O Governo vai liberar mais R$ 300 milhões para o pacote do carro popular, mas concessionários de várias marcas já falam no fim dos estoques para modelos com o desconto federal. Fiat, Renault, Citroën, Hyundai, Peugeot e Volkswagen estão entre as fabricantes que anunciaram as maiores reduções de preço. Entretanto, com a demanda nas últimas três semanas, sobretudo para os carros de entrada, os estoques estão muito próximos de acabar.
A princípio, em algumas, já acabou. Duas revendas da Volkswagen em São Paulo (SP), por exemplo, já não têm mais o Polo Track. O hatch de entrada, que estreou em janeiro para substituir o Gol, foi o modelo mais vendido com o incentivo (saiba mais abaixo). Entretanto, em uma delas, o vendedor afirmou que “ainda há alguns modelos disponíveis”. Para Virtus e T-Cross “restam poucas unidades”, disse o representante de outra concessionária da marca alemã.
Nas concessionárias da Fiat não é diferente. Em uma delas, também na capital paulista, além de poucas unidades dos SUVs Fastback e Pulse, havia apenas dois exemplares do Mobi. “Um na cor branca e um na cor vermelha”, afirmou o vendedor. Uma unidade, na cor preta, da versão Like, estava em negociação, mas poderia ser adquirida a R$ 58.490.
A revenda da Renault consultada pelo Jornal do Carro não tinha Kwid na cor preta a pronta entrega, por exemplo, apenas nos demais tons. Já as francesas Citroën e Peugeot tinham unidades para pronta entrega de modelos como C3 e 208 com desconto, mas, em algumas, haviam indisponibilidade de cores e versões de acabamento.
HB20 também no fim
Em uma revenda da Hyundai na Zona Leste da capital, por fim, não há mais modelos com descontos em estoque. “Agora, temos que aguardar os R$ 300 milhões que o governo vai liberar para fazermos os pedidos”, argumenta a vendedora, em menção à liberação de mais verba para incentivo à compra de carro popular.
Mais verba
Nesta quarta-feira (28), o presidente Lula autorizou a liberação de mais R$ 300 milhões para o programa do carro popular. A informação foi confirmada por Fernando Haddad, ministro da Fazenda. A publicação da nova Medida Provisória (MP) segue em elaboração pelos ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC). Desse modo, o valor em créditos tributários à indústria passa de R$ 1,5 bilhão (R$ 500 milhões para automóveis e o restante para caminhões, vans e ônibus) para R$ 1,8 bilhão.
Dos R$ 500 milhões iniciais previstos pelo programa, 80% já haviam sido utilizados pelas montadoras até o fim da semana passada – conforme último balanço divulgado pelo governo. A princípio, o decreto previa que o programa durasse quatro meses. Com o novo aporte, a ideia é atender quem aguarda na fila pela compra de um modelo 0-km. Nesse sentido, as vendas serão abertas para Pessoas Jurídicas – empresas, como locadoras, por exemplo.
Cabe lembrar que para que determinado carro seja beneficiado com o desconto (que varia de R$ 2.000 a R$ 8.000, sem contar os descontos das montadoras), precisa seguir critérios como preço de até R$ 120 mil, eficiência energética, além de nível de nacionalização. É por isso que modelos como, por exemplo, o Nissan Versa, que vem do México, ficou de fora.
Carros mais vendidos com desconto
A MP do carro popular levou mais clientes para as lojas. A Fenabrave, associação das revendedoras do País, afirma algumas concessionárias tiveram aumento superior a 260% no fluxo de loja, desde a implantação da MP 1.175. Entretanto, em números reais, as vendas ainda devem continuar aquém do esperado. De acordo com números da Jato do Brasil, o período registrou 45.298 modelos comprados por meio de incentivos da MP. O estudo contempla os emplacamentos até segunda-feira (26).
Os dados disponibilizados pela Jato do Brasil ao Jornal do Carro mostram que, da lista, o mais vendido foi o Volkswagen Polo. No total, o hatch emplacou 5.222 unidades. Em segundo lugar, vem Fiat Strada e Hyundai HB20 com, respectivamente, 4.960 e 3.523 vendas.
Modelos vendidos com desconto do carro popular
Volkswagen Polo – 5.222
Fiat Strada – 4.960
Hyundai HB20 – 3.523
Chevrolet Onix – 3.321
Fiat Argo – 2.663
Fiat Mobi – 2.504
Renault Kwid – 2.477
Chevrolet Onix Plus – 2.315
Fiat Cronos – 1.929
Peugeot 208 – 1.706
Volkswagen Saveiro – 1.614
Volkswagen Virtus – 1.610
Fiat Pulse – 1.350
Toyota Yaris hatch – 1.329
Citroën C3 – 1.177
Volkswagen T-Cross – 1.141
Jeep Renegade – 922
Toyota Yaris Sedan – 803
Nissan Kicks – 739
Hyundai HB20S – 709
Fiat Fiorino – 654
Renault Duster – 589
Honda City – 480
Chevrolet Montana – 441
Renault Sandero – 362
Chevrolet Spin – 320
Renault Oroch – 111
Chevrolet Tracker – 93
Peugeot 2008 – 74
Volkswagen Gol – 68
Peugeot Partner Rapid – 56
Renault Logan – 34
Citroën C4 Cactus – 1
Fiat Fastback – 1
Sobre os números, o diretor de desenvolvimento de negócios da Jato do Brasil, Milad Kalume Neto, explica que a medida foi boa, entretanto, aconteceu em um momento inoportuno. “(o governo) Poderia ter feito (a MP) mais para frente e, assim, abranger um maior número de consumidores. Tem que diminuir taxas de juros, liberar crédito”, enfatiza.
De acordo com ele, por um lado, a MP do carro popular é um investimento que teve benefícios, como renovação de frota, por exemplo. “Se por um lado trouxe benfeitorias como segurar o emprego dentro das montadoras, por exemplo, por outro, o que isso deixa para a indústria, para as autopeças, bem como para os próprios concessionários?”, questiona.
Sobre as vendas em si, o executivo acredita que “quando abrir para pessoas jurídicas, vai sumir em horas”. Ainda assim, ele crê que as vendas de carros 0-km não chegarão às estimadas 2,1 milhões de unidades até o fim de 2023.