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Round 6, da Netflix, traz cena baseada em fatos reais de greve em fábrica de carros
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Round 6, da Netflix, traz cena baseada em fatos reais de greve em fábrica de carros

Febre mundial, Round 6 faz referência à greve de funcionários da SsangYong, um dos eventos mais trágicos da indústria automobilística

Jady Peroni, Especial para o Jornal do Carro

21 de out, 2021 · 7 minutos de leitura.

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round 6
round Round 6 faz referência à greve de 2009 que ocorreu na fábrica de SsangYong, na Coreia do Sul.6
Crédito:Reprodução/Netflix

Desde a estreia, em setembro, a série Round 6 virou febre mundial. A trama retrata um lado sombrio da sociedade sul-coreana. Pessoas endividadas de várias camadas sociais topam participar de jogos secretos e mortais. Tudo por um prêmio milionário em dinheiro vivo. Com produção original da Netflix, a história é cheia de reviravoltas e, embora seja uma ficção, tem cenas baseadas em fatos reais. Pois uma delas remete a um episódio triste que marcou a indústria de carros na Coreia do Sul.

Provavelmente, o público sul-coreano deve ter reconhecido de imediato a referência feita à greve de trabalhadores que ocorreu na fábrica da SsangYong, em 2009. Afinal, na tradução, o nome da marca de carros significa ”Dois Dragões”. Ou seja, muito parecido com o nome da empresa fictícia “Dragon Motors”, citada no quinto episódio de Round 6.

Greve na vida real

Foto: Lee Jin-man

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A SsangYong, que chegou a vender carros no Brasil na última década, entrou em processo de falência em 2009, fruto da crise mundial de 2008. Assim, com uma dívida de cerca de US$ 258 milhões, a montadora iniciou um plano de reestruturação na sede, em Pyongtaek. A nova estratégia, contudo, exigia a demissão em massa de 2.600 funcionários.

Entretanto, as condições ruins e a falta de acordo entre as partes levou um total de 974 trabalhadores da fábrica a organizarem greve que durou longos 77 dias. Dessa forma, em maio de 2009, os funcionários, apoiados pelo Sindicato local, ocuparam todo o espaço da fábrica, dando início ao episódio retratado na série da Netflix.

Alerta de spoiler!

No quinto episódio de Round 6, os jogadores constroem uma espécie de barricada na hora de dormir. Então, nesse momento, o protagonista, Seong Gi-Hun, relembra de acontecimentos do seu passado que, de alguma forma, conduziram-no até aquela situação.


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Reprodução/Netflix

O flashback retoma para a época em que Seong fazia parte do quadro de funcionários de uma montadora de veículos chamada ‘‘Dragon Motors”. Contudo, a cena retrata uma greve de funcionários contra as demissões em massa que estavam ocorrendo. Ele, então, lembra que um colega da fábrica que se negou a aderir a greve acaba morto no conflito.

Logo depois, a cena volta para o momento atual e Seong percebe que, desde a sua demissão após aquele episódio, nunca mais se recuperou. Com dívidas e viciado em apostas, o personagem entra para o grupo de pessoas que participam de jogo macabro.




Embate com a polícia

Fotografia: Kim Jae-hwan / AFP / Getty Images

Por volta de julho de 2009, com o apoio da SsangYong, a polícia se envolveu na repressão munida de autorização judicial. Assim, começou o embate com armas não letais, como balas de borracha, bombas de gás e cassetetes. Mas esse foi apenas o início.

Durante mais de dois meses de confronto, os grevistas foram cercados e barrados de receberem visitas. Além disso, suprimentos como água, energia e, até mesmo, comida não eram enviados para dentro da fábrica. Logo depois, helicópteros sobrevoavam 24h por dia para impedir que as pessoas conseguissem dormir.


Em contrapartida, os funcionários que estavam na fábrica viviam diariamente fazendo barricadas, bombas caseiras e outras armas improvisadas para se defender dos ataques policias. Nesse período, há registro de mais de 50 pessoas feridas.

Fotografia: Kim Jae-hwan / AFP / Getty Images

Acordo judicial

Já no final de julho, os trabalhadores se mudaram para a ala de pintura dos carros. O intuito era sessar com os ataques, já que a tinta era inflamável. Os grevistas diziam estar dispostos a resolver a situação de forma pacífica, mas que, caso os ataques continuassem, iriam lutar por seus direitos. Em agosto daquele ano, um acordo, então, foi firmado.


Por fim, a SsangYong ofereceu uma espécie de aposentadoria prévia para 52% dos trabalhadores. Os outros 48% teriam licença de um ano, sem vencimento. Após o fim da greve, 70 pessoas foram presas.

Promessas sem retorno

Fotografia: Kim Jae-hwan / AFP / Getty Images

Apesar do acordo, cerca de 153 funcionários foram demitidos. Os 48% que conseguiram a licença, nunca mais foram chamados para voltar ao trabalho. De acordo com a imprensa local, em 2018, uma comissão concluiu que a polícia cometeu violações dos direitos humanos. Contudo, nenhuma ação foi feita até hoje.


Os manifestantes afirmam que 30 pessoas perderam a vida por conta dos desdobramentos de uma das greves mais duradouras e sangrentas da história da indústria automobilística. A maioria das mortes se registra como suicido. Isso porque muitas delas desenvolveram depressão e outros problemas psicológicos após os conflitos em Pyongtaek.  

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