Primeira Classe

Dieselgate, 2 anos: o que mudou no ‘reino’ VW

Dois anos após a explosão do 'Dieselgate', empresa teve diversas perdas e mudou direcionamento para salvar imagem

Rafaela Borges

19 de set, 2017 · 9 minutos de leitura.

dieselgate" >
Dieselgate
Crédito: Fraude aos testes de emissões é um dos maiores escândalos da história

Dois anos atrás, eu saía do Salão de Frankfurt (Alemanha) em direção à Veneza, para o lançamento mundial do Audi A4. No dia seguinte, retornei da cidade italiana para a alemã, a fim de embarcar em meu voo de volta ao Brasil. No aeroporto, encontrei diversos jornalistas chocados.

Por quê? Naquele dia, o mesmo da abertura ao público do Salão de Frankfurt, explodiu aquele que, em minha opinião, é o maior escândalo da história da indústria automobilística: o Dieselgate.

Assim ficou conhecida a fraude aos testes de emissões de poluentes por carros a diesel efetuada pela Volkswagen. O caso envolveu a maior parte das marcas do conglomerado automotivo alemão – inclusive a Porsche.

Publicidade


Os desdobramentos do caso foram noticiados à exaustão no decorrer daquele ano. Até hoje, novas informações sobre o Dieselgate causam repercussão.

Nesta terça-feira, por exemplo, a Volkswagen do Brasil foi condenada a pagar cerca de R$ 1 bilhão a donos da Amarok. A picape é o único modelo à venda no Brasil envolvido no Dieselgate.

Diversos executivos do grupo alemão foram afastados da companhia. Entre eles, “caiu” o então presidente, Martin Winterkorn. Nunca, porém, nenhum executivo foi oficialmente responsabilizado pela fraude.


As consequências para o Grupo Volkswagen foram profundas. Isso porque a marca pagou, apenas nos EUA (onde o escândalo explodiu), US$ 11 bilhões em multas.

Além disso, a VW teve de fazer recall em milhares de modelos por todo o mundo. A marca promoveu essa ação inclusive no Brasil, com a Amarok.

Gigante da indústria automobilística, a empresa conseguiu sobreviver ao “rombo”. Porém, teve de tomar diversas medidas para contornar a perda.


Além de “enxugar” as gamas de seus modelos em alguns mercados, a empresa reduziu drasticamente seu investimento no automobilismo. Existia um forte rumor de que a Volkswagen ingressaria na Fórmula 1, por meio da Audi, para concorrer com a Mercedes.

Em vez disso, a VW retirou a Audi do Mundial de Endurance (WEC), que inclui a 24 Horas de Le Mans e demanda altíssimos investimentos. A marca do logotipo das argolas se transferiu para a Fórmula E, voltada exclusivamente a elétricos.

Além da redução no investimento, a “migração” ajudou a marca a mostrar ao mundo seu novo direcionamento. A ordem agora é substituir a aposta no diesel pela vanguarda no segmento de carros elétricos (leia mais abaixo).


Isso porque no WEC, campeonato com protótipos altamente tecnológicos que são laboratórios para carros de rua, os modelos da Audi eram a diesel.

Porém, a Porsche, que corria no WEC com híbridos a gasolina, também anunciou que está “caindo fora” da categoria. O destino? Fórmula E.

Outro fruto da economia resultante do “rombo” financeiro se vê no Salão de Frankfurt deste ano – que termina domingo (24). Enquanto outras marcas alemãs investiram em estandes imensos, com soluções altamente tecnológicas e uma infinidade de modelos lançados, a participação da Volkswagen foi bem mais discreta.


Na última edição do salão, em 2015, a Audi tinha um pavilhão exclusivo. Pavilhão este com amplo uso de tecnologia 4D, para contar a história da marca no automobilismo, e direito até a uma sala de gelo.

Desta vez, a Audi ficou junto com as demais marcas do grupo, “apertada” no mesmo pavilhão. E, assim como a Porsche e a própria Volkswagen, mostrando poucos lançamentos – nenhum, aliás, já que o novo A8 já havia sido apresentado.

Tanto Volkswagen quanto Audi investiram em protótipos que mostram o que a marca quer ser no futuro: sustentável. Por outro lado, em seu salão caseiro, a empresa praticamente desapareceu diante da grandiosidade das exposições de BMW e Mercedes.


Porém, há também uma boa notícia para a Volkswagen. Apesar dos escândalos, e da reputação abalada (veja abaixo), a empresa conseguiu fechar o ano de 2016 como líder mundial de vendas.

 

SALVANDO A IMAGEM: O GRADUAL ABANDONO DO CARRO A DIESEL


O Grupo Volkswagen mentiu e fraudou para fazer consumidores e governos acreditarem que seus carros poluíam menos que a realidade. A imagem da empresa ficou bastante abalada.

Como salvar a reputação? A VW optou pelo abandono gradual do carro a diesel, que, afinal de contas, foi o que causou o escândalo do “Dieselgate”.

A empresa agora abraçou de vez o carro elétrico e promete, até 2030, ter pelo menos uma opção com esse tipo de propulsor em cada gama.


Nos próximos oito anos, serão 30 híbridos do tipo “plug-in” (recarregáveis em tomada) e 20 carros totalmente elétricos. A marca está investindo 20 bilhões de euros, ao longo desta e da próxima década, para pesquisa e desenvolvimento de elétricos de híbridos.

Além disso, a Volks vem trabalhando com bastante empenho na missão de aumentar a autonomia das baterias que alimentam os motores elétricos. A empresa já mostrou protótipos de Audi e Porsche com cerca de 500 km de autonomia.

Ambos têm produção em série confirmada. A empresa, inclusive, vai começar a produzir baterias para carros elétricos.


No estande da Volks, a atração é o novo SUV compacto T-Roc. Porém, não há nenhum outro modelo de rua. Os demais veículos expostos são protótipos da linha “I.D.”

Esses conceitos antecipam a nova plataforma, exclusiva para elétricos, que a Volkswagen vai lançar. Nesse grupo há o I.D. Buzz, releitura da Kombi que já tem lançamento confirmado para a próxima década.

 


Colaborou Igor Macário

 

VEJA TAMBÉM: OS CARROS MAIS GASTÕES ATÉ R$ 70 MIL


 

 

Newsletter Jornal do Carro - Estadão

Receba atualizações, reviews e notícias do diretamente no seu e-mail.

Ao informar meus dados, eu concordo com a Política de privacidade de dados do Estadão e que os dados sejam utilizados para ações de marketing de anunciantes e o Jornal do Carro, conforme os termos de privacidade e proteção de dados.