Maior fabricante de SUVs e picapes da China, e também a maior montadora de capital privado daquele país, a Great Wall Motors está muito próxima de anunciar sua operação no Brasil. Após mais de uma década de flertes, a marca chinesa — a terceira em volume de vendas por lá — pretende se lançar no mercado brasileiro até o início de 2022 já com produção local.
Para tanto, a GWM deve anunciar “em breve” a compra da fábrica da Mercedes-Benz, que foi desativada em dezembro de 2020 depois de a alemã encerrar a produção do sedã Classe C e do SUV GLA. Nesta terça-feira (6), a montadora chinesa teve mais um registro publicado na revista do INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial). Aqui no Brasil, a empresa está registrada como Great Wall Motor Company Limited.
Fábrica sob medida em Iracemápolis (SP)
Segundo reportagem do jornal O Globo, o negócio entre Great Wall e Mercedes-Benz foi selado há duas semanas, conforme descrito em uma publicação interna da montadora, na edição do dia 25 de junho. A reportagem, porém, não traz os valores, que certamente serão milionários, já que a Daimler investiu R$ 600 milhões para construir a unidade.
Com capacidade para montar 20 mil carros por ano, a fábrica de Iracemápolis foi inaugurada em 2016 e funcionou por apenas quatro anos. O município fica próximo de Campinas, no interior paulista, e está “dentro dos padrões necessários para a produção de carros da GWM”, conforme diz a publicação interna à qual o jornalista Marcelo Ninio teve acesso.
O Jornal do Carro entrou em contato novamente com Anderson Suzuki, executivo brasileiro responsável pelos departamentos de Produto e Marketing da Great Wall Motors para a região da América do Sul. Suzuki limitou-se a dizer que a empresa está “trabalhando forte para tomar uma decisão em breve em relação à entrada no país”.
Quem é a Great Wall Motors?
Fundada em 1984, a Great Wall Motors é uma montadora chinesa jovem. Nem “quarentou” ainda. Entretanto, é considerada a maior fabricante de capital privado do país. Sua especialidade são os SUVs e picapes, alguns deles muito populares por lá. Atualmente, a fabricante reúne quatro marcas de veículos: Great Wall, Haval, WEY e ORA.
Nos últimos anos, a Great Wall vem expandindo seus negócios, com planos de se tornar uma montadora global. Em 2013, a GWM comprou a Haval, marca especializada em SUVs e crossovers. Quatro anos depois, em 2017, lançou a WEY, divisão de veículos de luxo. Na sequência, em 2018, criou a ORA/Euler, marca de carros elétricos — trata-se da fabricante que apresentou o Punk Cat, um clone elétrico do VW Fusca.
Marca pode produzir picapes e SUVs
No portfólio da Great Wall há veículos de todos os tipos e tamanhos. Só a marca Haval, especializada em SUVs, possui 16 utilitários disponíveis em seu site oficial. Já a marca-mãe tem cinco modelos de picapes, algumas com tração 4×4 e, portanto, mais voltadas ao off-road. Dessa forma, é certo que a montadora vai apostar em modelos para estes segmentos.
Recentemente, a marca chinesa registrou o SUV Jolion no Brasil, um dos modelos mais novos da Haval. O batismo é uma fusão das iniciais de “Joy Life On”, algo como “alegria de viver”. Entretanto, em chinês, se pronuncia Chulian, que significa “primeiro amor”. Com 4,47 metros de comprimento e 2,70 metros de entre-eixos, o Haval Jolion tem porte similar ao do Jeep Compass e é um dos cotados a ganhar produção em Iracemápolis.
Da mesma maneira, o SUV médio Haval H6 já está patenteado e pode ser outro modelo a ganhar produção nacional. Sua carroceria é um pouco maior, com 4,65 metros de comprimento, e se aproxima de modelos como o Caoa Chery Tiggo 8 e Volkswagen Tiguan Allspace.
Os dois SUVs, por sinal, podem usar o mesmo conjunto mecânico, combinando um motor 1.5 turbo a gasolina com injeção direta, 150 cv de potência e 22,4 kgfm de torque, e uma transmissão de dupla embreagem e sete marchas, com tração dianteira.
Além destes, a picape média Série P é forte candidata a ser feita localmente. O modelo foi registrado há um ano e é peça-chave no plano de globalização da Great Wall. Com ela, a montadora pretende concorrer com a Toyota Hilux e se tornar uma das maiores fabricantes de picapes do mundo, ao lado da GM e da Ford, que dominam a categoria nos EUA.
Carros elétricos estão nos planos
A divisão de elétricos ORA já oferece quatro modelos de design lúdico, incluindo o Punk Cat, clone do Fusca, que teve as patentes registradas na Europa. Entretanto, a montagem e venda de modelos elétricos pode ficar para um segundo momento, após a empresa se estabelecer no Brasil. Na Tailândia, a Great Wall já oferece o pequeno hatch ORA Good Cat.
Expansão global
Nos últimos dois anos, a Great Wall comprou fábricas da General Motors na Tailândia e na Rússia. E a montadora está perto de fazer o mesmo na Índia, assim como no Brasil (com a fábrica da Mercedes-Benz). Dessa forma, a GWM planeja globalizar suas marcas nos próximos anos, e ser a primeira fabricante chinesa a concorrer mundialmente com grandes marcas.
Nesse sentido, a operação brasileira tende a nascer como uma das maiores da empresa. Atualmente, a Great Wall tem uma pequena linha de montagem no Equador, que abastece países como Uruguai, Peru, Bolívia, Paraguai, Argentina e Chile, que é o seu maior mercado na América Latina e o sexto maior globalmente, com 2.435 unidades vendidas em 2020.
Fábrica da Ford é “grande demais”
De acordo com a agência Automotive Business, a antiga operação da Ford em Camaçari, na Bahia, entrou no radar da Great Wall. Mas a unidade seria grande e cara para os planos da GWM. Lá, a Ford produziu a linha Ka e o SUV EcoSport até janeiro deste ano. Em 2020, foram feitas cerca de 120 mil unidades do trio. No entanto, a fábrica tem capacidade para montar até 300 mil veículos por ano.
O governo baiano chegou a criar um grupo de trabalho e fazer contato com a embaixada da China, para atrair possíveis compradores. Porém, até o momento, a fábrica de Camaçari parece não ter uma proposta na mesa.