Notei vários olhares curiosos assim que saí para dar minha primeira volta no ID.4. “Não parece um Volkswagen“, disse um dos rapazes da segurança, que controlam a entrada de veículos no prédio do Estadão, em São Paulo. Pois o SUV é mesmo muito diferente dos demais modelos da marca alemã disponíveis no Brasil. Aliás, dá para afirmar que o ID.4 é o VW mais diferentão que você verá rodando nas ruas brasileiras.
Mas não será tão fácil assim encontrar um exemplar do SUV elétrico por aí. Isso porque, por enquanto, o Volkswagen ID.4 chega disponível apenas por assinatura, no programa Sign and Drive. E com uma mensalidade a partir de R$ 9.990, ou seja, preço de carro de luxo. Por essa razão, no balanço de vendas de elétricos em julho, o modelo aparece com 50 unidades, enquanto o Volvo XC40, com preço a partir de R$ 329.950, teve 106 emplacamentos.
Como é o Volkswagen ID.4 Pro
Para começar, o desenho do SUV não tem qualquer semelhança com outro VW à venda no País. A carroceria tem linhas abauladas e sinuosas. Essas formas mais redondas buscam reduzir o arrasto aerodinâmico, e, assim, aumentar a autonomia das baterias. É uma característica vista em todos os modelos da linha ID, como a Kombi elétrica ID.Buzz, que está confirmada no Brasil e também estreia agora no 2º semestre.
Da mesma forma, a cabine do ID.4 surpreende e impressiona pelo visual minimalista. Há poucos comandos e o motorista trabalha basicamente com foco nas duas telas do painel – um pequeno display de 5 polegadas e um multimídia central com tela de 10 polegadas. Os visores inclusive conversam entre si e permitem, por exemplo, colocar os dados de navegação (via Google Maps) no canto do quadro de instrumentos, para facilitar a leitura.
Uma vez a bordo, não é necessário “dar a partida no motor”. Ao abrir uma das portas e acessar a cabine, o Volkswagen ID.4 já está pronto para sair, com tudo ligado. A marca deixou um botão de liga/desliga no local que é feita a ignição nos carros flex, como o Polo Track e o T-Cross. Mas, na prática, o comando é descartável. Basta estar com a chave próxima do corpo e o SUV percebe até a sua chegada ou partida, ligando as luzes e/ou travando as portas.
Assim, basta acionar o seletor do câmbio, que fica acoplado à tela do quadro de instrumentos, logo atrás do volante. Com o seletor em posição “D”, o motorista já pode acelerar e seguir viagem. Há também o modo “B”, de recuperação de energia. Com ele, tem-se a condução “por um pedal”, ou seja, ao liberar pedal do acelerador, entra em ação o freio motor, e a energia produzida na frenagem é reenviada à bateria, poupando inclusive as pastilhas de freios.
ID.4 é silencioso e potente
Para quem acha que carro elétrico é sem graça, uma volta no Volkswagen ID.4 pode mudar esse conceito. O SUV é equipado com um motor elétrico instalado no eixo traseiro e capaz de gerar 204 cv de potência e um torque máximo (e imediato) de 31,6 mkgf. Ao pressionar pedal do acelerador (que tem o triângulo símbolo universal de “Play”), o SUV acelera rápido e impressiona pelo empuxe. Segundo a VW, a aceleração de zero a 100 km/h leva 8,5 segundos.
O número impressiona menos que o poder de aceleração. Entretanto, a bordo, o ID.4 é macio, agradável e silencioso. A suspensão mais alta de SUV ajuda nesse sentido, com um ajuste robusto e que permite passar sem problemas por lombadas e valetas. Para motorista e passageiro, um detalhe curioso: uma linha de LED rente ao para-brisa se acende para avisar que o carro está engrenado ou que há um obstáculo à frente.
Em movimento, logo se nota o centro de gravidade diferente por causa do pacote de baterias. Este tem capacidade líquida de 77 kWh, o suficiente para percorrer até 520 km no ciclo global WLTP. Ou 370 km no PBVE do Inmetro. Seja como for, a autonomia do SUV é robusta e pareceu suficiente para o dia-a-dia, inclusive sem a necessidade de carregamento diário para quem percorre distâncias entre 50 km e 100 km com alguma frequência.
Neste primeiro contato, avaliamos também a recarga em nossa estação de 22 kW de potência, dentro do Estadão. O tempo médio para encher até 80% da bateria do ID.4 foi de 3,5 horas a 4 horas. Ou seja, super tranquilo. Por quatro dias, rodamos cerca de 240 km e a carga não chegou a ficar abaixo de 70% em nenhum momento, com o painel indicando entre 380 km e 280 km de autonomia. Os carros elétricos normalmente induzem o motorista a dirigir de forma mais mansa e eficiente, mas, em nossa avaliação, aceleramos tal como em um carro flex ou diesel.
ID.4 é o presente e futuro da Volkswagen
Embora ainda seja um sonho distante para o brasileiro comum, o Volkswagen ID.4 ao menos mostra como são os carros elétricos da marca. E, portanto, como será (mais ou menos) o futuro elétrico de entrada da linha ID, que promete ter preço na faixa de R$ 100 mil. Não é o caso do SUV elétrico, que tem desempenho mais forte e muito recheio. Mas, no uso, mostra que a eletrificação da marca já aconteceu. Ela só está distante daqui.
Na versão Pro disponível por assinatura, o ID.4 recebe os passageiros com sofisticação. Há, por exemplo, ar-condicionado de três zonas com ajuste de temperatura independente para o banco traseiro, vasta forração em couro, com acabamento em três cores de acabamento, teto solar panorâmico e bancos dianteiros com ajustes elétricos, memórias e massageadores. Inclusive, o assento recua para facilitar o embarque e desembarque.
Com os 2,76 metros de distância entre-eixos e o assoalho plano que cobre a bateria, o espaço interno é excelente para pernas, bem como para cabeças (1,61 m). Some-se a isso o porta-malas com 543 litros de volume, e temos um SUV bastante agradável para viagens em família. Na frente, entre os assentos, há vários porta-copos, alguns modulares, uma vez que o câmbio fica junto do volante. São quatro entradas USB do tipo C e um carregador por indução.
Conclusão
O ID.4 mostra que a Volkswagen já está na disputa pelo mercado de carros elétricos. E com atributos técnicos para se destacar. Entretanto, no Brasil, a marca ainda se mostra reticente com a eletrificação, e fala mais em híbrido a etanol. O resultado disso é que a VW ainda não entrou para valer no segmento de veículos a baterias, em parte porque tem receio da infraestrutura de carregamento ainda modesta frustrar os clientes brasileiros.
Entretanto, é bom a alemã ficar esperta, porque os números de vendas de elétricos cresce acima das projeções. E as montadoras da China, que detém a tecnologia e a produção de baterias, estão avançando rapidamente e com produtos competitivos. Por exemplo, recentemente recebemos o SUV elétrico BYD Yuan Plus no Jornal do Carro, e o modelo, que tem dimensões próximas do ID.4, surpreendeu em muitos aspectos. E por um preço bem menor.
Ou seja, não bastará ao ID.4 ser um carro incrível. Este mercado está amadurecendo rapidamente, e o SUV elétrico da Volkswagen vai ter que se ajustar quando chegar às lojas, no varejo. De qualquer forma, ao volante, impressiona e se revela o mais diferente e divertido carro da marca. E também o mais tecnológico disponível no Brasil. Em resumo, o produto é excelente, agora a VW precisa melhorar e ampliar a oferta de elétricos. E rápido.
Siga o Jornal do Carro no Instagram!