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Alta demanda por câmbios automáticos faz os manuais sumirem das concessionárias
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Alta demanda por câmbios automáticos faz os manuais sumirem das concessionárias

Presentes em cerca de metade dos carros licenciados em 2020, as transmissões automáticas tomam conta dos modelos acima dos de entrada. Falta de produção local impede expansão ainda maior

Diogo de Oliveira, special para o Jornal do Carro

16 de out, 2020 · 8 minutos de leitura.

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câmbios
Câmbio automático ganha espaço no mercado brasileiro
Crédito:Mitsubishi/Divulgação

A preferência nacional pelas transmissões automáticas nos carros já é realidade desde 2019. Em 2020, apesar da pandemia, a procura pelos modelos sem o pedal de embreagem segue intensa, impulsionada também pelo aumento das vendas para PCD (Pessoas com Deficiência), em que os veículos normalmente são automáticos.

“Vamos ver os câmbios automáticos tomarem cada vez mais corpo, e os manuais encolherem ano após ano. As transmissões automatizadas também devem perder espaço, pois há um receio do consumidor que usou câmbios muito ruins de 1ª geração. Mesmo os de dupla embreagem, como o do New Fiesta, que teve um processo complicado de recall. E vai ter uma ampliação do CVT”, prevê Milad Kalume Neto, gerente de desenvolvimento de negócios da Jato Dynamics.

Há cerca de dois anos, no lançamento do Gol e do Voyage automáticos, o atual CEO da Volkswagen para a América Latina, Pablo Di Si, afirmou que a empresa esperava uma participação de 60% das transmissões automáticas em 2020. Por causa da pandemia e da forte retração nas vendas, talvez o percentual não se confirme neste ano. Mas é uma tendência inegável.

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Com planos de lançar sua primeira transmissão automática do tipo CVT em 2021, a Fiat Chrysler Automobiles pretende conversar com outras montadoras individualmente ou via Anfavea (a associação das fabricantes) para buscar a nacionalização de itens como o câmbio automático, não só pela questão cambial do dólar, mas também pela competitividade, já que a produção local fomentaria as exportações.

“Já fizemos algumas abordagens com fornecedores globais, que alegam ser um investimento muito alto, mas se colocarmos na mesa um volume expressivo, o negócio pode se tornar viável”, pontuou Juliano Almeida, diretor de compras da FCA para a América Latina, durante o Annual Supplier Conference & Awards 2020, evento que foi virtual (com streaming via Youtube) por causa da pandemia.

No caso da FCA, a inédita transmissão CVT será lançada em 2021 com os novos motores turbo flex 1.0 litro e 1.3 litro Firefly. A caixa será fornecida pela japonesa Aisin e, segundo o site Autos Segredos, está sendo desenvolvida pelas empresas com base na transmissão Direct Shift do Toyota Corolla, que possui uma engrenagem na primeira marcha para dar melhor tração nas saídas.


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Mais acessível, câmbio manual ainda resiste

Entretanto, segundo levantamento da Mobiauto, startup de comércio digital de veículos, a participação das transmissões automáticas nos populares ainda é baixa, e cresce conforme sobe o ticket médio. No veterano VW Gol, por exemplo, o câmbio AT responde por módicos 2,8% dos emplacamentos, enquanto no Ford Ka o percentual sobe para 14,5% e chega a 37,2% no líder de vendas Chevrolet Onix.


De acordo com Milad, o maior entrave para a difusão do câmbio automático em modelos mais baratos no nosso mercado é a falta de produção local. “O Brasil não consegue se auto sustentar em relação aos câmbios automáticos, porque somos dependentes das transmissões importadas, temos pequenas empresas que produzem componentes aqui. E a cada ano que passa, começamos a ter mais opções desses câmbios”, explica.

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Já entre os SUVs, praticamente não há versões manuais. No caso do Jeep Renegade, modelo mais vendido da categoria, 99,9% das unidades vendidas são automáticas. É quase o mesmo percentual do Volkswagen T-Cross, com 99,6%, e do Chevrolet Tracker, com 98,9% das unidades sem pedal de embreagem. O mesmo ocorre com a picape Fiat Toro, que tem 96,5% do mix com câmbio automático.


Veja abaixo a relação entre os câmbios manual e automático nas vendas de alguns dos carros mais emplacados de 2020:

MODELO

VERSÕES M/T

VERSÕES A/T

Chevrolet Onix

62,8%

37,2%

Chevrolet Onix Plus

45,8%

54,2%

Volkswagen Gol

97,2%

2,8%

Hyundai HB20*

72,3%

27,7%

Fiat Argo*

96,2%

3,8%

Chevrolet Tracker

1,1%

98,9%

Ford Ka

85,5%

14,5%

Jeep Renegade

99,9%

0,1%

Fiat Toro

3,5%

96,5%

Hyundai Creta

3,3%

96,7%

Volkswagen T-Cross

0,4%

99,6%

Volkswagen Polo

20,9%

79,1%

Volkswagen Virtus

31,0%

69,0%

 

*Dados referentes ao mês de setembro de 2020


Elétricos vão aposentar câmbios manuais

Em reunião com acionistas, a Mercedes-Benz anunciou no início deste mês de outubro algumas mudanças profundas nos negócios da empresa. Dentre as novidades está o fim do câmbio manual. Sem decretar prazo, o CEO do grupo Daimler, Markus Schaefer, anunciou que a empresa não irá mais oferecer opção de câmbio manual em seus veículos nos próximos anos.

A ruptura pode parecer radical, mas é cada vez menor a demanda por veículos de luxo com transmissão manual, não apenas pelo conforto ao dirigir, mas por questões de eficiência energética. Com sucessivas evoluções, os câmbios automáticos se tornaram inteligentes e mais econômicos que as caixas manuais. Há ainda outro fator: o avanço dos carros elétricos, que não possuem marchas.

No caso da marca da estrela, a meta é reduzir a 70% a oferta de carros a combustão até 2030. O restante da gama será de modelos puramente elétricos, que são sempre automáticos. Contudo, essa realidade ainda está bem longe do Brasil. “Os elétricos ainda são um futuro distante para nós. Vai demorar uns dez anos no mínimo. Estamos verificando o crescimento da oferta de carros elétricos, principalmente entre as marcas de luxo, mas ainda vai demorar porque o Brasil não tem uma infraestrutura pronta”, acredita Milad.


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