Como fazer algo novo com um veículo que é o mais vendido nos Estados Unidos há 44 anos? A Ford decidiu apresentar uma inédita versão totalmente elétrica de sua picape “best-seller”, a F-150 Lightning. O modelo só chega ao mercado em 2022, porém já tem reserva aberta.
Não foi qualquer anúncio: a F-150 elétrica foi tema de um grande talk show da TV e, portanto, alçada como um dos principais eventos do ano nos EUA. Além disso, o presidente da república, Joe Biden, esteve presente como um dos convidados da avant première por dois dias.
Como você bem deve saber, a Ford F-150 (em todas as suas variantes) é um espelho daquele mercado: em 2020, por exemplo, paralisações nas linhas de produção por conta do coronavírus — e a subsequente crise de componentes eletrônicos — derrubaram produção e vendas da F-150 em mais de 30%. Isso naturalmente abalou as vendas da Ford em 15% e refletiu também na queda geral de 15% (14,5 milhões de unidades, contra mais de 17 milhões em anos anteriores).
Produção do primeiro ano já está vendida
Com isso, a F-150 Lightning (o sobrenome significa “relâmpago”, bem adequado a um elétrico) só chega nos EUA daqui a um ano. Entretanto, em apenas 48 horas de pré-venda, a picape já teve 45 mil encomendas. Assim, encerrou a previsão de fabricação do primeiro ano inteiro. Cada interessado depositou US$ 100 (R$ 530 no câmbio atual) na conta da Ford sem nem ver a picape de perto.
Nem todos os valores cheios (sem contar o incentivo federal de US$ 7.500) são públicos, mas a linha F-150 Lightning tem tudo para seguir atendendo a diferentes usos e bolsos dos ianques.
Inicia com a trabalhadora Pro (US$ 39.974, aproximadamente R$ 214.500). Segue pela versão “pessoa física” XLT (US$ 52.974, cerca de R$ 282 mil diretos). Não há preço para a intermediária Lariat, porém a topo de gama Premium (US$ 90.474, equivalente a R$ 481.300) terá bateria de autonomia ampliada. Bem como todos os opcionais tecnológicos esperados de um veículo que ditará para onde vai o futuro do mercado nos EUA.
Ao mesmo tempo, dará um tapa com luva de pelica na Tesla.
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De fato, versões, valores e potências da Ford F-150 Lightning foram pensados tendo a Tesla — e sua futura Cybertruck — como arquirrival. O valor inicial é o mesmo, assim como o preço final com opcionais e autonomia da bateria padrão.
São 370 km de autonomia (230 milhas no padrão EPA), subindo para 482 km (300 milhas/EPA) na configuração estendida. Na comparação com a Ford, a Tesla ainda promete oferecer uma terceira variante com capacidade para percorrer 500 milhas (pouco mais de 800 km).
Com a primeira bateria, a potência máxima entregue é de 442 cavalos, subindo a 570 cv na configuração seguinte. Torque é sempre o mesmo: fortes 103,7 kgfm disponíveis quase de forma instantânea ao acelerar.
Enquanto a Ford fez mistério sobre o 0-100 km/h (“em torno dos 4 segundos baixos”), Biden entregou o ouro: “Foram 4,3 ou 4,4 segundos?”
Por conta da mecânica elétrica com dois motores que geram tração 4×4 (o modelo da Tesla pode ter um, dois ou três motores), a F-150 Lightning é a mais forte da história da F-150, assim como a primeira picape com suspensão independente no eixo traseiro.
Em termos práticos, pode levar 1 tonelada na caçamba e puxar reboques de até 4,5 t. Ou outros 400 litros de bagagem sob o capô, no espaço onde estaria o motorzão, mas onde agora estão quatro tomadas, duas entradas USB e um dreno para líquidos.
Põe na tomada para carregar
Com um apertão no escudo onde está o logotipo F-150, é possível acessar o bocal de recarga. O abastecimento vai depender do tipo de instalação disponível. Em casa, pode variar de 8 a 19 horas para encher 100% da bateria. Em postos especiais, uma carga de 80% pode ser feita entre 41 minutos e 2 horas.
Ainda segundo a Ford, a energia da F-150 elétrica pode fazer o caminho reverso: a picape atua como um gerador, em caso de apagão. São 2,4 kW na versão Pro e XLT, indo a 9,6 kW para Lariat e Platinum. Teoricamente, a versão com bateria maior poderia abastecer uma casa no padrão norte-americano por três dias.
Também de acordo com a marca do oval azul, mais de 360 mil postos de carga estão disponíveis nos EUA. A garantia da parte elétrica da picape é de oito anos (carroceria tem cinco anos e outros componentes, três).
Luxo e tecnologia
Por mais que haja uma versão comercial, está muito certo que a F-150 Lightning foi feita para mostrar todo o potencial do plano de US$ 22 bilhões (equivalente a R$ 117 bilhões atuais) da Ford em eletrificação.
Ela mantém credenciais típicas de “truck”: a cabine é sempre estendida, com espaço para cinco pessoas e opção de bancos que se rebatem para facilitar as tarefas; são 5,91 metros de ponta a ponta, com 3,70 m de entre-eixos e 2,03 m de largura. Na caçamba, 1,70 m de comprimento do assoalho, com capacidade de 1.472 litros. Altura livre do solo é de 22 cm, mostrando que o rodar deve ser ao gosto urbano americano.
Só que mesmo a versão Pro tem painel de instrumentos totalmente digital, de 12 polegadas, como você vê em modelos da Jaguar, da Mercedes-Benz e praticamente em todos os elétricos do mercado. A tela central pode ser “padrão”, com 12 polegadas e estilo horizontal. Mas nas versões mais caras é substituída por uma tela vertical de 15 polegadas, que parece um tablet gigante e lembra demais aquelas encontradas nos modelos da Tesla.
O display comanda todos os equipamentos da F-150 elétrica, desde ajustes banais do ar-condicionado, até os novos poderes do sistema Co-Pilot360 (sim, a empresa chama literalmente de poderes, como nos videogames).
Além de câmeras de auxílio em manobras, luzes podem iluminar todo o exterior da picape, há ligação 4G com a internet e conexão com os principais sistemas operacional e de assistência virtual (Apple CarPlay, Android Auto e Amazon Alexa). Celulares, aliás, poderão servir como chave para abrir e ligar a picape, como nos carros da BMW.
Ford terá o seu “Autopilot”
Ponto alto promete ser o auxílio ao condutor de condução semiautônoma BlueCruise (o motorista pode tirar as mãos do volante em alguns momentos, mas deve permanecer atento e pronto a assumir, como nos carros da Tesla, Mercedes e Audi). Ford diz que poderá ser usado em 160 mil quilômetros de vias catalogadas, nos EUA e Canadá.
Além disso, sensores na carroceria e caçamba vão medir quanto de carga a picape está levando ou rebocando e ajustar automaticamente a expectativa de autonomia. Em caso de reboque atrelado, a picape promete controlar acelerador, freios e até o volante por conta para garantir mais estabilidade na viagem do futuro.