Primeira Classe

Nova dona do mercado, Chevrolet é ameaçada pela Hyundai

Chevrolet se reinventou para ser a líder de vendas, mas há falhas em sua linha que serão atacadas por novos produtos da Hyundai

Rafaela Borges

09 de abr, 2017 · 10 minutos de leitura.

Nova dona do mercado, Chevrolet é ameaçada pela Hyundai
Crédito: Chevrolet se reinventou para ser a líder de vendas, mas há falhas em sua linha que serão atacadas por novos produtos da Hyundai

Picape do Creta, que será baseada neste protótipo, é o maior trunfo futuro da Hyundai (Foto: José Patricio/Estadão)

 

Na década passada, a Chevrolet estava capenga, capenga. Carros defasados, em gerações atrasadas ante as oferecidas em outros mercados e, principalmente, muito inferiores aos concorrentes. A marca se mantinha no clube das quatro grandes por oferecer preços competitivos nos produtos (antigos, já estavam com seus projetos pagos) e por ter bons contratos para vendas diretas. Um cenário que, em alguns pontos, lembra o que ocorre com a Fiat atualmente.

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(No Instagram: @primeiraclasse_estadao)

Em 2008, a matriz quebrou e foi socorrida pelo governo. Para piorar, alguns anos depois, gastou bilhões com um recall impulsionado por problemas no miolo da chave de ignição dos carros. O dinheiro para investir na subsidiária era escasso. Mas a Chevrolet do Brasil conseguiu se virar, e aproveitou o “caixa” da época em que vendia carros defasados, junto com o “boom” de vendas do mercado brasileiro, para dar a volta por cima.

Hoje, é líder de mercado. Mas a Chevrolet de hoje não é a mesma dos anos 80 e início dos 90. Naquela época, antes da abertura das importações, era considerada marca de luxo. Hoje, é popular. Totalmente popular. Inteiramente baseada no custo-benefício. E 70% focada no segmento de entrada.


Muitos clientes, mais antigos, podem até achar que ainda existe algum luxo na Chevrolet. Estão enganados. Não existe. O foco da marca, repito, é o custo-benefício.

Isso não quer dizer que os carros não são bons. Eles são sim. Não excelentes, mas carros que atendem bem o consumidor brasileiro. Eles têm o que o cliente quer e precisa.

A estratégia de produtos traçada pela Chevrolet é a mesma adotada pela Hyundai. Nos últimos anos, assim como a sul-coreana, a americana teve apenas dois carros capazes de fazer um bom volume. Então, por que uma é líder de mercado e a outra, quarta colocada?


Primeiramente, porque Onix e Prisma são líderes de seus segmentos, enquanto HB20 e HB20S são vices. Além disso, a Chevrolet consegue fazer a diferença em duas outras categorias. Sua picape compacta, Montana, somou um volume de 3.500 unidades emplacadas no primeiro trimestre. A média, S10, teve quase 6 mil vendas.

Já a Hyundai não faz mais diferença em segmentos de maior valor agregado, comercializados não pela subsidiária brasileira, mas pela Caoa. O ix35 quase desapareceu depois da chegada do Jeep Compass, e o novo Tucson não teve um bom começo.

Mas a Hyundai tem suas armas. A primeira delas já está no mercado: o Creta. A segunda é a picape baseada nesse jipinho, que chega este ano. O perigo mora aí.


Abaixo, vou listar alguns tópicos sobre a reinvenção e triunfo da Chevrolet. E por que a marca precisa tomar cuidado com a Hyundai.

Acertos. Jaime Ardila, que foi presidente da GM do Brasil e depois, da subsidiária latino-americana (ele se aposentou no ano passado), operou um verdadeiro milagre. Pegou uma marca em ruínas e a transformou em líder de vendas. Como? Investindo em carros mais populares feitos sobre uma única plataforma (isso te lembra a estratégia da Fiat, que também deu certo por anos)?

Para mim, são dois os principais méritos de Onix, Prisma e, em menor volume, do Cobalt. Eles oferecem bom espaço interno e uma central multimídia que é ótima de usar e, ao mesmo tempo, barata. Isso mesmo, pessoal: o futuro chegou, e hoje centrais multimídias são fundamentais nos carros, até nos de entrada. Nisso, a Chevrolet saiu na frente das rivais.


SUV. Esse é hoje o maior problema da montadora. O segmento de utilitários-esportivos é o segundo maior do Brasil em volume de vendas, atrás do de hatches compactos. Porém, o representante da montadora, o Tracker, nunca fez sucesso no Brasil. Ele mudou no início do ano: ganhou visual renovada e o mais moderno motor do segmento, o 1.4 turbo flexível.

Porém, em vez de impulsionar as vendas, isso parece ter as derrubado ainda mais. Em março, com cerca de 450 unidades vendidas (antes, eram de 700 a mil por mês), o Tracker foi praticamente o lanterna do segmento de SUVs compactos (sem contar os de marcas chinesas).

Resta saber se isso é falta de interesse do consumidor ou estratégia da marca, já que as importações de carros mexicanos estão limitadas. Nas concessionárias, a versão LT, de entrada, tem três meses de espera. A LTZ está disponível a pronta entrega.


Jaime Ardila, antes de deixar a Chevrolet, admitiu que o Tracker não havia dado certo no Brasil e contou que a empresa estava trabalhando em um novo jipinho, brasileiro. Resta saber se a chegada desse modelo continua nos planos da marca, após a saída de Ardila.

Seria muito importante para a Chevrolet, pois o Creta chegou fazendo bonito. Sem ter um trimestre completo de vendas, já é o quinto mais emplacado do segmento. Por enquanto, a Chevrolet consegue deter essa vantagem da Hyundai com as picapes. Mas não por muito tempo.

Picape. O modelo da Hyundai que chega neste ano será uma picape média feita sobre base de carro de passeio, como a Toro e a Oroch. A má notícia para a Chevrolet é que o modelo da Fiat teve cerca de 12 mil unidades vendidas no primeiro trimestre, o dobro da S10.


E como a Hyundai não entra em um segmento para brincar, é bem provável que a sua representante  não fique muito atrás.

Motores. Se nos segmentos de carros mais caros a Chevrolet tem um dos melhores motores do Brasil, o 1.4 turbo da linha Cruze e do Tracker, nos de entrada, os propulsores estão defasados.

Os motores 1.0 e 1.4 da marca são pouco eficientes e, para o segmento, gastões. A Hyundai, nesse quesito, tem outra vantagem: a linha HB20 já tem opção 1.0 turbo.


Rede. Na seção “Defenda-se” do Jornal do Carro, as queixas contra a Chevrolet são menos frequentes que as feitas em relação às marcas Ford, Fiat e Volkswagen. Os clientes parecem mais satisfeitos com os serviços da montadora americana.

E, no Brasil, ter uma rede com credibilidade é um dos segredos para se vender bem. Que o digam Honda e Toyota.

Fiat e Volkswagen? Sim, eu sei que essas duas marcas são segunda e terceira colocadas no ranking de vendas, mas não parece provável que elas sejam páreo para a Chevrolet nos próximos anos.


A Fiat não tem planejados lançamentos que prometem fazer grande volume. A Volks vai renovar o Gol, o que pode ser uma jogada certeira. Além disso, trará o novo Polo, um hatch premium, segmento que já não tem importância nenhuma no mercado brasileiro.

Nesse panorama, a maior ameaça à liderança da Chevrolet, hoje, atende pelo nome de Hyundai.

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