleta) e um pacote estético de encher os olhos, com materiais leves para reduzir o peso, que totaliza 1.415 kg.
De acordo com a Porsche, esse peso foi obtido com alguns truques, como o uso de plástico reforçado com fibra de carbono no capô e nos para-lamas dianteiros, janela traseira com vidro mais leve, material de isolamento reduzido e rodas de liga de alumínio de 20″, por exemplo.
A pressa de entrar no carro é grande. Mas, antes, vale conferir a traseira do 718 Cayman GT4 RS. Ali, destaque para a enorme asa traseira, também de fibra de carbono. O componente tem fixação do tipo pescoço de cisne. Dessa forma, melhora o fluxo de ar e aumenta a pressão aerodinâmica em alta velocidade.
O que também não passa despercebido é a dupla saída de escape, que pode ser de titânio com um pacote opcional, mas sem custo. Com essa peça, o esportivo produz um ronco alto e grave quando se afunda o pedal acelerador. Soa como música – e bem de perto, já que as duas entradas de ar nos vidros laterais deixam o barulho entrar na cabine.
Motor boxer de 500 cv
O 718 Cayman GT4 RS é o mais poderoso da gama. Ele traz o motor boxer 4.0 de 6 cilindros opostos e naturalmente aspirado – trata-se do mesmo motor 911 GT3 Cup de corrida. Em comparação com o 718 Cayman GT4, tem 80 cv a mais de potência. Assim, alcança os 500 cv máximos e entrega uma relação peso/potência baixinha de 2,83 kg/cv.
Motor ligado (com partida à direita, como em todo Porsche), colocamos o câmbio de dupla embreagem PDK e 7 marchas em “Drive” e começa a diversão. O piloto do carro madrinha recomenda deixar o câmbio na posição “D”, mas com o modo Sport ativo.
A primeira volta, como de praxe, é para o reconhecimento da pista. Nessa hora, não tem como deixar de focar no torque de 45,9 mkgf a 6.750 rpm. O cupê tem suspensão dianteira do tipo McPherson, que pode ser ajustada de acordo com a preferência do motorista. Ela é 30 milímetros mais baixa que no 718 Cayman GT4 “regular”.
Aceleração e velocidade máxima
A força extraída do motor resulta em aceleração de 0 a 100 km/h em 3,4 segundos e velocidade final de 315 km/h. Ao fim da reta, na primeira volta, o velocímetro beliscava os 200 km/h. Na segunda volta, foi daí para mais. Nas curvas, as trocas sequenciais com as borboletas no volante acentuam a experiência em pista no esportivo.
Moderno, mas retrô
O carro tem vários outros recursos, como o aplicativo Porsche Track Precision, por exemplo. Nele, dá para exibir os dados gravados do veículo no smartphone, bem como cronometrar voltas e até transformar o carro no seu copiloto por meio do Porsche Connect. Contudo, se por um lado é tão moderno, por outro, preserva a tradição, com puxadores em forma de alça e, como não notar, o clássico relógio analógico no topo do painel.
Na pista, por alguns momentos, o 718 Cayman GT4 RS faz valer a proposta e o motorista se sente como em um carro de corrida. O condutor é abraçado pelo banco em formato concha com cinto de 6 pontos (item opcional). Os dois assentos também são feitos de fibra de carbono, para diminuir o peso. Atrás, o cupê tem uma gaiola tubular de proteção.
Deixa a desejar em algo?
O carro não tem regulagem elétrica de profundidade nos bancos dianteiros, só de altura. Este, aliás, é comandado por um interruptor que parece aqueles de comandos dos vidros. Mas é fácil de usar e, importante, perto de onde a mão alcança.
Isso, entretanto, não é um problema. Não dá para reclamar de um carro que tem acabamento quase todo feito com couro Alcantara (inclusive no painel). A tela central de 7″ e o ar-condicionado estão ali, mas chama a atenção o volante sem comandos.
Por fim, o Porsche 718 Cayman GT4 RS não tem quadro de instrumentos digital e cheio de funções e gráficos. Ele traz três mostradores analógicos, ou seja, o básico para o motorista na pista. Da mesma forma, mesmo com 77 opcionais disponíveis, não oferece Head-Up Display, por exemplo.
Mas isso é tudo bobagem. Não dá para condenar um carro tão comprometido em oferecer o máximo em esportividade. O modelo entrega o suficiente para o uso diário. Afinal, a Porsche quer clientes de “track day” e outros mais tradicionais, que não levam o esportivo para a pista. Como eu não sou um desses clientes, precisei voltar para os boxes após três voltas e pisar no freio, que têm discos de 408 mm e entradas de ar no capô para auxiliar no resfriamento.