Blog do Boris

Salão vai dançar?

Dos 700 mil visitantes que visitam o Salão de São Paulo, quantos têm saldo bancário para comprar uma Ferrari ou um Rolls-Royce?

Boris Feldman

17 de fev, 2020 · 7 minutos de leitura.

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Estande da BMW no Salão de São Paulo de 2018: última edição da feira teve recorde de público
Crédito: SERGIO CASTRO/ESTADÃO

O empresário Sérgio Habib contratou (em 2016) uma pesquisa na saída do Salão do Automóvel (no Anhembi) a respeito do estande da sua JAC Motors. Perguntava-se aos visitantes se tinham aprovado as modelos, sua roupa, conhecimento sobre os carros e a marca. Se os automóveis estavam bem expostos, a localização do estande, iluminação, fichas técnicas, etc. A maioria dos entrevistados aprovou, e apenas alguns itens foram criticados.

O “único” problema é que Habib não tinha montado um estande da JAC naquele ano, por já ter percebido o problema levantado agora por outras marcas: salão traz retorno ao investimento de milhões?

Os grandes salões internacionais estão às voltas com polêmica semelhante e várias marcas importantes não montaram estandes em Paris, Frankfurt, Detroit, Tóquio e outros.

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Marcas que estão de fora do Salão de São Paulo 2020

O Salão de São Paulo, terceiro maior do mundo e marcado para novembro deste ano, enfrenta o mesmo problema pois 14 marcas já negaram presença: Chevrolet, Hyundai, JAC, Peugeot, Citroën, Toyota, Lexus, BMW, Mini, Volvo, Mitsubishi, Suzuki, Jaguar e Land Rover.

Todas alegam altos investimentos, que variam de R$ 5 milhões  a mais de R$ 20 milhões, sem retorno efetivo de vendas e reclamam da impossibilidade de realizarem vendas no salão, pois a legislação brasileira proíbe a comercialização direta ao consumidor.

As de carros premium alegam que apenas uma insignificante parcela dos visitantes (estimados em 700 mil) tem condições de adquirir seus modelos. Pode até valer a pena, dizem elas, investir no imaginário de cada um. Mas, a que custo?


Além de vitrine para visitantes, os salões sempre repercutiram a novidade na imprensa. Entretanto, o peso crescente das redes sociais reduz a importância dos veículos tradicionais (impresso e tevê). Além disso, o grande número de novidades das dezenas de marcas dilui o impacto de cada uma na mídia e várias fábricas estão – mundo afora – apresentando novos modelos antes ou depois dos salões para garantir mais espaço nos veículos de comunicação.

A empresa que organiza o de São Paulo (Reed Exhibitions) está fazendo das tripas coração para tentar reverter a debandada. Até pelo risco de as marcas que confirmaram presença aderir à ideia da ausência. Ou pelo receio de baixa frequência se o público perceber seu esvaziamento.

Revivendo

O Salão de SP já enfrentou situação mais complicada: em 1986, a associação das montadoras (Anfavea) decidiu não participar coletivamente do salão, pois o mercado estava em baixa (devido ao Plano Cruzado) e os organizadores se recusavam a reduzir preços. A solução foi trazer 59 carros norte-americanos, europeus e asiáticos, de luxo e esportivos.


Verdadeiro colírio para os olhos do público numa época em que as importações estavam proibidas. E, para completar, pequenas empresas nacionais que produziam esportivos, bugies e carros customizados.

No próximo Salão de São Paulo, a decisão não é coletiva e várias montadoras confirmaram presença (Volkswagen, Fiat, Ford, Renault, Nissan, Jeep, Ram, Dodge, Troller) enquanto outras estudam: Honda, Mercedes-Benz, Porsche, Kia, Audi,  Ferrari, Lamborghini, Maserati, Rolls-Royce, Caoa Hyundai, Caoa Chery, Subaru.

Qual o plano da Reed? Ela promete uma grande reviravolta neste próximo salão, que será baseado, segundo ela, “em quatro grandes pilares: evolução, tecnologia, mobilidade e entretenimento”.


Pistas de testes (incluindo uma especial para veículos autônomos) serão disponibilizadas. Além disso, cada visitante terá um QR Code na pulseira para ser identificado e procurado mais tarde para se efetivar a venda.

A ideia de apelar para tecnologia e mobilidade em São Paulo vem de Las Vegas (EUA), onde acontece anualmente o Consumer Electronics Show (CES), que não é um salão de automóvel, mas de tecnologia e eletrônica.

Enquanto os tradicionais definham, o CES ganha relevância cada ano e atrai toda a indústria automobilística. Na última edição, no final de 2019, a Sony, que não produz nem pretende produzir automóveis, levou um protótipo para exibir seus dispositivos desenvolvidos para o setor.


O CES responde a questão do conceito do novo automóvel: veículo carregado de eletrônica ou computador sobre rodas?

Deve ser em Las Vegas que o Salão de São Paulo quer chegar…

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Oficina Mobilidade

Testes de colisão validam a segurança de um carro; entenda como são feitos

Saiba quais são os critérios utilizados para considerar um automóvel totalmente seguro ou não

03 de mai, 2024 · 2 minutos de leitura.

Na hora de comprar um carro zero-quilômetro, muitos itens são levados em conta pelo consumidor: preço, complexidade de equipamentos, consumo, potência e conforto. Mas o ponto mais importante que deve ser considerado é a segurança. E só há uma maneira de verificar isso: os testes de colisão.

A principal organização que realiza esse tipo de avaliação com os automóveis vendidos na América Latina é a Latin NCAP, que executa batidas frontal, lateral e lateral em poste, assim como impactos traseiro e no pescoço dos ocupantes. Há também a preocupação com os pedestres e usuários vulneráveis às vias, ou seja, pedestres, motociclistas e ciclistas.

“Os testes de colisão são absolutamente relevantes, porque muitas vezes são a única forma de comprovar se o veículo tem alguma falha e se os sistemas de segurança instalados são efetivos para oferecer boa proteção”, afirma Alejandro Furas, secretário-geral da Latin NCAP.

As fabricantes também costumam fazer testes internos para homologar um carro, mas com métodos que divergem do que pensa a organização. Furas destaca as provas virtuais apresentadas por algumas marcas.

“Sabemos que as montadoras têm muita simulação digital, e isso é bom para desenvolver um carro, mas o teste de colisão não somente avalia o desenho do veículo, como também a produção. Muitas vezes o carro possui bom design e boa engenharia, mas no processo de produção ele passa por mudanças que não coincidem com o desenho original”, explica. 

Além das batidas, há os testes de dispositivos de segurança ativa: controle eletrônico de estabilidade, frenagem autônoma de emergência, limitador de velocidade, detecção de pontos cegos e assistência de faixas. 

O resultado final é avaliado pelos especialistas que realizaram os testes. A nota é dada em estrelas, que vão de zero a cinco. Recentemente, por exemplo, o Citroën C3 obteve nota zero, enquanto o Volkswagen T-Cross ficou com a classificação máxima de cinco estrelas.

O que o carro precisa ter para ser seguro?

Segundo a Latin NCAP, para receber cinco estrelas, o veículo deve ter cinto de segurança de três pontos e apoio de cabeça em todos os assentos e, no mínimo, dois airbags frontais, dois laterais ao corpo e dois laterais de cabeça e de proteção para o pedestre. 

“O carro também precisa ter controle eletrônico de estabilidade, ancoragens para cadeirinhas de crianças, limitador de velocidade, detecção de ponto cego e frenagem autônoma de emergência em todas as suas modalidades”, revela Furas.

Os testes na América Latina são feitos à custa da própria Latin NCAP. O dinheiro vem principalmente da Fundação Towards Zero Foundation, da Fundação FIA, da Global NCAP e da Filantropias Bloomberg. Segundo o secretário-geral da entidade, em algumas ocasiões as montadoras cedem o veículo para testes e se encarregam das despesas. Nesses casos, o critério utilizado é o mesmo.

“Na Europa as fabricantes cedem os carros sempre que lançam um veículo”, diz Furas. “Não existe nenhuma lei que as obrigue a isso, mas é como um compromisso, um entendimento do mercado. Gostaríamos de ter esse nível aqui na América Latina, mas infelizmente isso ainda não ocorre.”