Uma recente atualização de software (feita no modo remoto over-the-air) permitiu à Tesla adicionar games a maioria dos carros de seu portfólio. Nesse sentido, a empresa de veículos elétricos de Elon Musk passou a permitir que motoristas joguem videogame por meio da tela central do veículo, mesmo enquanto dirigem.
De acordo com o jornal The New York Times, os jogos podem ser jogados tanto pelo motorista quanto pelo passageiro, o que levanta novas questões sobre segurança a bordo dos carros da Tesla. Fica o dilema: até que ponto a tecnologia pode avançar?
Até então, os jogos de videogame só podiam ser reproduzidos com o veículo parado. Com a nova regra, entretanto, há apenas a emissão de um aviso sonoro. Dependendo do game, já na tela inicial, aparece a seguinte descrição: “Trata-se de um jogo para todas as pessoas, mas apenas passageiros devem jogar com o carro em movimento”.
Dá para burlar
Na prática, todavia, o sistema pode ser perfeitamente burlado. Em síntese, embora o jogador deva indicar que não está dirigindo, nada o impede de ignorar o aviso e jogar o game. A situação é preocupante. Afinal, dados da National Highway Traffic Safety Administration (NHTSA) indicam que, nos Estados Unidos, mais de 3.100 pessoas morreram em decorrência de acidentes envolvendo motoristas distraídos. Os dados são de 2019.
O órgão ainda aponta outra combinação perigosa entre direção autônoma e motoristas distraídos. Isso causou, pelo menos, 12 mortes no trânsito desde 2016. Em todos os casos, modelos da Tesla no modo piloto automático. Nesse sentido, a NHTSA pode intervir na decisão de inclusão dos games. E orientar ou mesmo regulamentar a ação. A Tesla, que não tem assessoria de imprensa, não comentou o caso até o momento.
Motorista dorminhoco
O sistema de piloto automático da Tesla enfrenta diversas críticas – com base em fatos. No Brasil, houve polêmica recente. Um flagra mostrou um motorista dormindo ao volante de seu Model 3. O caso (vídeo abaixo) foi registrado na Rodovia dos Imigrantes, que liga São Paulo ao litoral paulista. À imprensa, Rafael Zamarian Leonhardt, o dono do Tesla filmado, afirmou que estava usando o Auto Pilot. Contudo, garante que estava acordado, mas apenas em uma posição mais confortável.
Independente de estar ou não com atenção na pista, a ausência de intervenção do motorista é uma ação arriscada. E é contra a lei. De acordo com a Tesla, o sistema atual – considerado de nível 2 -, exige que os condutores mantenham as mãos no volante. Assim, a tecnologia funciona para auxiliar o motorista. Ou seja, não serve para dirigir por ele.
Do lado técnico, cabe salientar que o sistema é composto por oito câmeras e 12 sensores. Dessa maneira, permitem ao veículo acelerar, fazer curvas e frear automaticamente. Manutenção de faixa também faz parte do pacote.
E se você pensou: “Ah, então carro dirige sozinho”. Mas não é assim. Para se ter ideia, apenas o nível 5 – em desenvolvimento pela Tesla – será capaz de conduzir o veículo sem qualquer intervenção do motorista. Seria, neste caso, um veículo 100% autônomo.
Mãos no volante
Portanto, cabe salientar que nenhum modelo de veículo atualmente permite tirar as mãos da direção por tempo indeterminado. Muitos carros, aliás, solicitam – por meio visual e sonoro – que o motorista coloque as mãos no volante após alguns segundos sem intervenção. De acordo com o Código Brasileiro de Trânsito (CTB), a legislação considera conduta irregular, até mesmo, dirigir apenas com uma das mãos.
Salvo situações como manusear o sistema de entretenimento do veículo ou trocar de marcha, as duas mãos devem sempre estar no volante. Do contrário, o motorista pode levar multa gravíssima. Além de desembolsar R$ 293,47, o infrator ganha sete pontos no prontuário da Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
À época da polêmica, o vice-presidente da Abramet, Dr. Ricardo Hegele, conversou com o Jornal do Carro. Ele destacou a extrema necessidade de atenção na via. “Nós precisamos de uma infraestrutura para que esses veículos possam se locomover de forma segura. Mais que isso. Se faz necessária a infraestrutura comportamental. Falhas acontecem. Por isso, precisamos de um condutor capacitado física e mentalmente”.