Se você está interessado em uma picape e quer gastar até R$ 150 mil, não tem jeito: é obrigatório olhar para a líder Fiat Toro. Mas, desde janeiro, temos também a nova Chevrolet Montana. Com produção em São Caetano do Sul (SP), o modelo da General Motors chegou em uma faixa de preço menor.
Pois é justamente a diferença de valores entre as duas picapes, de apenas R$ 4.400, que provoca a dúvida. Será que vale mais pegar a Montana Premier completa por cerca de R$ 142.590? Ou é melhor apostar em um negócio “seguro” e comprar a Fiat Toro Endurance, versão de entrada da picape que mudou o mercado desde 2016, por R$ 146.990?
Ambas opções são mais urbanas, para uso no dia a dia na cidade, seja para o transporte pessoal, seja para o trabalho com cargas leves. Claro, as picapes também encaram viagens em rodovias e escapadas ao sítio, mas no máximo com chão de terra batida. Afinal, a tração é dianteira e não há 4×4.
Feitas sobre arquiteturas em monobloco, Montana e Toro estão mais para SUVs com uma área de carga que para picapes. Bem diferente das picapes médias com motores a diesel. Mas é justamente por isso que esse novo segmento vêm fazendo sucesso.
Dados de emplacamentos mostram que os SUVs cresceram de 8% para 35% nas vendas desde 2013 no mundo. Aqui no Brasil, a categoria já é a maior do mercado, com uma participação expressiva de 46,59% no acumulado de janeiro a abril de 2023.
Pois picapes vêm logo atrás, com uma alta global de 17%, mas com enorme potencial nos próximos anos justamente por conta desses novos modelos intermediários. Neste comparativo, o Jornal do Carro confrontou Montana e Toro e aponta a seguir onde cada uma vai melhor.
Custo versus entrega
Para começar, vamos falar do modelo mais recente. Esta terceira geração da Chevrolet Montana abandonou o antigo projeto do Agile e cresceu sobre a plataforma modular das linhas Onix e Tracker. Naturalmente, a picape tem mais itens em comum com o SUV.
Além de maior, a Montana chegou recheada de eletrônicos e com uma estratégia agressiva de preços. Afinal, apesar de maior que a Fiat Strada, a picape da Chevrolet tem preço inicial próximo ao da atual líder de vendas. Assim, ocupou a lacuna deixada pelas picapes intermediárias – neste caso, Fiat Toro, Renault Oroch e (mais de longe) Ford Maverick.
No porte, a nova Montana fica entre Oroch e Toro, com 4,72 metros de comprimento e 2,80 m de distância entre-eixos. Por exemplo, a Toro tem 22 centímetros a mais e mede 4,94 m de para-choque a para-choque, com um entre-eixos de 2,99 m.
Ainda assim, por ter preço de Strada, a nova Montana custa R$ 4.400 a menos que a Toro na sua versão de topo Premier. Essa diferença já garante a despesa total de revisão e mais alguns gastos. Há ainda, a questão da disponibilidade de estoque. A GM fez um regime de pré-venda com cerca de 10 mil unidades reservadas desde o final de 2022.
Por outro lado, a marca sofre desde 2021 com a escassez de semicondutores, necessários para fornecer as tecnologias embarcadas em seus carros atuais. Então, pode ser que você simplesmente não consiga montar uma Montana no site oficial da Chevrolet. Aí é “W.O.”, porque Fiat e Stellantis parecem imunes à crise dos chips, sempre com veículos disponíveis.
Volume da caçamba
Se são SUVs ou picapes não importa. O fato é que oferecer caçamba deixa Montana e Toro mais versáteis. Mas há limites claros em ambas, até pelo uso da tração dianteira. Por exemplo, se precisar usar o compartimento de modo mais profissional, quem atende melhor nessa disputa é a Toro Endurance. São 937 litros de volume e até 750 kg de capacidade de carga na versão.
Por ser menor, e por ter um acabamento de caçamba mais amplo na versão topo de linha, a Montana Premier só carrega 800 litros e um máximo de 600 kg. Claro que há o marketing, no qual a GM diz que a da Montana protege melhor os objetos e ainda pode ser usada como um porta-malas, graças ao rack opcional “Multiboard”.
Ocorre que a picape da Fiat também oferece rack opcional de caçamba, com custo similar de R$ 1.200. Ou seja, a Toro é melhor no quesito capacidade de carga.
O que importa na cabine
Já apontamos que a Montana é uma régua escolar mais curta que a Toro. Só que, segundo os executivos da GM, ser menor e mais estreita facilita na hora de estacionar. A montadora também diz que a picape não penaliza espaço e conforto a bordo por causa da caçamba. Por isso, tem espaço para receber até cinco pessoas, com boa área envidraçada e bancos confortáveis.
Como é maior e mais alta, a Fiat Toro tem espaço similar na cabine, porém com uma área de vidros menor. É uma questão de gosto. A Montana tem um ambiente mais “limpo” e sóbrio, enquanto a Toro vai agradar quem curte estilo mais esportivo. Mas o que realmente diferencia as duas picapes nestas versões é a lista de equipamentos.
Tudo conectado?
Com a plataforma mais recente e modular, a nova Montana tem eletrônica avançada. Por exemplo, a picape da Chevrolet tem multimídia com tela MyLink de 8″ e conexão sem fio com Android Auto e Apple Carplay, além de boa velocidade de processamento. Também há faróis de LEDs com acendimento automático, ar-condicionado digital, seis airbags, alerta de ponto cego, carregamento sem fio para celular e câmera de ré.
Mas trunfo é presença de Internet nativa (4G e Wi-Fi), além de atualização remota (sem fio) da central eletrônica do carro. Isso permite, teoricamente, que falhas de sistema sejam sanadas rapidamente, ou até que um mapeamento diferente de motor seja aplicado. Por fim, há sistema de rastreamento e de serviços de concierge OnStar.
Mas a Toro tem painel digital, colorido e personalizável, algo que a Montana não tem. E essa tela que fica atrás do volante, além de moderna, é simples e agradável de ler. Dessa forma, mesmo sem rastreamento ou internet, a Toro acaba por entregar um conteúdo similar. Ainda assim, deve multimídia com tela maior e, principalmente, a câmera de ré, que é um item que deveria ser obrigatório em picapes. Com o preço de R$ 147 mil, é imperdoável não ter.
Qual picape anda mais?
Vamos considerar que a Fiat Toro amadureceu bastante desde 2016. A picape trocou motores bem ruins por opções muito melhores. Agora, a picape divide os motores com a gama de SUVs da Jeep. Assim, oferece o 1.3 T270 turboflex na versão Endurance. Este motor é forte, com 185 cv e 27,5 mkgf (gasolina ou etanol) a partir de 1.750 rpm. Mas a conversa dele com o câmbio automático de seis marchas e com o peso da picape (1.650 kg) às vezes é confusa.
Por outro lado, vai a Toro muito bem na estrada e sobra nas arrancadas e ultrapassagens. Nesse sentido, a Chevrolet Montana tem um desempenho mais alinhado ao seu porte. O motor 1.2 turboflex é menos potente, com 133 cv e 21,4 mkgf de torque máximo com etanol a 2.000 rpm. Entretanto, roda suave. As respostas são rápidas e dão agilidade. Já na estrada, a Montana poderia ter mais de elasticidade. Afinal, a picape da Chevrolet é bem mais leve (1.310 kg).
A diferença de peso garante, portanto, uma aceleração mais rápida. Porém, a Fiat Toro entrega mais força em alta rotação, e garante maior fôlego na estrada. Já em relação ao consumo, a Montana leva vantagem. Como o motor 1.2 turbo da GM entrega menos que o 1.3 turbo da Stellantis, ele rende mais. Com etanol, por exemplo, a Toro faz médias de 6,6 km/l (cidade) e 7,9 km/l (estrada). Enquanto isso, a Montana tem médias de 7,7 km/l e de 9,3 km/l, na ordem.
Com gasolina, os rendimentos melhoram, sobretudo na picape da Chevrolet. A Toro faz médias de 9,5 km/l e de até 11,2 km/l, enquanto a Montana rende 11,1 km/l e até 13,3 km/l. Mas vale dizer que o modelo da marca italiana tem um tanque de combustível de 55 litros, enquanto o da GM tem 44 litros. Ou seja, mesmo com consumo inferior, a Toro tem maior autonomia.
Veredicto: Montana leva o duelo
A GM escolheu posicionar sua nova picape mais próxima da Fiat Strada, e isso deixou a nova Montana com preço mais interessante que o da Toro. Quando observados os conteúdos das versões comparadas, a vantagem é do modelo da Chevrolet, que entrega mais conteúdos modernos, tem bom desempenho e é mais econômico na cidade e na estrada.
A Toro leva vantagem no tamanho e na capacidade de carga. Além disso, a picape da marca italiana é mais prazerosa ao volante, sobretudo na estrada, quando o motor 1.3 turbo flex sobra. Pena que a versão Endurance descarta itens importantes, como a multimídia com tela maior de 8 polegadas e outros recursos, como câmera de ré, por exemplo.