Muitos podem dizer que o maior acerto da Fiat nos últimos tempos foi a Toro. E essa afirmação faz sentido, considerando o desempenho da picape no mercado (leia mais detalhes aqui). Porém, quando o assunto é exclusivamente a qualidade do produto, não há dúvidas. É o Fiat Argo o maior acerto da marca nos últimos tempos.
No mercado, por enquanto, ele nem está indo muito bem. A Fiat divulgou projeção de vendas de 6 mil unidades ao mês. Em julho, o modelo não chegou a 3.300 emplacamentos.
Porém, ainda é cedo para dizer se o Argo fará sucesso ou não. Por enquanto, foram apenas dois meses de vendas. Um produto novo pode levar tempo para conquistar o consumidor.
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Mas não estou aqui para falar sobre vendas. O assunto, agora, é a qualidade do Argo. Esqueçam as versões com motores menores 1.0 e 1.3. Nelas, nem entrei ainda.
O assunto desse post é o Argo 1.8. Mais precisamente, o 1.8 automático. Se eu for ser ainda mais específica, o carro que guiei foi o 1.8 automático Precision.
Meus caros, que carro! O Argo é surpreendente. E surpreende principalmente no quesito que jamais foi ponto forte da Fiat: a dirigibilidade.
Com o Argo, a Fiat deixou para trás suas suspensões molengas, que deixam carros como Mobi, Palio e Uno meio “bobões”. Na versão Precision, ela é bem firme, mas sem perder o conforto, embora resulte em algumas batidas secas em pisos mais irregulares.
A direção elétrica é muito precisa e tem boa progressão. É fácil manobrar o Argo.
Ao mesmo tempo, em velocidades mais altas e em curvas, o modelo não passa nenhuma insegurança. A direção é rápida, direta e não tem folgas.
O motor 1.8 de até 139 cv, acompanhado pelo câmbio automático de seis marchas, forma o mesmo conjunto usado no Jeep Renegade. Porém, no Argo, bem mais leve, seu comportamento é completamente diferente.
O hatch é rápido para acelerar e retomar velocidade em qualquer faixa de rotação. O câmbio, que no Renegade fica segurando marchas para melhorar o desempenho, não apresenta esse comportamento no Argo.
No modelo da Fiat, as trocas são feitas no momento certo, sem trancos e altas de rotação que geram nível de ruído desnecessário. É um comportamento mais progressivo.
Também merece elogios o acabamento. Os plásticos são de excelente qualidade e, na versão Precision, imitam fibra de carbono em algumas partes do painel.
As portas têm estofamento e o painel central usa faixa de alumínio. Essa versão é a única a ter 7” na tela da central multimídia. E por falar nela, entre as disponíveis no segmento, trata-se da mais fácil de usar.
O monitor é sensível ao toque, mas traz também dois botões laterais, para quem não gosta dessa solução.
Além disso, é possível espelhar o celular sem ter de necessariamente usar o Android Auto ou o Apple Car Play. Ótima pedida, já que esses recursos impedem o uso de alguns recursos do smarphone.
Não dá para dizer, porém, que o Argo 1.8 é perfeito. Ele tem lá suas falhas. A principal é o consumo alto. Durante minha avaliação, no computador de bordo, a média foi de 6,5 km/l de etanol (trecho urbano), alto para um compacto.
De acordo com o Inmetro, o Argo Precision faz, com etanol, 7,1 km/l na cidade e 9,5 km/l na estrada. Com gasolina, são 10,1 km/l e 13,2 km/l, respectivamente.
Além disso, há poucos porta-objetos. O porta-copos no painel central só acomoda latinhas. Se quiser colocar por lá uma garrafa de água, ela vai cair.
Não há nenhum compartimento central, só um porta-copos atrás. Lá, é o melhor lugar para deixar a chave – o exemplar estava equipado com partida por botão. Porém, é necessário certo malabarismo do motorista para alcancá-lo.
Além disso, os compartimentos nas portas são muito pequenos. Não cabe quase nada.
Por fim, tem o som estridente do alarme. É uma característica de todos os novos modelos da FCA, tanto Jeep quanto Fiat. Já está na hora de a empresa resolver esse problema, pois chega a ser constrangedor.
PARA QUEM É ESTE CARRO?
O Argo 1.8 não é um carro para quem precisa. É para quem quer.
Quem procura um carro com preço de Onix, HB20 e Ka, seus rivais, certamente vai optar pelas versões 1.0 e 1.4.
No caso da 1.8 automático, ela vem para ocupar o espaço que, antes, era território do Fiesta.
O modelo da Ford era uma escolha certa para quem queria um carro automático, com ESP e alguma sofisticação. Isso sem pagar preços próximos a R$ 80 mil, que hoje são os valores iniciais de um hatch médio com essas características.
É, também, um carro para quem gosta de modelos rápidos. Ele anda, e anda muito bem. Mais: é ideal para quem pode ter um médio menos equipado, mas quer um compacto que, além de trazer mais equipamentos, é mais fácil de manobrar.
O Fiesta era o carro preferido de pais de classe média que queriam dar um carro seguro e automático aos filhos. O Argo, agora, pode preencher perfeitamente essa lacuna.
Isso porque o modelo da Ford já está bastante defasado. Não tem, por exemplo, uma central multimídia com tela grande, algo de que esse tipo de consumidor faz absoluta questão.
Porém, o principal problema do Fiesta é que seu câmbio automatizado tem problema crônico, alvo constante de reclamações de clientes, e que a Ford parece não conseguir resolver. Isso acabou manchando um pouco a reputação do carro.
O Fiesta já está em testes com mudanças, que incluem novo visual, nova central multimídia e, espera-se, o adeus do câmbio automatizado. É possível que ele receba o automático de seis marchas do EcoSport.
O Argo 1.8 Precision automático parte de R$ 67.800, e chega a R$ 77.200 com todos os opcionais. Não é carro para quem quer economizar, e nem vai ser carro-chefe das vendas do Fiat, na luta com HB20, Onix e Ka.
Porém, ele certamente vai contribuir para dar boa fama ao carro. Porque, desta vez, a Fiat acertou. Mandou bem!
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