Há exatos 15 anos, o queridinho dos executivos, dos taxistas e até de parlamentares deixava as linhas de produção do Brasil. Nascido na Europa como a segunda geração do Passat, o Santana foi um dos carros mais emblemáticos da Volkswagen no mercado nacional, com produção entre 1984 e 2006. Nesses 22 anos, foram apenas duas gerações e, de quebra, a companhia da perua Quantum. O sedã médio nunca foi além da motorização 1.8 e 2.0, mas fez história com o primeiro câmbio automático na VW.
Para tentar quebrar o sucesso de Chevrolet Monza e Ford Del Rey, o Santana foi o primeiro carro de luxo da marca oferecido no País. Teve produção global. Era feito em diversos países, como Argentina e até China, onde ainda é vendido ao lado das versões hatch e aventureira. Por lá, teve configuração alongada, pois os chineses prezam muito o espaço entre-eixos.
Características do Santana
Com visual quadradão, o Santana representava bem o papel ao qual se propunha, afinal, seus 4,53 metros de comprimento e entre-eixos de 2,55 metros perturbaram a concorrência. Aliás, para peitar os rivais, a Volkswagen tratou de incluir na gama uma versão com duas portas (algo impensável nos dias de hoje). Essa, no entanto, teve fabricação apenas no Brasil.
Na parte de trás, sob as lanternas horizontais que ladeavam a placa de identificação, se escondia um porta-malas de 394 litros de capacidade. O estepe ia em pé.
Do lado de dentro, todavia, características típicas da década, como ar-condicionado acionado por alavancas, relógio digital no cluster, cinzeiro e acendedor de cigarros. O volante, com quatro raios, abrigava os quatro pontos de buzina. De início, eram três versões de acabamento: CS, CG e a topo de linha CD, que tinha até lavador de faróis.
Motorização
Em relação à mecânica, a princípio, o Santana vinha equipado com motor AP-800 1.8, carburado, de 92 cv, abastecido com álcool. O câmbio manual de quatro marchas mais overdrive, ficou conhecido como 4+E. E havia opção de câmbio automático de três marchas.
Sua primeira atualização veio em 1987, adotando mudanças nos para-choques, spoilers e faróis. Houve, contudo, adição de equipamentos como, por exemplo, lanternas de neblina. O motor ganhou 4 cv e desenvolvia, então, 96 cv. Na sequência, veio o Santana 2000, com atualizações tanto em motor quanto em visual.
Nova geração
Em 1991, o Volkswagen Santana ganhou atualização geral (salvo plataforma, teto e portas). E foi dele que derivou o Ford Versailles — fruto da Autolatina. O novato foi todo renovado, com desenho mais arredondado, frente mais baixa e traseira mais imponente. Isso, aliás, fez o porta-malas aumentar a capacidade para 413 litros. Agora, o estepe ficava sob o assoalho.
O AP-2000i (com catalisador) rendia 120 cv. Em 1993, no entanto, ganhou injeção eletrônica. Três anos mais tarde — quando já não era mais considerado sedã de luxo, por causa da chegada do Passat Alemão, em 1995 —, foi a vez da nova injeção multiponto para os motores 1.8 e 2.0.
Na China
Já com visual mais limpo, como para-choque integrado à grade dianteira e ausência de quebra-vento, os últimos modelos do Santana receberam os sobrenomes Comfortline e Sportline. Eis que, por ser um projeto velho e não oferecer comodidades como motor flex, por exemplo, foi caindo no ostracismo até sair de linha, em junho de 2006.
Na China, o público “abraçou” o Santana. Só a primeira geração teve produção até 2012. Por lá, além do Santana 2000 (igual o brasileiro) teve, no entanto, o Santana 3000. Com o tempo, o modelo diminuiu e tem plataforma semelhante a do Voyage. Daí surgiram os rumores de que o Santana voltaria ao Brasil. Porém, quem ocupou esse posto foi o Virtus. Ou seja, tudo não passava de especulação.
O primeiro proprietário do Santana no Brasil
Em junho de 1984, quando o Santana estava prestes a chegar às concessionárias, a Volkswagen resolveu fazer um sorteio com todos os seus funcionários no Brasil — cerca de 35 mil pessoas, à época. O vencedor, levaria um Santana zero-km. Aliás, o primeiro produzido no País.
O contemplado, após sorteio na Ala 7 da fábrica da Anchieta, foi José Roberto de Souza (foto abaixo), que era fresador-ferramenteiro na Volkswagen. Hoje com 68 anos, ele conta que estava trabalhando em uma ferramenta quando um telefonema o avisou de que ele era o primeiro proprietário de um Santana no Brasil.
Desconfiado de que seria um trote, Souza só se deu conta quando foi cumprimentado pela diretoria da marca e aplaudido pelo público presente no sorteio. Quando questionado pelo pessoal da comunicação interna da fábrica, à época, sobre o que faria com o prêmio, ele respondeu que venderia o carro para quitar sua casa ou comprar outro imóvel.
Fatos inusitados
E, no entanto, foi o que fez, depois de um ano de uso do modelo. “Vendi por 19 milhões de cruzeiros (moeda da época) e, então, comprei uma chácara”, relembra Souza.
Nesse sentido, durante o ano que ficou com o carro, Souza colecionou diversos fatos curiosos. “A minha garagem não era coberta, tinha portão vazado, e o dia inteiro tinha gente chamando no portão, pedindo para ver o carro”, conta ele, que chegou a temer pela segurança.
“Como era um carro muito chamativo, acabei precisando pagar para deixá-lo em um estacionamento, afinal, só eu tinha esse carro no Brasil!”, rememora. Souza conta que, ao dirigir-se à Aparecida (SP), foi abordado pela Polícia, na estrada. Entretanto, a intenção dos agentes era, exclusivamente, ver o carro. “Me pediram para abrir motor, porta-malas, quiseram ver o interior. Nunca vi algo assim antes, mas é compreensível, afinal, o Santana era uma revolução no mundo automotivo.”
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Inscreva-seMotorista veterano
Mesmo após 15 anos fora de linha, o Volkswagen Santana se mantém vivo no cotidiano de muitos brasileiros. Entre eles, está o aposentado Antônio Genez Parize (foto abaixo). Mas ele não é qualquer condutor, afinal, o aposentado tem 102 anos. “O carro é o xodó dele”, afirma a cuidadora, Maria Lúcia Soares da Silva.
E a paixão por dirigir o sedã da VW é tanta que ele acaba de concluir mais um ano dessa parceria. Nas últimas semanas, o morador de Avaré (SP) renovou sua CNH. Ato, no entanto, que se repete há 55 anos. A ideia de Parize é continuar desfilando a bordo de seu Santana, na cor vinho. Ele afirma que o carro é seu meio de locomoção para atividades corriqueiras como ir à academia, ao mercado e visitar os amigos.
Mas é possível dirigir nessa idade? Segundo o Detran, a resposta é “sim”, contanto que o veterano não circule em vias de trânsito rápido. No laudo do médico credenciado pelo órgão consta que o idoso não pode conduzir o veículo em rodovias e, nesse sentido, está proibido de botar as mãos no volante após o pôr do sol.
Condutores nessa idade precisam comparecer presencialmente a cada renovação – isso porque o sistema foi configurado para bloquear renachs de quem tem mais de 100 anos. De acordo com a Resolução 245 do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), que dispõe sobre exame de aptidão física, são exigidos procedimentos como avaliações cardiorrespiratória, neurológica e do aparelho locomotor. Comportamento e atitude frente ao examinador e exames complementares ou especializados, solicitados a critério médico, também são praxe.