Com o fim das peruas e a quase extinção das minivans, sobrou para os SUVs compactos a missão de entregar mais espaço a bordo. No caso da Citroën, essa tradição era ainda mais forte, com modelos como o Xsara Picasso, que foi seu primeiro carro nacional feito na fábrica de Porto Real (RJ), em fevereiro de 2001. Mais de duas décadas depois, a marca francesa não dispõe mais de minivans e adere ao movimento SUV com o novo C3 Aircross.
Nesta atual geração, lançada no fim de 2023, o Citroën Aircross traz uma nova plataforma modular (CMP), também presente no novo C3. E chama a atenção no tamanho. São 4,32 metros de comprimento, 1,79 m de largura e 1,68 m de altura, ou seja, é razoavelmente maior que o hatch de entrada. Para comparação, a geração anterior do modelo tinha 4,09 m. Além disso, o entre-eixos deu um salto e passou de 2,54 m para os atuais 2,67 m.
Tudo isso para receber uma terceira fileira de bancos, que é um dos trunfos deste novo Aircross. Agora, além do estilo de SUV, marcado pela dianteira e traseira bastante verticais, o modelo tem uma versão com 7 lugares. A oferta, claro, é estratégica, já que há apenas dois modelos “tamanho família” disponíveis no mercado com preço abaixo de R$ 150 mil. Além do Citroën, temos o Chevrolet Spin, que acaba de ser amplamente reformado.
Novo Citroën Aircross empolga ao volante
Pois nessa disputa particular com o Chevrolet Spin, o Citroën Aircross sai na frente em relação à mecânica. Com a fusão da PSA com a FCA, e a criação do grupo Stellantis em 2021, agora a francesa conta com opções de motores da “irmã” Fiat. No caso do SUV compacto, temos o 1.0 turboflex de até 130 cv de potência e 20,4 mkgf de torque máximo, bem como o câmbio automático do tipo CVT que simula sete marchas.
Com este conjunto, o novo Aircross é um carro tamanho família que empolga ao volante. O modelo tem acelerações rápidas e dinâmicas, sem cansar com longas esticadas de marcha, algo típico nos carros com câmbio CVT. Não há borboletas no volante para trocas de marcha manuais, como nos primos Pulse e Fastback, da marca italiana. Mesmo assim, surpreende o fôlego do SUV, que pesa 1.257 kg e é relativamente leve para o porte.
Outro ponto alto neste novo Aircross é o equilíbrio dinâmico. A Citroën, historicamente, é reconhecida por oferecer conjuntos de suspensão finamente calibrados – o que a marca chama de “magic carpet” (tapete mágico). Realmente, é preciso tirar o chapéu, pois o SUV, embora bastante alto, é estável, macio e firme na medida certa. A escolha dos pneus, nesse caso, também foi um acerto, com modelos 205/65 montados em rodas de 16 polegadas.
Espaço a bordo e 7 lugares são trunfos
Além do bom desempenho, o novo Citroën Aircross é grande a bordo. O espaço vertical é bastante amplo na frente e atrás, e há ótimos vãos para pernas na segunda fileira. Da mesma forma, o porta-malas da versão com 5 lugares é enorme, com 493 litros de volume no compartimento – é o maior bagageiro em um SUV compacto. Entretanto, com as três filas de bancos, o espaço fica reduzido e cai para apenas 42 litros. Ou seja, espaço para duas mochilas.
Como solução, a Citroën instalou dois bancos removíveis (de 8 kg cada) no fundo do carro. Assim, quando não forem necessários os 7 lugares, tem-se um super bagageiro para viagens mais longas. Já em relação ao conforto nesses assentos, bem, digamos que eles servem basicamente para crianças e, no máximo, adolescentes. Embora seja até simples rebater os bancos do meio para acessar a terceira fileira, ali se requer contorcionismo e as pernas ficam flexionadas.
Mas, uma coisa é certa: a criançada vai querer andar sempre lá atrás. Pelo menos é o que aconteceu comigo, pai da pequena Alice Azevedo, de quase 5 anos. Durante a avaliação, não teve um só momento em que ela não pediu para ir no fundo do carro. Aliás, para eles, a experiência de estar sentado mais distante, sem o olhar fixo dos pais, parece uma aventura maior. Ali, ficam escondidos, com porta-copos nas laterais e duas entradas USB num dos lados.
Acabamento e itens de segurança são pontos frágeis
Assim como todos os carros da Citroën, este novo Aircross tem o visual característico da marca, que é sempre mais ousado e diferente. Por isso, talvez não agrade a todos. Entretanto, embora seja algo mais subjetivo, uma coisa é possível afirmar: o SUV da marca francesa tem estilo e personalidade. Bem como transmite modernidade com as luzes diurnas de LEDs em formato de “Y” que ficam conectadas à grade. Outro atributo visual inquestionável é a robustez.
A decepção neste novo Aircross fica com o acabamento, consideravelmente mais modesto que nos carros mais antigos da marca que foram vendidos no Brasil. Basicamente é tudo de plástico duro, sem muita preocupação com texturas e suavidade ao toque. A Citroën até caprichou mais com alguns itens que ainda não estão no C3, como a tela colorida do quadro de instrumentos. No hatch de entrada, é um pequeno visor quadrado e monocromático.
Mas, no geral, o SUV mantém o mesmo padrão modesto visto no C3, com acabamento simples e lista de equipamentos básica. Por exemplo, na versão de entrada Feel, o Aircross de 7 lugares não tem retrovisores elétricos, algo impensável (uma heresia) para um carro que começa em R$ 117.990. Da mesma forma, a chave comum, para ligar o carro no contato, é de série até nesta versão de topo de linha Shine das fotos, de R$ 136.590.
Citroën Aircross de 7 lugares é uma boa compra?
Para além da simplicidade nos detalhes, este novo Aircross aposta na relação custo-benefício. Por causa disso, descarta itens de tecnologia mais modernos, como airbags do tipo cortina (tem apenas bolsas frontais e laterais dianteiras) e os recursos semiautônomos, como frenagem automática de emergência, por exemplo. Dessa forma, é mais barato que o rival Chevrolet Spin, que custa R$ 149.990 na versão de topo de linha Premier e traz estes itens.
Por outro lado, o Aircross tem bons trunfos. A conectividade, por exemplo, é garantida pelo multimídia com tela de 10 polegadas, que oferece espelhamento sem fio com Android Auto e Apple Carplay. Há entradas USB espalhadas na cabine, assim como um ventilador no teto que ajuda a refrigerar melhor a cabine para quem está na terceira fileira. O espaço interno é generoso para pessoas e os bancos do fundo removíveis são uma praticidade.
Além disso, a dirigibilidade é ótima, com acelerações divertidas e agradáveis, e ótima precisão da direção nas manobras. Evidentemente é um carro familiar, e não há esportividade. Mas o desempenho empolga e oferece bons números de consumo – as médias no Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular do Inmetro são de 7,4 km/l (etanol) e de 10,6 km/l (gasolina) na cidade, e chegam a 8,6 km/l e 12 km/l na estrada, na mesma ordem.
Conclusão
O Citroën Aircross com 7 lugares vai encantar famílias grandes que buscam o custo-benefício e querem um SUV com bom espaço e conforto. O lado tecnológico fica um pouco de lado e, por isso, o modelo da marca francesa deve conteúdos para o Chevrolet Spin Premier (mais completo). Entretanto, é R$ 13.400 mais barato e tem boa vantagem no desempenho.
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