As vendas de carros elétricos decolaram no Brasil desde 2020. Mas muitos brasileiros ainda têm ressalvas em relação aos preços (exorbitantes) e à falta de uma rede de recarga fora dos grandes centros. Afinal, nem todos conseguem recarregar o carro em casa. Pois na última semana surgiu outra questão. O que fazer caso ocorra a danificação da bateria?
Um vídeo que viralizou nas redes sociais (veja abaixo) mostra um Fiat 500e com a bateria inutilizada após sofrer um impacto no assoalho. Nele, o autor é sucinto e diz que o hatch elétrico “bateu na parte inferior e danificou o pack de baterias”. Ele conclui afirmando que, por causa de “duas raspadinhas”, o pacote foi danificado e terá de ser descartado. O problema é que o valor do componente: R$ 240 mil. Ou seja, quase o preço do carro, que tem tabela de R$ 255.990.
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O vídeo, que descreve o Fiat 500e no título como “descartável”, não sinaliza, contudo, o que ocasionou as avarias. Não se sabe se foram valetas, buracos no asfalto ou mesmo algum objeto que, porventura, tenha atingido a parte de baixo do veículo. Não se sabe também se o narrador é o dono do carro ou o reparador da oficina.
Fiat esclarece
Para entender a situação, o Jornal do Carro entrou em contato com a Stellantis (responsável pela Fiat). Entretanto, a marca defende que nem tudo é o que parece.
“A Stellantis esclarece que, após análises técnicas, identificou-se uma avaria profunda na parte inferior do veículo decorrente de sinistro. E não apenas no acabamento, como as imagens sugerem. Isso ocasionou a quebra da tubulação de arrefecimento e consequente vazamento interno do fluido para dentro da bateria, levando à inutilização da mesma”, diz a nota.
A marca levanta suspeitas sobre a veracidade do valor da bateria do 500e, divulgado no vídeo. “Importante ressaltar que o valor do kit da bateria está alinhado com o que se encontra no mercado de veículos eletrificados, o que o áudio do vídeo não esclarece e nem é correto”. Contudo, a marca não falou em valores. A Stellantis, por fim, reforça que “todos os seus veículos passam pelos mais severos testes de qualidade e atendem todas as normas de homologação”.
Baterias têm cobertura nas apólices de seguros?
O Jornal do Carro procurou algumas seguradoras para entender se há diferenças na cobertura de carros elétricos em relação às baterias. E a resposta é “não”.
De acordo com Jaime Soares, diretor-executivo de Auto da Porto Seguro, “em caso de avaria causada por acidente, há cobertura para a bateria normalmente, basta o segurado efetuar o pagamento da franquia prevista na apólice de seguro”. “Contudo, como o valor deste equipamento ainda é muito elevado, caso o montante do conserto do veículo seja igual ou superior a 75% do preço do veículo determinado na apólice, será caracterizada a indenização integral do bem”, explica.
Ainda de acordo com o executivo da Porto Seguro, não há cobertura para situações em que a troca da bateria ocorra por desgaste causado pelo uso. Quando o equipamento fica “viciado”, e não segura mais a carga, por exemplo. Ou seja, a cobertura vale “em casos de acidentes previstos na contratação do seguro”, explica Soares.
Procurada pelo Jornal do Carro, a Superintendência de Seguros Privados (Susep) não respondeu aos questionamentos até o fechamento desta reportagem.
Carros elétricos são complexos?
Os carros elétricos aparentemente ainda têm um longo caminho a percorrer no Brasil. Os veículos movidos a baterias (BEVs) têm custo menor por km rodado, manutenção mais simples e barata, são mais econômicos e eficientes, mas exigem uma infraestrutura de rede de recarga que o Brasil não dispõe. Da mesma forma, exigem mudanças de hábito. Por exemplo, parar para recarregar por mais de 30 minutos (isso quando há postos de recarga rápida).
Vendas em 2022
De acordo com levantamento da startup de mobilidade Elev, para recarregar a crescente frota circulante de veículos elétricos, o Brasil conta com apenas 1.300 eletropostos. Destes, 445 ficam na cidade de São Paulo – ou seja, cerca de 1/3 do total.
No primeiro semestre deste ano, o Brasil emplacou 3.395 veículos elétricos. Assim, soma 19% a mais que todos os exemplares emplacados no ano passado, com 2.851 unidades. Mas mesmo com um novo recorde, o número ainda é baixo na comparação com o mercado de veículos. No primeiro semestre deste ano, foram entregues 1.651.269 carros no País, incluindo modelos a combustão com motores flex, a gasolina e a diesel.