O Hyundai HB20 foi carro de passeio mais vendido do Brasil nos dois últimos anos, bem como está entre os cinco modelos mais emplacados no País em 2023. O hatch feito em Piracicaba (SP) concorre diretamente com Chevrolet Onix e Volkswagen Polo, e, atualmente, não dispõe de uma versão esportiva na gama. Mas isso muda completamente na Copa Hyundai HB20.
Nas ruas, o HB20 oferece motores 1.0 – aspirado ou com turbo – e tem uma receita com foco maior no conforto e na conectividade. Entretanto, existe um HB20 Sport de corrida, que abre mão de “firulas” para entregar força com um total de 160 cv – o dobro da potência do motor 1.0 flex de entrada. Trata-se da versão de competição, que disputa a temporada 2023 da Copa Hyundai HB20, com prova neste final de semana, no autódromo de Interlagos, em São Paulo.
Mas não se engane: é uma versão oficial, feita na mesma fábrica de Piracicaba (SP), mas que entrega o HB20 que você pode comprar na concessionária. Mas quais são as diferenças? Vamos lá.
Cinco anos de desenvolvimento
Os modelos da Copa Hyundai HB20 vão para a quinta temporada de disputa, mas toda a preparação começou pelo menos um ano antes, em 2018, em uma conversa entre Fabiano Cardoso, piloto e diretor técnico da H-Racing, e executivos da Hyundai. Assim, pode-se dizer que o HB20 de corrida “pega carona” nos grandes campeonatos monomarca brasileiros baseados em carros compactos, como a Copa Clio, a Copa Corsa e a histórica Fórmula Uno.
Desde a estreia, em 2019, para essa quinta edição agora em 2023, houve evolução no tamanho da prova. O grid pulou dos iniciais 20 a 25 pilotos para mais de 40 carros. Assim, aumentou o número de pilotos, que podem correr na categoria em duplas, dividindo os carros. Mas a principal evolução foi na máquina. Nesta temporada, o HB20 de competição enfim adota o visual arrojado da reestilização feita há um ano no modelo que está à venda nas concessionárias.
Faróis afilados e integrados à grade, enorme tomada de ar em forma de “boca” no para-choque e traseira com uma única peça plástica integrando as lanternas. Este é o visual moderno da reestilização da segunda geração do modelo sul-coreano.
O que muda para o HB20 comum?
O esquema da Copa Hyundai HB20 é o “seat and drive”, ou seja, “sentar e acelerar”. Dessa forma, quem compete se preocupa apenas em dirigir, sem perder madrugadas preparando o carro. Mas é uma competição automobilística. Mesmo com o compromisso de manter carros semelhantes aos das concessionárias, existe uma preparação para deixar a máquina mais forte e… interessante.
Para começar, todos os carros são idênticos, feitos em lote único pela Hyundai, em Piracicaba. A preparação é feita pela equipe H-Racing e as únicas diferenças entre as unidades são o banco do tipo concha, que é ajustado para o piloto, além dos adesivos externos.
Em resumo, o HB20 de corrida não é de plástico por fora com a célula de segurança na cabine – como nos modelos da Stock Car, por exemplo. A carroceria é de aço, tal como no HB20 de produção em série que vai para a sua garagem. Mas há reforços estruturais. O capô e tampa do porta-malas têm travas e ganchos para acesso rápido nos boxes. Além disso, as janelas laterais e o vigia são substituídos por peças de policarbonato, mais leves e seguras em caso de acidentes.
Na cabine, o carro é “pelado”. Ou seja, nada de nada de bancos do carona e traseiros, ou painéis e quadro de instrumentos. Também não há sistema de som, nem ar-condicionado e estepe. Na segurança, saem os airbags frontais, que são obrigatórios, o sistema ABS dos freios e os assistentes semiautônomos de condução. Há apenas um extintor próximo da porta direita.
Por fim, a estrutura tem reforço de um arco de aço-carbono com oito pontos de fixação, além de cinto de segurança de seis pontos montado no banco tipo concha. Quer um detalhe curioso? O emblema “Sport”, que identificava uma versão antiga do hatch, é usado no HB20 de corrida.
E como é a mecânica?
Você sabe, o HB20 atual sempre usa motor 1.0 flex. Nas versões iniciais, é um 3-cilindros aspirado com potência de 80 cv e o câmbio manual de cinco marchas. Já o topo da gama traz o 1.0 turbo com 120 cv, que pode usar câmbio de 6 marchas, manual ou automático.
Pois o modelo da Copa Hyundai HB20 usa motor 1.6 aspirado de quatro cilindros, com bloco de alumínio e sistema de injeção ProTune PR4. Além disso, tem preparação no comando de válvulas e sistemas de admissão e coletor de escape redimensionados. Com isso, chega aos 160 cv de potência e entrega um torque máximo de 17,8 mkgf – quase o mesmo do motor 1.0 turbo. O câmbio é automático de 6 marchas com trocas nas aletas.
Na prática, é um HB20 com mecânica de Creta 1.6, mas com potência do Creta 2.0 Ultimate abastecido com gasolina. Por sua vez, as rodas são menores (de 15″), mas com pneus ligeiramente maiores (195/55 R15) na comparação com o HB20 de rua. Já a suspensão usa amortecedores e molas de competição, mais robustos, com altura e resistência calibrados para cada circuito. Os freios são os mesmos, mas com reforço e curso de pedal mais longo.
Qual o preço da “brincadeira”?
Claro, por conta da preparação e da exclusividade (são 42 carros, contando os do grid e os reservas) o custo acaba sendo considerável, ainda que “acessível” dentro da realidade das corridas. Cada piloto – que não precisa ser profissional – interessado em participar da Copa Hyundai HB20 paga R$ 240 mil, mais as taxas de inscrição e competição de cerca de R$ 7.500.
Só com o valor inicial, daria para pagar dois HB20 Platinum Plus. Esse valor já inclui preparação para cada etapa e manutenção, bem como taxa de transporte e estrutura de pista. Há ainda apoio de mecânicos e engenheiros, e um jogo novo de pneus e combustível para cada etapa.
Como anda o HB20 com alma de Creta?
O motor 1.6 da Copa Hyundai HB20 usa sempre etanol aditivado. O tanque tem 50 litros, como no modelo de rua. Só que o carro é mais leve que o HB20 comum. São 950 kg contra 1.110 kg – uma diferença equivalente ao peso de duas pessoas adultas. E a gente percebe que o modelo é mais colado no asfalto, mas também mais “duro”.
Segundo engenheiros e mecânicos, a preparação “tira todo o conforto” do HB20 de rua. Para isso, não só motor e pedais são remapeados, mas o câmbio também perde a programação original, aquela que deixa as trocas bem suaves e sem tranco. Aqui na pista, o HB20 dá um tranco forte a cada troca de marcha, bem como emite um ronco a cada descida. Fazer os freios funcionarem requer uma patada no pedal. Mas a direção é bem mais precisa: mexeu um pouco, a carroceria aponta.
Antes de acelerar, porém, é preciso acionar um comando vermelho (a “chave-geral” do sistema elétrico), e subir um switch. Só então está tudo pronto para acionar o botão de partida. No painel de competição, surge o indicador de marchas, de pressão do óleo, pressão dos freios, sistema de comunicação e telemetria e as luzes para o momento certo de trocar a marcha.
Para movimentar o carro, é preciso passar as posições no trambulador – a alavanca de câmbio é uma das poucas partes totalmente originais da cabine do HB20. Com isso, o sistema está pronto. Então, é preciso segurar a aleta direita por 5 segundos e, só nessa hora, a primeira marcha está engatada. Ao amassar o acelerador, o carro pula para frente e começa a acelerar.
Aquecido, o HB20 de competição alcança os 200 km/h (190 km/h nas retas de Interlagos), com aceleração de 0-100 km/h em cerca de 10 segundos. Para comparar, o HB20 de rua encosta nos 190 km/h e acelera até os 100 km em 10,7 s.
Como ver o HB20 de corrida?
Ficou curioso e quer acompanhar a temporada da Copa Hyundai HB20? São Paulo, Rio Grande do Sul e Goiás recebem 8 etapas duplas (16 provas ao todo). Três dessas etapas, incluindo a abertura no final de semana de 28, 29 e 30 de abril, acontecem em Interlagos, com 40 carros divididos em 3 categorias, com transmissão na TV e também no YouTube.
Segundo a Hyundai, além de servir como acesso ao automobilismo, a Copa HB20 deve servir de “ponte” entre a marca, donos de carros e com as novas gerações, que podem não ter tanto interesse em comprar, mas poderão “formar conexão emocional”. Afinal, não é sempre que a gente consegue ver o carro que está ali, na garagem, acelerando forte em uma pista que recebe até a Fórmula 1.
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