LUÍS FELIPE FIGUEIREDO
De ascendência cubana, o americano Alfonso Albaisa, de 46 anos, está na Nissan há 22. Em abril ele assumiu a vice-presidência na Nissan Design America, divisão da fabricante responsável pelo desenho dos veículos vendidos na região americana (incluindo a marca de luxo Infiniti). Entre os projetos que liderou está o do crossover Juke e do hatch March, que será vendido no Brasil em 2011. A entrevista abaixo foi concedida durante o Salão do Automóvel de São Paulo, em outubro.
Você está na Nissan há mais de 20 anos. Sente-se livre para expor qualquer ideia?
Sou livre para propor o que quiser. Mas a liberdade requer equilíbrio e boa resposta por parte do consumidor. Sem isso o carro pode ser um desastre. O desenho pode ser lindo, mas inútil se ninguém o quiser.
Dizem que o bom desenho é o que vende. Você concorda?
Vender significa o quê? Números apenas ou o consumidor estar ligado a sua proposta? Talvez ‘vender’ não seja a melhor definição. Mas atender o que o consumidor quer. Prefiro esta opção.
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Há quem diga que os desenhos dos Nissan são estranhos, talvez “inovadores demais”. O que você acha?
Temos alguns que são mesmo especiais, diferentes. Há os que não são para todo mundo, como o Cube. Nem todos querem um carro que se parece com um caixote. São para pessoas apaixonadas. Mas também temos carros para o público mais tradicional.
Então vocês não estão jogando para grandes volumes?
Mesclamos isso. Temos modelos de grandes volumes, como o Qashqai, e outros “especiais”.
O que o você mudaria nos carros vendidos no Brasil?
Já vai começar a mudar com a chegada do March (foto abaixo).
As pessoas percebem seus carros da mesma forma em todos os países do mundo?
Conversamos muito para entender essas questões. Atuamos na Indonésia, Brasil, Europa e Índia. Estudamos os consumidores dessas regiões e traçamos áreas comuns entre eles. É bastante desafiador.
Não seria mais fácil e eficaz em termos de vendas ter produtos desenvolvidos especificamente para as regiões, em vez de tentar agradar a todo mundo?
Esse é o meu trabalho, representando o Brasil. Nos carros que vão ser vendidos em outras partes do mundo há itens que agradam os brasileiros. Somos muito conscientes a respeito disso. É um trabalho constante, vamos mudar outras coisas nos modelos que já são conhecidos.
O desenho do sedã Tiida, por exemplo? Seu desenho não agrada a todos…
Esse é um carro vendido globalmente, não podemos mudá-lo apenas para o Brasil. De toda forma, o próximo será bem diferente. Não porque o consumidor acha o atual ruim, mas porque é preciso mudar.
Qual é seu desenho preferido?
Posso dizer que ele ainda não existe. É o próximo que vou fazer. Mas admito que o Porsche 911 me faz virar a cabeça na rua. Pode ser uma resposta meio conservadora, mas é verdade. E é um desenho feito nos anos 60.
Daqui a 40 a ou 50 anos as pessoas falarão da mesma forma de seus desenhos?
Espero que sim. Na verdade, como meu cargo atual é mais administrativo, vejo essa esperança no rosto de meus amigos que efetivamente desenham os carros.