Não elogio mais a Petrobras: foi só comentar que nossa gasolina, verdadeiro lixo no passado, está se tornando uma das melhores do mundo, para a poderosa estatal do petróleo copiar a Shell e lançar o etanol aditivado nos postos da BR Distribuidora.
A Shell era a única a oferecê-lo, pois não há necessidade de se aditivar o etanol: seu teor de carbono é inferior a 30%, enquanto o da gasolina é superior a 80%. Por isso é chamado de combustível “limpo”: não suja o motor e nem o meio ambiente por dois motivos. Primeiro, por emitir menos C02 que o combustível fóssil. Segundo, porque o dióxido de carbono emitido é absorvido pela cana-de-açúcar no campo.
Então, para que o etanol aditivado?
O principal motivo é aumentar o faturamento das distribuidoras e dos postos às custas de convencer o motorista de sua necessidade.
Por que só a Shell o disponibilizava nos postos? Pura jogada de marketing. Como a aditivação é importante no caso da gasolina e ninguém explica ser desnecessária no etanol, os marqueteiros da Shell e – agora – também os da Petrobras arregaçaram as mangas e decidiram “criar dificuldade para vender facilidade”.
Essa combustão é irregular, provoca a tal “batida de pino” (que nada mais é que um choque de ondas) e prejudica a eficiência do motor, reduzindo potência, aumentando o nível de emissões e que pode até danificar os pistões.
Como a aditivação é desnecessária no etanol, havia um consenso entre as distribuidoras de combustíveis de se usar aditivos apenas na gasolina. E apenas duas delas decidiram o contrário: primeiro a Shell e, agora, a Petrobras, que, também de olho em engordar seu faturamento, acaba de lançar o etanol do tipo Grid, mesma denominação de sua gasolina aditivada.
Dourando a pílula
Algum problema em abastecer com o etanol aditivado? Nenhum, exceto para o bolso do motorista, que vai, literalmente, jogar dinheiro no lixo. Poderia teoricamente ter alguma vantagem com os argumentos dos marqueteiros.
É óbvio que a Petrobras “doura a pílula” e alega a presença de um “redutor de atrito” para atenuar o desgaste entre peças que se atritam como pistões, anéis e cilindros, apesar desta redução de atrito ser função do óleo lubrificante, não do combustível.
A BR Distribuidora diz também que os aditivos (dispersantes e detergentes) “contribuem para a limpeza do sistema de alimentação de combustível e retirada de impurezas pela combustão”. Plenamente correto no caso da gasolina, porém de necessidade duvidosa no etanol por seu baixo teor de carbono.
A distribuidora afirma contar também com um “inibidor de corrosão para auxiliar na redução do efeito corrosivo do etanol nas partes metálicas do motor”. O etanol pode realmente provocar uma espécie de “gosma” em alguns locais como o filtro de combustível. Mas, como ele é substituído regularmente, não se torna um problema. Tanto que jamais foi motivo de reclamações por parte dos usuários.
Não deixa de ser curioso que só agora, 16 anos depois de lançado o carro flex, a BR Distribuidora tenha percebido a necessidade de aperfeiçoar o etanol e evitar tantos prejuízos causados ao motor.
Resumo da ópera?
A Shell já confundia o motorista valendo-se da necessidade de se aditivar a gasolina para “vender o mesmo peixe” no etanol. A Petrobras entra na mesma onda e lança o desnecessário etanol aditivado, chamado Petrobras Grid.
Vale a pena utilizá-lo? Sim, para os donos de postos e distribuidoras de combustíveis, mas corrosivo no bolso do motorista.
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