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Carros verdadeiramente ruins, que tiveram vida efêmera no Brasil
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Carros verdadeiramente ruins, que tiveram vida efêmera no Brasil

Alguns carros eram tão ruins que não duraram muito por aqui. Veja alguns exemplos

Redação

02 de fev, 2020 · 11 minutos de leitura.

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effa m100
O Effa M100 foi o primeiro carro chinês à venda no Brasil e confirmou todas as suspeitas que na época recaíam sobre produtos do país asiático
Crédito:André Lessa/Estadão

Carros ruins há vários. É comum um veículo ter algumas falhas. Mas tem carro que exagera. São tão ruins que tiram o sossego do dono, viram chacota. Ostentam mais defeitos que qualidades. E, nessas situações, às vezes o que resta é desaparecer do mercado. Sair de cena. Reunimos alguns carros que tiveram vida efêmera no Brasil. E não deixaram saudade.

Effa M100, sinônimo de carro ruim

O Effa M100 chegou em 2007, e foi o primeiro carro de passeio chinês vendido no Brasil. Porém, não convenceu. Na época, veículos chineses tinham fama de baixa qualidade, e o M100 confirmou tudo o que se suspeitava sobre eles. Com motor 1.0 a gasolina de 47 cv, o desempenho era fraco. Sofria em rampas, e a suspensão extremamente macia não passava a menor segurança, especialmente em curvas.

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Em 2010, a Effa Motors fez um recall para substituição do cinto de segurança. A razão era que algumas unidades tinham vindo da China com cinto de segurança lateral traseiro de dois pontos. Na época, a legislação já exigia cintos de três pontos. O chamado envolvia algumas das 900 unidades vendidas entre 2008 e 2010.


Embora custasse apenas R$ 23.480 em 2010 e estivesse entre os modelos zero-quilômetro mais baratos do País, as vendas nunca decolaram. No mesmo ano, foi cogitado que o subcompacto iria ser feito pela Suzuki e ganharia melhorias, como rodas de liga leve, vidros elétricos nas quatro portas e direção também elétrica. Nada disso, no entanto, ocorreu, e o modelo saiu de linha.

Lifan 320

Ainda em 2010, outro chinês, o Lifan 320, foi avaliado pelo Jornal do Carro, e o texto levantava algumas suspeitas logo no começo: “Se o Lifan 320 vai vender bem no Brasil, ainda não se sabe, mas é certo que ele causará polêmica em razão de seu estilo. Cópia barata (além do preço bem em conta, sua qualidade deixa a desejar) do Mini Cooper, o hatch chinês tenta oferecer, ao seu modo, status com tabela de carro nacional ‘popular’ – R$ 29.980”.


O “Mini da China” tinha motor 1.3 de 88 cv, e vinha com ar-condicionado, direção hidráulica, vidros e travas elétricos, freios ABS, air bag duplo, painel digital e retrovisores elétricos.

O texto ressaltava o bom desempenho: “Como o Lifan 320 é leve (são 920 quilos), a potência do motor o deixa bem esperto. Sua suspensão trabalha bem, mas não espere a estabilidade de um Peugeot 207, por exemplo”.


A fragilidade não demorou a aparecer. Na época, havia queixas relacionadas a falhas no sistema elétrico. Caso de vidros, travas e marcador de combustível que deixavam de funcionar, por exemplo. Houve relatos também de cheiro de combustível invadindo o interior. Em 2014, o modelo deixou de ser vendido.

Uma curiosidade: no ano passado – portanto cinco longos anos depois de o modelo ter saído de linha no País – a Justiça proibiu a marca de vender o 320 no Brasil, por causa da semelhança com o Mini!

Troller Pantanal

A Troller apresentou a picape Pantanal no Salão do Automóvel de 2004. As vendas, no entanto, começaram em 2006. Voltada para o trabalho, tinha exclusivamente tração nas quatro rodas. A mecânica era a mesma do jipe T4. Na época, o modelo vinha com motor MWM 3.0 turbodiesel, de 163 cv.


A expectativa da fábrica cearense era não apenas abastecer o mercado interno, mas também exportar. Em 2005, a fábrica anunciou que enviaria um lote de 12 unidades para Angola, para análise do modelo e posterior montagem em CKD (carros desmontados) no país africano.

+ Veja a avaliação do novo Troller TX4, com câmbio automático


Na época, a Troller informou que havia investido R$ 32 milhões no desenvolvimento da picape, mas pouco tempo depois o pior aconteceu. A Ford, que comprou a empresa cearense em 2007, detectou problemas estruturais na picape. O caso era tão grave que a multinacional decidiu recomprar as 77 unidades vendidas, para recolhimento e destruição. Houve quem se recusasse a fazer o acordo com a montadora, e preferiu manter – por conta e risco – o modelo.

Cross Lander CL-244

O CL-244 chegou a ser produzido em Manaus (AM) em 2002. O modelo era inspirado no Land Rover Defender, mas conseguia ser ainda mais rústico que o jipe inglês.

O jipão era um veículo da romena Aro. Tinha tração 4×4 com sistema de roda livre e câmbio manual de cinco marchas. O motor 2.8 turbodiesel era da International. Gerava 132 cv de potência e 36,2 mkgf de torque.


De acordo com o texto de avaliação do Jornal do Carro, “o acabamento prima pelo despojamento. Algumas soluções são bem adequadas, como o revestimento de borracha no assoalho, mas ainda há muito a ser aprimorado”, notou o repórter. “A qualidade dos materiais poderia ser melhor, o que serve para as laterais das portas, painel e console central, todos de material plástico. O volante também merecia um desenho mais moderno e um acabamento melhor. Por outro lado, os bancos são confortáveis e o espaço interno é bom”.

Mais adiante, o repórter notou a dificuldade de entrar no modelo pelas portas de trás, “pois o espaço de acesso para o banco traseiro não é dos melhores”. Isso se devia ao fato de a coluna central ficar muito recuada. Se era difícil entrar no banco de trás, por outro lado o motorista, ao olhar para o lado, dava de cara com a coluna.




O balanço da avaliação revelou comportamento limitado (leia-se desconfortável) no asfalto, e valente na terra. Isso, no entanto, não foi suficiente para que o modelo tivesse vida longa por aqui, e logo ele desapareceu.

Picape Mahindra

A Mahindra é uma marca indiana, que chegou a montar um modelo de picape e um utilitário-esportivo em Manaus. Em 2014, o Jornal do Carro avaliou a picape e notou algumas falhas graves. A maior delas: “Os pedais ficam muito distantes dos pés do motorista, mesmo com o banco regulado corretamente”.

De acordo com a avaliação, a picape pecava “por oferecer baixo nível de conforto ao volante e ergonomia pouco funcional”. O texto afirmava que os ajustes da altura do volante, por meio de alavanca, eram duros. “Nele há até botões para comandar o rádio, mas as respostas são pouco precisas – algumas vezes, simplesmente não funcionam.”


O motor 2.2 a diesel de quatro cilindros rendia 120 cv e chamou a atenção por ser “ruidoso”. O câmbio de cinco marchas apresentou engates duros e difíceis. O torque de 29,5 mkgf a “baixos” 1.600 rpm foi elogiado, assim como a maciez da suspensão, mesmo com a caçamba vazia.

A direção com assistência hidráulica, que “facilita as manobras de estacionamento”, também foi lembrada. Mas a falta do controle de estabilidade foi citada. “Ao trafegar em locais com piso de baixa aderência com a caçamba vazia, o utilitário apresenta tendência a sair de traseira, escapando da trajetória quando se pisa mais firmemente no acelerador.”


Apesar desses “escorregões”, o texto reforçava que a picape tinha cabine “bem construída e poucas rebarbas no acabamento”. Mas a Mahindra também não foi adiante no Brasil.

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