Primeira Classe

No Brasil em crise, carros caros ganham espaço nas vendas

Escalada dos carros caros no ranking de vendas não tem a ver com amadurecimento do mercado, e sim com perda de poder aquisitivo

Rafaela Borges

09 de ago, 2017 · 6 minutos de leitura.

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Carros caros
Crédito: Compass parte de mais de R$ 100 mil e foi o décimo mais vendido em julho (Foto: Nilton Fukuda/Estadão)

Na Europa, o Golf é o carro mais vendido. Por lá, há modelos simples, como Ka e Sandero. Nos EUA, esse posto é da picapona F-150. No Brasil, um fenômeno vem ganhando mais força nos últimos anos. Os carros caros, ou não populares, estão escalando o ranking de vendas.

Enquanto em 2012 o ranking dos dez mais vendidos não tinha nenhum não popular, em junho de 2017 três modelos ocuparam colocações nessa lista (leia mais abaixo).

É algo que não se via há muitos anos. Ou que, talvez, nunca tenha existido, pelo menos não após a chegada de novas montadoras, no fim dos anos 90.

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Uma leitura óbvia poderia apontar um amadurecimento do mercado brasileiro. Mesmo com ampla oferta de carros de entrada, como na Europa, o consumidor compra modelos de mais qualidade. No entanto, um estudo mais profundo mostra que o cenário não é este.

Pelo contrário: mostra um retrocesso de nossa indústria automobilística, motivada pela queda no poder de consumo. Sim, porque desde 2014 o Brasil está mergulhado em uma profunda crise.

Em 2017, houve momentos de melhora, até nas vendas de carros (e também queda nos índices de inflação). No entanto, ainda não dá para festejar. Nossa economia dá sinais de recuperação, mas continua patinando, gerando insegurança no consumidor.


A realidade é que as vendas de carros populares despencaram. O consumidor desses carros perdeu renda, perdeu crédito e, principalmente, está endividado.

Modelos como Up! e Mobi, que estão entre os mais baratos do País, raramente frequentam o “top 10” de vendas. Os dois carros mais vendidos podem até ser considerados populares, por terem motor 1.0. Porém, ambos começam em mais de R$ 40 mil.

 


OS CARROS CAROS ESTÃO GANHANDO ESPAÇO

Os carros caros, no entanto, não são Onix e HB20. Eles têm maior valor agregado que os antigos líderes (Gol, Palio, Uno, etc). Porém, estamos falando de modelos com preços iniciais sempre acima de R$ 70 mil.

Mais: suas versões mais vendidas custam em torno de R$ 100 mil (ou mais). Em julho, o “top 10” de vendas teve o Corolla, em sexto lugar, a Toro, em oitavo, e o Compass, em décimo.


Toro e Compass partem de cerca de R$ 100 mil. O Corolla começa na casa dos R$ 90 mil – há uma versão mais em conta, sob encomenda. Sua configuração mais vendida (XEi), porém, também sai por mais de R$ 100 mil.

Ao se analisar a lista dos 20 mais vendidos, há outros três modelos dessa faixa de preço: Renegade, HR-V e Creta.

 


ALTA FOI NA PARTICIPAÇÃO, NÃO NAS VENDAS

Na tabela abaixo, há um comparativo de vendas entre julho de 2007 (dez anos atrás), julho de 2012 (há cinco anos) e julho de 2017. O único carro de maior valor agregado que frequentou o “top 20” nesses três períodos foi o Corolla.

De 2007 para cá, até nota-se ampliação nas vendas do sedã médio. Porém, na comparação com 2012, o patamar de emplacamentos é o mesmo de 2017.


Isso mostra que não foram as vendas dos carros de maior valor agregado que evoluíram. Foram as dos demais modelos que despencaram.

 


 

Modelos como o Corolla, e os utilitários que chegaram a partir de 2015, não estão “roubando” vendas dos mais baratos. O consumidor não está trocando os populares por eles.

Pelo contrário: o consumidor está deixando de comprar carros. Não a classe média, e sim aquele que passou a ter acesso ao automóvel a partir do fim da década passada, graças, principalmente, à ampliação da oferta de financiamento.


É uma triste realidade: como no passado, o carro parece estar voltando a ser exclusividade das classes sociais média e alta. Isso é ruim para o consumidor, e também para a indústria.

 

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