Uber ganha rivais que beneficiam motoristas e não os usuários

Fui ao Rio de Janeiro por um motivo pessoal bem triste. O homem que me inspirou a escrever sobre carros agora está desmontando carburadores no céu. Chegando lá, pego um táxi no Aeroporto Santos Dumont, daqueles credenciados. Havia dois copos vazios (lixo) no assoalho da parte traseira. Os afasto com os pés e sento. Dois km após a partida, o taxista abre a janela e xinga a mãe de um funcionário da CET. Fecha a janela e repete o xingamento para mim, esperando uma corroboração que não veio. No fim, a corrida deu R$ 43,50.

Hora da volta, decido arriscar o uso do Uber pela primeira vez na Cidade Maravilhosa. O carro chega, o motorista desce para abrir a porta para mim. Antes de entrar já sinto o bom cheiro que domina o hábituculo. O dono do carro, Paulo Fernandes, já havia sido motorista de executivos, está acostumado com esse tratamento. Por uma coincidência, nos dois usos estavam lá presentes os estereótipos dos serviços em sua plenitude, que nem sempre representam a causa.

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Porém, mais do que apontar falhas ou virtudes, o objetivo desse post é abordar as mudanças que estão acontecendo. Fernandes, do Uber, era motorista de táxi. Pagava 120 de diária, trabalhava oito horas por dia e fazia a sua grana, como ele mesmo disse. Até que um dia ele acabou sua jornada diária, abasteceu o carro para devolver, foi contar o dinheiro para pegar a taxa e teve que tirar do bolso mais R$ 50. Oito horas de trabalho resultaram em prejuízo, ele pagou para trabalhar. Foi o dia da ruptura.

Após isso ele comprou um Volkswagen SpaceFox e entrou no Uber. Consegue fazer o mesmo dinheiro que fazia antes do táxi dar prejuízo, só que agora tem que trabalhar por 14 horas. A diária agora é variável, paga na razão de 25% do valor das corridas ao aplicativo. “Se trabalha bem mais, pois as corridas são baratas, mas não pago mais para trabalhar. Não vou morrer abraçado ao táxi”. Ele tem razão: o mesmo percurso na volta deu R$ 21,54, quase a metade do preço.

Mas se o Uber é concorrente do “statu quo” do funcionamento da cadeia de táxis, o próprio Uber já começa a ver sua rede invadida sob a forma de outros aplicativos como o T81 e o TeLevo. A diferença é que essas aplicações não apresentam benefícios para o usuário, como Uber tem em relação ao táxi. Ele parte para a briga com o funcionamento do Uber.


O T81, por exemplo, aceita pagamento em dinheiro e cartão (o Uber só aceita cartão) e cobra R$ 2 de cada corrida feita, independentemente do valor. Já o TeLevo usa o mesmo benefício do cartão ou dinheiro e é até mais agressivo: corridas em dinheiro são todas do motorista, enquanto as com cartão são tarifadas em 15%.

Em todo negócio é o consumidor que manda, que cria a demanda, mas é preciso que o prestador de serviço também seja beneficiado para que não haja um problema na cadeia de fornecimento. Já há casos de pequenos golpes e serviços pésimamente prestados no próprio Uber. Mas como em todo serviço novo, o tempo vai fazendo suas adequações e seleções naturais.

E ainda mais coisas vindo por aí, como os carros compartilhados associados aos sistemas autônomos. Futuro distante? Talvez. Mas quem iria dizer, há três anos, que o sistema de traporte particular mais arraigado e icônico do mundo, o táxi, estaria correndo risco de extinção.


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