Dez meses após desligarem as máquinas no início da pandemia, as fábricas de motos da Zona Franca de Manaus vão parar novamente por causa do coronavírus. Em coletiva com jornalistas, o presidente da Abraciclo, Marcos Fermanian, afirmou que a situação é delicada na capital do Amazonas. E que algumas fábricas já pararam a produção nesta semana.
“Todos os esforços têm sido feitos para, então, minimizar o problema de saúde pública. Alguns dos nossos associados estão com dificuldade para manter a produção. Nosso maior fabricante (a Honda) vai parar esta semana. A maioria está trabalhando em um turno, e isso vai afetar a produção de janeiro”, disse Fermanian na transmissão ao vivo.
Estoques estão curtos
Diferentemente de 2020, quando a indústria foi surpreendida pela pandemia, o momento é de retomada. O mercado caiu 15%, e as fábricas planejavam acelerar a produção neste início de 2021 para, dessa forma, repor estoques e atender à demanda aquecida. Contudo, com a pandemia da Covid-19 em seu pico, a Abraciclo alerta para a falta de motos.
“Os estoques terminaram 2020 muito baixos. E tínhamos uma expectativa de repô-los em janeiro e fevereiro, para, dessa forma, atender à demanda de espera. Todas as modalidades estão sofrendo, desde bancos de financeiras que têm propostas aprovadas a revendas que aguardam as motos chegarem”, relatou o presidente da Abraciclo.
Segundo Fermanian, a situação dos consórcios preocupa. Há cerca de 100 mil motos em fila de espera. “O consórcio tem uma pendência muito alta. Então, nesse momento precisamos contar com o apoio da sociedade. Não é que o sistema não está cumprindo (a promessa). Há uma dificuldade que a nossa indústria está enfrentando em Manaus”, explicou.
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A Abraciclo também divulgou os números da indústria brasileira de motos em 2020. Apesar da queda, o balanço é considerado positivo pela indústria. Entre janeiro e dezembro do ano passado foram emplacadas 915.157 motocicletas no país, um total 15% menor do que o de 2019, quando o mercado nacional comprou, então, 1.077.234 motos.
Entretanto, nos últimos cinco meses de 2020 as vendas retornaram aos níveis anteriores à pandemia. Assim, as montadoras sustentam o discurso otimista (mesmo diante da situação de calamidade pública em Manaus). E projetam crescimento de 7,1% no varejo. Além de um incremento de 10,2% na produção, que caiu 13,2% no último ano por causa da pandemia.
“Hoje não conseguimos atender à demanda. As regras de combate da Covid-19, que são essenciais, reduziram a capacidade presencial de colaboradores nas fábricas. Mas o mercado de motos vai continuar crescendo. Vamos torcer para que as autoridades consigam resolver a situação da pandemia para voltarmos à normalidade o mais rápido possível”, disse Fermanian.
Preços vão subir
Apesar da confiança demonstrada no país, a Abraciclo sinaliza que haverá aumento nos preços das motos nacionais e importadas. Uma das causas é o custo de insumos básicos, como aço, alumínio e borracha, que encareceram com a alta do dólar. Da mesma forma, a “segunda onda” da pandemia provocou atrasos e falta de peças. E aumento dos custos alfandegários.
“Não repassar esses aumentos ao consumidor é, portanto, um desafio que vai se acentuar em 2021”, avalia Fermanian.
Além disso, a indústria amarga a decisão do governo de São Paulo de aumentar o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). Para o presidente da Abraciclo, quem mais sofrerá são os consumidores com renda de até três salários mínimos. “Estes infelizmente sentirão maior impacto no preço da motocicleta”, aponta Fermanian.