Você pagaria R$ 140 mil por um carro chinês? Não é de hoje que marcas como JAC e Chery vêm tentando se distanciar da pecha de carros baratos e emplacar produtos com maior valor agregado. Com o novo T80, SUV para até sete pessoas que parte de R$ 139.990, a JAC cresceu a aposta. Equipado com motor 2.0 turbo de 210 cv, ele tem como objetivo cativar consumidores de utilitários médios e grandes – que nunca foram clientes da chinesa.
INSCREVA-SE NO CANAL DO JORNAL DO CARRO NO YOUTUBE
+ Confira a avaliação do Chery Tiggo 7
+ JAC promete elétrico mais barato do País
O mote ainda é o da relação custo-benefício. Mas com uma preocupação cada vez maior com percepção de qualidade. Se o acabamento da JAC já vinha em uma trajetória de notória melhora, primeiro com o T40 e depois com o T50, o T80 flerta mais explicitamente com o luxo.
O couro está presente em bancos, portas e em uma larga faixa que percorre o painel. Superfícies emborrachadas tipo soft touch, cromados e apliques (um pouco indiscretos) que imitam fibra de carbono também transmitem sensação de qualidade. Nem sinal do odor desagradável de plástico que impregnava a cabine dos primeiros modelos da marca.
O console central tem desenho arrojado e duas saídas de ar para os ocupantes da segunda fileira de bancos. Há ecos de marcas premium aqui e ali. O layout do quadro de instrumentos virtual de 12,3 polegadas evoca a Audi (assim como a assinatura luminosa das lanternas traseiras) e as saídas de ar circulares parecem vindas de um Mercedes AMG GT.
Conforto e espaço interno sobressaem
Os bancos são muito confortáveis. Os dois dianteiros têm ajustes elétricos, sendo que o do motorista ainda conta com funções de aquecimento, refrigeração e até massagem, um mimo impensável nessa faixa de preço.
Atrás, três adultos viajam com conforto, desde que não tenham ombros largos. O duto central pouco elevado no assoalho e o entre-eixos de 2,75 metros propiciam espaço generoso para as pernas.
O banco da segunda fila é bipartido e cada uma de suas partes pode ser deslizada para a frente. Isso permite aumentar a capacidade de carga do porta-malas – ou o espaço disponível para quem eventualmente viaje na terceira fila.
Os assentos traseiros, aliás, servem apenas em uma emergência ou para levar crianças, pois a área para cabeça e pernas é exígua. Com essa terceira fileira rebatida, o porta-malas leva ótimos 620 litros.
Pacote de itens de série é amplo
A central multimídia tem tela de 10″, que poderia ser mais responsiva ao toque. Além disso, falta navegador GPS e o espelhamento de smartphones exige que o usuário instale um aplicativo da JAC no celular.
Os itens de série incluem ar-condicionado de dupla zona, chave presencial, rebatimento elétrico dos espelhos retrovisores, faróis com acendimento automático e regulagem elétrica de altura, luzes diurnas de LED, sensor de chuva, sensores de obstáculos dianteiro e traseiro, controle de velocidade de cruzeiro, câmeras traseira e 360 graus, controles de estabilidade e tração, assistente de partida em rampas, seis air bags e sistema de monitoramento da pressão dos pneus. Faz falta, porém, o ajuste de profundidade do volante (só é possível regular a altura).
Há um pacote opcional, com teto solar elétrico panorâmico e um sistema de som premium com oito alto-falantes, que eleva a tabela para R$ 145.990.
T80 atira em várias direções
Nessa faixa de preço, o T80 enfrenta versões de Jeep Compass, Hyundai Tucson, Kia Sportage e Mitsubishi Eclipse Cross. Mas todos têm porte e potência menores e levam apenas cinco pessoas.
Para sete ocupantes, os rivais do JAC são Chevrolet Equinox, VW Tiguan All Space, Mitsubishi Outlander e Kia Sorento. Mas esses modelos são mais caros (as diferenças de preço sobre a tabela do chinês variam entre R$ 30 mil e R$ 50 mil), menos equipados e ainda um pouco menores. Enquanto o T80 tem 4,79 metros de comprimento e entre-eixos de 2,75 metros, essas medidas são de 4,7 m e 2,78 m no Tiguan e de 4,65 m e 2,72 m no Equinox, por exemplo.
Comportamento dinâmico mostra amadurecimento
Em movimento, o T80 mostrou que a JAC vem fazendo a lição de casa para corrigir problemas do passado e entregar produtos melhores. As respostas de direção e freios melhoraram sensivelmente. Ainda que não seja exatamente justa, a direção tem menos folgas e transmite maior sensação de segurança, sobretudo em velocidades mais altas. A suspensão está menos mole e mais acertada.
Avaliado em percurso rodoviário, o SUV se revelou silencioso e agradável em velocidade de cruzeiro, estacionando abaixo de 2.500 rpm a 120 km/h. Em uma tocada mais branda, o motor 2.0 turbo se comporta bem, ganhando velocidade de forma progressiva. Fabricada pela própria JAC, a transmissão automatizada de dupla embreagem e seis marchas faz trocas e reduções com rapidez.
Por outro lado, em ultrapassagens ou retomadas mais agressivas, o T80 se mostra pesadão e letárgico. O motor parece ter dificuldade de dar conta dos quase 1.800 kg do carro. O modo Sport da transmissão dá um ganho muito discreto de agilidade. Além disso, uma tocada mais esportiva eleva o consumo drasticamente – a média de 10 km/l de gasolina na estrada caiu para apenas 7 km/l quando o T80 passou a ser mais exigido.
A JAC espera emplacar 600 unidades por ano do T80. É um número modesto. Mesmo se não fizer barulho no mercado, o novato tem predicados suficientes para elevar a percepção de qualidade da marca pelos consumidores, o que não é pouco.
FICHA TÉCNICA
Motor: 2.0, turbo, 4 cil., 16V, gasolina
Potência: 210 cv a 5.000 rpm
Torque: 30,6 mkgf a 1.800 rpm
Câmbio: automatizado, 6 marchas
Comprimento: 4,79 metros
Entre-eixos: 2,75 metros
Porta-malas: 620 litros
PRÓS E CONTRAS
Prós: Cabine
Espaço interno é muito bom para cinco ocupantes. Conforto e qualidade do acabamento sobressaem.
Contras: Retomadas
Motor 2.0 turbo dá conta das necessidades diárias de uma família, mas carece de fôlego em ultrapassagens.