Fazia tempo que a Renault não tinha um carro tão acertadinho como o Kardian. Depois da “era Dacia”, a montadora quer virar a chave e lançar no Brasil carros com o espírito da marca francesa, que agradou gerações de consumidores no passado com Mégane, Scénic e companhia. Esqueça Kwid, Sandero e Duster, que têm seus méritos pelo custo-benefício, mas não trazem o refinamento e a construção de um verdadeiro Renault. O Kardian, sim.
O SUV compacto reúne o que a fabricante tem de melhor, com tecnologia, design, plataforma e motor inéditos e uma dirigibilidade que surpreende. É um produto que vai dar trabalho para a concorrência, e não somente pelo preço competitivo (o que ele também tem), mas por suas inúmeras qualidades. Volkswagen Nivus e Fiat Pulse que se cuidem…
Medidas e design do Kardian
Mas vamos começar a falar sobre a aparência do novo SUV compacto. Em primeiro lugar, precisamos dizer que o modelo estreia a plataforma modular Renault Group Modular Platform (RGMP) no Brasil, mais moderna e que ajuda na estabilidade do veículo. Em termos de medida, são 4,12 metros de comprimento, 1,75 m de largura, 1,60 m de altura e 2,60 m de entre-eixos.
Ou seja, tem tamanho similar ao dos principais rivais, mas enquanto o Nivus é mais comprido, o Kardian leva vantagem na distância entre os eixos. São 3 cm (7 cm se comparado com o Pulse) que fazem diferença no espaço interno, especialmente para o conforto dos passageiros de trás. Em compensação, o Renault perde no quesito porta-malas, com 358 litros, ante 415 l do Volkswagen (padrão VDA).
Outro ponto de destaque é o design. O Kardian traz uma nova identidade visual, com faróis divididos, sendo os principais de LED na parte de baixo e um conjunto mais fino acima com as luzes diurnas, também de LED. A grade é formada por pequenos losangos que remetem ao logotipo da Renault, que aparece em sua forma mais recente no centro, como vimos no Mégane E-Tech, por exemplo. Atrás, as lanternas têm formato de C tridimensional, como nos SUVs mais recentes da montadora. Todo o conjunto é muito bem resolvido, oferecendo um estilo único e que chama a atenção pelas ruas.
Interior e equipamentos
Quando falamos que o Kardian oferece o que a Renault tem de mais moderno, não é da boca para fora. O SUV traz um ótimo pacote de equipamentos para a categoria. Na versão avaliada, a Premiere Edition (R$ 132.790), o grande destaque vai para o pacote de segurança com sistemas de condução semiautônoma. Além de seis airbags, o carro tem controle de cruzeiro adaptativo, alerta de ponto cego e de distância segura, frenagem automática e sensores de estacionamento dianteiro e traseiro. Aliás, são três configurações para o modelo, veja todas elas e os preços aqui.
Há ainda sistema com quatro câmeras Multiview para ajudar em manobras, chave presencial, partida por botão, carregador de celular por indução e iluminação interna ambiente. Na parte de tecnologia, há painel de instrumentos digital de 7” com boa resolução e central multimídia de 8” de funcionamento simples e, por vezes, lento – talvez o modelo merecesse um sistema mais sofisticado, com tela maior. Por fim, as rodas de liga leve têm 17″ e o teto tem pintura preta contrastante.
Trem de força e desempenho
Além da plataforma, o Kardian estreia o motor 1.0 turbo TCe de três cilindros, que entrega 125 cv e 22,4 mkgf de torque com etanol e 120 cv e 20,4 mkgf com gasolina. Ele atua em conjunto com o câmbio automatizado de dupla embreagem e seis marchas, com tração dianteira.
Com esse conjunto, a aceleração de 0 a 100 km/h é feita em 9,9 segundos e a velocidade máxima atinge 180 km/h, de acordo com a Renault. Não são números brilhantes, mas condizentes com os dos rivais. No caso do Nivus, o 0 a 100 km/h ocorre em 10 s e a máxima chega a 189 km/h. Já no Pulse, os números são 11,7 s e 178 km/h, respectivamente.
No consumo, conforme o Inmetro, são 13,1 km/l na cidade e 13,9 km/l na estrada com gasolina. Já com etanol, o modelo roda 8,5 km/l no percurso urbano e 11 km/l no rodoviário.
Como é dirigir o Kardian
A primeira coisa que percebemos ao entrar no Kardian é a posição de dirigir. Apesar de ser um SUV compacto, o carro tem um porte de hatch, então é possível ajustar o banco (bastante confortável, por sinal) em uma posição mais baixa, para quem prefere. Aos que não abrem mão da posição elevada atrás do volante, também conseguem levantar o assento para ter uma visão superior, ainda que não seja exageradamente alta. Também chama a atenção o bom acabamento, que mistura materiais plásticos com bom encaixe a tecido, black piano e revestimentos de couro sintético. Detalhes na cor laranja dão um toque mais moderno à cabine.
Um pequeno seletor de marchas – que lembra até os da Porsche – pode causar estranheza em quem está acostumado às alavancas de câmbio tradicionais. Mas dá para fazer as trocas de marchas por meio de aletas atrás do volante. A direção é leve e responsiva, enquanto o motor e o câmbio trabalham em um sintonia fina. Coroa o conjunto da obra a boa calibragem da suspensão, que deixa o carro estável e firme em curvas sem ser dura. O comportamento se assemelha ao do Nivus, já que o ajuste do Pulse é mais mole para priorizar o conforto, apesar da maior rolagem da carroceria.
Modos de condução agradam
O desempenho do novo motor agrada e é silencioso em baixas rotações. Quando é preciso de certa força para uma arrancada mais vigorosa, o bom torque ajuda o SUV a ter fôlego. Mais uma vez, o casamento com o câmbio é fundamental nessa hora, já que as trocas são suaves e rápidas para se adaptar a diferentes situações. Entretanto, há um certo ruído que parece vir da suspensão em manobras ou mesmo ao entrar e sair do carro. Parece que a carroceria está “assentando”. Não dá para saber se foi algo relacionado apenas à unidade testada, um dos primeiros carros a sair da linha de montagem de São José dos Pinhais (PR). De todo modo, isso não afeta o desempenho.
Há também os modos de condução que, diferentemente de outros modelos que apenas seguram as trocas de marcha e tornam o carro barulhento e gastão, o Kardian realmente muda alguns parâmetros para tornar o comportamento mais esportivo no modo Sport e mais pacato no Eco. Não que as mudanças afetem a dirigibilidade de maneira significativa, mas elas são bem perceptíveis quando há alternância entre uma e outra. O terceiro modo, chamado MySense, é personalizável conforme as preferências do motorista.
No fim das contas, o Kardian realmente é um carro que agrada em muitos aspectos, mesmo com alguns pontos a melhorar, como a central multimídia, por exemplo. Contudo, não há dúvidas de que este é o melhor carro da Renault fabricado no Brasil nos últimos anos, com um conjunto muito bem afinado no geral, bom espaço para a sua categoria e boa dose de segurança e tecnologia. Uma evolução muito bem-vinda para a marca.
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