A Caoa obteve parecer favorável à manutenção do contrato que garante o direito de importar com exclusividade e produzir veículos da Hyundai no Brasil por mais dez anos. A decisão foi proferida por um tribunal arbitral em Frankfurt, na Alemanha, indicado para mediar o contrato em caso de litígio. Segundo um alto executivo do Grupo Caoa, o resultado é muito positivo para as duas empresas. “Vamos consolidar a parceria que temos com a Hyundai há tanto tempo”, diz a fonte, que pediu para não ter o nome revelado. De acordo com ele, isso inclui a importação de novos carros da Hyundai para o Brasil. Bem como o desenvolvimento de tecnologias e a possibilidade da produção local de mais veículos da Hyundai.
Seja como for, a queda de braço entre a Caoa e a Hyundai começou em abril de 2018. O motivo da disputa foi o rompimento, pela Hyundai Motors, do contrato que garantia à empresa brasileira o direito de importar e fabricar veículos da sul-coreana por 20 anos. A cláusula 2.02 do contrato previa renovação automática ao fim dos dez primeiros anos. O prazo venceu no dia 30 de abril de 2018. Porém, em 12 de abril a Hyundai enviou carta à Caoa cancelando o acordo de forma unilateral.
O advogado Sérgio Bermudes, que representa a Caoa, disse à época que a Hyundai não havia apresentado nenhuma justificativa concreta pra romper o contrato. Segundo ele, a Hyundai propôs um novo prazo de validade para o acordo, de dois anos. De acordo com Bermudes, em entrevista ao Jornal do Carro em julho de 2018, a Hyundai havia percebido o potencial do mercado brasileiro e o trabalho que a Caoa fez no País.
Arbitragem prevista em contrato
Assim, no dia 27 de abril de 2018, Bermudes entrou com uma liminar na 2.ª Vara Empresarial de Conflitos e Arbitragem de São Paulo. Que foi acatada pela Justiça e garantiu a manutenção de todas as cláusulas do contrato original. Nesse interim, a Caoa solicitou que a arbitragem da disputa fosse feita por um tribunal de Frankfurt, conforme previsto no documento firmado com a Hyundai para casos de litígio.
Nesse sentido, para representa-la no tribunal arbitral, a Caoa indicou Gustavo Tepedino, ex-diretor da Faculdade de Direito da UERJ. Além disso, ele é do Grupo Latino-Americano de Arbitragem da Câmara de Comércio Internacional (CCI. Bem como do Comitê Brasileiro da CCI. Por sua vez, a Hyundai indicou o inglês John Beechey, ex-presidente da CCI e um dos árbitros mais famosos do mundo.
Portanto, a Caoa mantém no Brasil a exclusividade para importar veículos da Hyundai feitos na Coreia do Sul. Ou seja, modelos como o utilitário-esportivo Santa Fe e o sedã Elantra, entre outros. Além disso, a empresa brasileira fabrica os SUVs ix35 e Tucson na planta de Anápolis (GO). Bem como o caminhão HR.
Por sua vez, a Hyundai Motor Brasil (HMB), fabrica a linha HB20 (hatch e sedã) e o SUV compacto Creta. As duas famílias de veículos são produzidas na planta da empresa em Piracicaba, no interior de São Paulo.
Novos carros feitos pela Caoa
Com o resultado favorável à Caoa, a empresa vai tirar do papel os planos de produzir novos carros da Hyundai no Brasil. Os mais prováveis são são o Xcent e o Elantra. Segundo reportagem publicada pelo Jornal do Carro em julho de 2020.
O Xcent é um sedã de quatro portas menor que o Ka Sedan. O Hyundai tem 4 metros de comprimento, 1,66 m de largura e 2,43 m de distância entre os eixos. Na Coreia do Sul, o carrinho é oferecido com motor 1.0 de três cilindros a gasolina que gera potência de 83 cv e torque de 11,6 mkgf. O câmbio é manual de cinco marchas.
Se for mesmo feito no Brasil, o sedã será da nova geração, lançada na Ásia no ano passado. Para o mercado brasileiro, o modelo poderá ter o mesmo motor 1.0 da linha HB20. Ou seja, um três-cilindros flexível de até 80 cv.
Elantra pode ser aposta
O outro modelo que pode ser feito em Anápolis é o novo Elantra. O sedã médio, que já faz parte da linha 2021 da Hyundai, recebeu uma profunda atualização no início de 2020.
O Elantra tem novos visual, acabamento, tecnologias e mecânica. O sedã cresceu 5,5 cm e agora tem 4,67 metros de comprimento. O entre-eixos ganhou 2 cm e, com 2,72 m, ficou maior que o do Toyota Corolla, que tem 2,7 metros.
A dianteira recebeu uma enorme grade, faróis mais afilados e com uma linha de luzes de LEDs na parte superior. Em conjunto com o capô bem inclinado e com os para-choques com novo desenho, o sedã ficou com um aspecto moderno e esportivo.
Cabine caprichada
Atrás, há novas lanternas em formato de triângulo (foto abaixo). Uma linha em baixo relevo une as duas peças e cria um efeito visual inusitado e de grande destaque.
Na cabine, os novos instrumentos envolvem o motorista. O acabamento está mais caprichado e a central multimídia tem tela de 10,25 polegadas (mesma dimensão do quadro de instrumentos virtual) sensível ao toque. O sistema, compatível com Apple Carplay e Android Auto, pode conectar dois celulares simultaneamente.
Motor flexível
Ajuste do ar-condicionado por meio do smartphone, controles automáticos de velocidade de cruzeiro, de permanência em faixa de rolamento e de farol alto estão na lista de ites de série. Assim como sensor de ponto cego, câmeras na frente e atrás, navegador GPS, etc.
Nos Estados Unidos, o novo Hyundai tem opções com motor a combustão e híbrida. A primeira traz o 2.0 de quatro cilindros que gera 150 cv de potência e 18,5 mkgf de torque. O câmbio é automático do tipo CVT.
A versão híbrida traz motor 1.6 a gasolina de quatro cilindros e outro elétrico. A potência total é de 140 cv. O câmbio é automatizado de seis marchas e duas embreagens. De acordo com dados da marca, com um litro de gasolina essa configuração pode rodar mais de 20 km.
No Brasil, o Elantra não é oferecido desde o início de 2020. O sedã vinha da Coreia do Sul, tinha motor 2.0 flexível de 167 cv e câmbio automático de oito marchas. Se for mesmo produzido pela Caoa, o modelo deverá voltar a trazer a tecnologia bicombustível.
Caoa e Hyundai se uniram em 1999
A trajetória da Hyundai no Brasil se confunde com a história da Caoa. O nome do grupo é formado pelas iniciais de seu fundador, o médico paraibano Carlos Alberto de Oliveira Andrade. Tudo começou em 1979, quando ele comprou um Landau na concessionária Ford de Campina Grande (PB).
A loja faliu antes que ele recebesse o carro. Andrade então propôs ficar com a empresa como forma de compensação. E cerca de seis anos depois, a Caoa se tornou a maior revendedora Ford do Brasil.
Em 1992, com a reabertura dos portos, a Caoa passou a ser importadora oficial da Renault. A relação azedou em 1998. A empresa francesa decidiu construir uma fábrica no Paraná e encerrou a parceria com o grupo brasileiro. A Caoa processou a Renault. Mas até hoje não ficou claro se a empresa recebeu a indenização pleiteada na Justiça.
Sucesso do Tucson
No mesmo ano, a Caoa se tornou importadora oficial da japonesa Subaru. A parceria entre as duas empresas continua até hoje.
Depois de um período conturbado, marcado pelo precário pós venda e por veículos pouco expressivos, como o Excel e o Accent, em 1999 a marca Hyundai passou a ser importada oficialmente no Brasil pela Caoa. A grande virada ocorreu em 2004, com o lançamento do Tucson. Ele tinha conteúdo superior ao de rivais mais caros e até de segmentos superiores.
Além disso, a Caoa passou a oferecer cinco anos de garantia e investiu pesado em campanhas publicitárias. Baseada principalmente em anúncios em jornais. O SUV virou objeto de desejo dos brasileiros, suas vendas dispararam e logo o sul-coreano se tornou o modelo importado mais vendido do Brasil.
Produção em Goiás
A Caoa decidiu, então, construir uma fábrica em Anápolis (GO). A planta foi inaugurada em 2007 e um novo contrato assinado no ano seguinte. Ele manteve a exclusividade da Caoa para a importação dos carros da Hyundai, como o SUV Veracruz e o sedã Sonata. O Tucson passou a ser feito no País sob licença da Hyundai em 2010.
Na mesma época, executivos da sede na Coreia disseram que a Hyundai estava disposta a investir US$ 1 bilhão em uma fábrica no País. O grupo já vinha conversando com fabricantes de autopeças locais e recebeu proposta de terrenos e incentivos do governo do Rio de Janeiro.
Havia, porém, um imbróglio com o governo brasileiro. A Hyundai estava envolvida na ação de cobrança de uma dívida de R$ 1,6 bilhão da Asia Motors do Brasil. A empresa não construiu uma fábrica no País.
Fábrica da Hyundai no Brasil
Ou seja, essa era a contrapartida pela importação, nos anos 1990, de veículos com isenção fiscal. A Asia foi adquirida pela Kia Motors, que mais tarde passou a fazer parte do Grupo Hyundai.
Em novembro de 2011, o Tribunal Regional Federal excluiu a Kia Motors Corporation da execução fiscal da dívida da Asia Motors do Brasil (AMB). O TRF conclui que o governo não comprovou a responsabilidade do grupo coreano na gestão da empresa brasileira.
Enquanto isso, a Hyundai erguia uma fábrica em Piracicaba (SP). Em 2012, teve início a produção HB20 (versões hatch e sedã). Foi o primeiro modelo da marca desenvolvido exclusivamente para o País. No início de 2017 a planta passou a produzir o utilitário-esportivo Creta.
Caoa Chery é a maior aposta do grupo
Em novembro de 2017, a Caoa anunciou a aquisição de 50% da operação brasileira da Chery. Assim, o negócio incluía a fábrica de Jacareí (SP). Por fim, envolveu investimentos de cerca de US$ 60 milhões.
Como resultado, a empresa ampliou a oferta de veículos. Ou seja, muito além do SUV Tiggo 2. Recentemente, a empresa lançou o novo Tiggo 3X no Brasil. Bem como fabrica os sedãs Arrizo 5 e Arrizo 6 na mesma planta. Ao mesmo tempo, a Caoa-Chery, nome da nova companhia, produz os Tiggo 5, 7 e 8 em Goiás.
E as apostas não param por aí. Ou seja, o Grupo Caoa se prepara para lançar a marca Exeed no Brasil. Trata-se da divisão de luxo da Chery. Possivelmente, três modelos serão feitos na fábrica goiana, todos SUVs.
Ou seja, as maiores apostas são em um compacto, um médio e um de alto luxo. Entre os destaques, o modelo mais caro poderá ter tecnologias como reconhecimento facial. Além de ser um recurso ainda raro no mundo todo, ele e inédito em veículos feitos no Brasil. O menor carro da nova marca deverá ser o LX.