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Ministério Público quer recall de 1,3 milhão de Onix feitos desde 2012
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Ministério Público quer recall de 1,3 milhão de Onix feitos desde 2012

Ação conjunta impetrada contra a GM, o Denatran e a União exige o recall de todas as unidades do hatch compacto emplacadas desde o fim de 2012

Diogo de Oliveira, special para o JC

14 de set, 2020 · 7 minutos de leitura.

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ONIX
ONIX PODE ABRIR PORTA TRASEIRA EM COLISÃO
Crédito:CHEVROLET

Carro mais vendido do Brasil desde 2015, o Chevrolet Onix é alvo de um pedido de recall que pode envolver todas as unidades vendidas desde o fim de 2012. O Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério Público de Minas Gerais (MP/MG) entraram com ação civil pública contra a GM, o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) e a União. Se o recall for deflagrado, envolverá cerca de 1,3 milhão de unidades do hatch.

A ação é baseada no teste de colisão feito em maio de 2017 pelo Latin NCAP. O órgão independente afere a segurança dos carros na América Latina. Na ocasião, o Chevrolet Onix “zerou” o crash-test. O hatch não obteve nenhuma estrela das cinco possíveis. Para reduzir os efeitos negativos da notícia, a GM reforçou o chassi do modelo.



Em janeiro de 2018, o Latin NCAP submeteu novamente o Onix (e o sedã Prisma) acrash-test. Com chassi reforçado, os dois carros foram aprovados com três estrelas para a proteção de adultos e crianças. O Ford Ka produzido em Camaçari (BA) também teve resultado ruim em um crash-test feito em 2017. Um ano depois o modelo foi reforçado e conquistou três estrelas em relação ao nível de segurança.

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Porta traseira pode se abrir em colisão

A queda de braço entre MPF, MP/MG e GM está apenas no começo. De acordo com informações da fabricante, todas as normas de segurança veicular exigidas no Brasil foram cumpridas. Essas regras são determinadas pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran) e pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Mas as imagens do teste de colisão lateral do Latin NCAP jogam contra a montadora.

O elemento-chave que comprovaria a baixa segurança é a imagem das portas traseiras se abrindo após impacto na lateral do Onix. A nova Norma Brasileira de Ensaios de Impacto Lateral (ABNT NBR 16204-1) foi publicada em 2013. O problema é que só passou a valer em 1º de janeiro de 2018, quando a estrutura do carro já havia sido reforçada. Ou seja: na prática, a fabricante está dentro da lei.


“A deficiência desse modelo é tão gritante, que, quando da realização do teste, sua porta traseira se abriu, comprovando-se o alto risco para seus ocupantes, especialmente crianças. Além disso, apuramos que o modelo comercializado no Brasil não cumpre a regulação de proteção contra impacto lateral básica das Nações Unidas (UN95), sendo que o modelo equivalente da GM vendido na Europa e nos Estados Unidos tem resultados muito melhores de segurança do que o disponibilizado em nosso país. Os testes demonstraram que o Onix brasileiro não seria aprovado pela regulação da ONU, nem pela Norma Federal de Segurança Veicular dos Estados Unidos; ou seja, ele sequer poderia ser vendido naqueles países”, afirma o procurador da República Cléber Eustáquio Neves.

Promotoria diz que GM sabia do problema

No documento divulgado pelo MPF, consta que a Chevrolet vendeu mais de 1,3 milhão de unidades do Onix do seu lançamento, no fim de 2012 até outubro de 2018. Nesse período, teria lucrado, aproximadamente, R$ 8,3 bilhões por ano. Em 2019, a performance se repetiu, com o Onix ocupando, pelo quinto ano consecutivo, o posto de veículo mais vendido no Brasil; foram comercializadas 241.214 unidades, mais que o dobro do segundo colocado”.

Para o promotor de Justiça, Fernando Martins, a montadora sabia da periculosidade que esses automóveis proporcionam aos seus proprietários. Por isso, inclusive, ela fez as alterações para que fosse minimamente resistente a impactos laterais. Martins refere-se justamente aos reforços estruturais que o hatch recebeu após ser reprovado.


Um argumento favorável à montadora é que o Chevrolet Onix foi aprovado pelo Latin NCAP no crash-test de dezembro de 2014. Na ocasião, o hatch conseguiu três estrelas para adultos e apenas duas na proteção de crianças. Os protocolos não incluíam o impacto lateral nem a batida contra o poste, que são exigidos atualmente. O órgão costuma endurecer as provas a cada quatro anos.

O posicionamento da GM: 

“O carro foi avaliado em 3 estrelas quando foi lançado. O Latin NCAP mudou o protocolo e testou novamente com o resultado de 0 estrela, em maio de 2017. Isso aconteceu quando o carro já estava sendo ajustado de acordo com nosso planejamento.


Na sequência, janeiro de 2018, o carro foi testado novamente e se tornou de novo 3 estrelas. Portanto o carro não foi 0 estrela no período 2012 a 2018. O carro sempre atendeu todas as especificações legais de segurança veicular exigidas no Brasil.”

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Jornal do Carro
Oficina Mobilidade

Testes de colisão validam a segurança de um carro; entenda como são feitos

Saiba quais são os critérios utilizados para considerar um automóvel totalmente seguro ou não

03 de mai, 2024 · 2 minutos de leitura.

Na hora de comprar um carro zero-quilômetro, muitos itens são levados em conta pelo consumidor: preço, complexidade de equipamentos, consumo, potência e conforto. Mas o ponto mais importante que deve ser considerado é a segurança. E só há uma maneira de verificar isso: os testes de colisão.

A principal organização que realiza esse tipo de avaliação com os automóveis vendidos na América Latina é a Latin NCAP, que executa batidas frontal, lateral e lateral em poste, assim como impactos traseiro e no pescoço dos ocupantes. Há também a preocupação com os pedestres e usuários vulneráveis às vias, ou seja, pedestres, motociclistas e ciclistas.

“Os testes de colisão são absolutamente relevantes, porque muitas vezes são a única forma de comprovar se o veículo tem alguma falha e se os sistemas de segurança instalados são efetivos para oferecer boa proteção”, afirma Alejandro Furas, secretário-geral da Latin NCAP.

As fabricantes também costumam fazer testes internos para homologar um carro, mas com métodos que divergem do que pensa a organização. Furas destaca as provas virtuais apresentadas por algumas marcas.

“Sabemos que as montadoras têm muita simulação digital, e isso é bom para desenvolver um carro, mas o teste de colisão não somente avalia o desenho do veículo, como também a produção. Muitas vezes o carro possui bom design e boa engenharia, mas no processo de produção ele passa por mudanças que não coincidem com o desenho original”, explica. 

Além das batidas, há os testes de dispositivos de segurança ativa: controle eletrônico de estabilidade, frenagem autônoma de emergência, limitador de velocidade, detecção de pontos cegos e assistência de faixas. 

O resultado final é avaliado pelos especialistas que realizaram os testes. A nota é dada em estrelas, que vão de zero a cinco. Recentemente, por exemplo, o Citroën C3 obteve nota zero, enquanto o Volkswagen T-Cross ficou com a classificação máxima de cinco estrelas.

O que o carro precisa ter para ser seguro?

Segundo a Latin NCAP, para receber cinco estrelas, o veículo deve ter cinto de segurança de três pontos e apoio de cabeça em todos os assentos e, no mínimo, dois airbags frontais, dois laterais ao corpo e dois laterais de cabeça e de proteção para o pedestre. 

“O carro também precisa ter controle eletrônico de estabilidade, ancoragens para cadeirinhas de crianças, limitador de velocidade, detecção de ponto cego e frenagem autônoma de emergência em todas as suas modalidades”, revela Furas.

Os testes na América Latina são feitos à custa da própria Latin NCAP. O dinheiro vem principalmente da Fundação Towards Zero Foundation, da Fundação FIA, da Global NCAP e da Filantropias Bloomberg. Segundo o secretário-geral da entidade, em algumas ocasiões as montadoras cedem o veículo para testes e se encarregam das despesas. Nesses casos, o critério utilizado é o mesmo.

“Na Europa as fabricantes cedem os carros sempre que lançam um veículo”, diz Furas. “Não existe nenhuma lei que as obrigue a isso, mas é como um compromisso, um entendimento do mercado. Gostaríamos de ter esse nível aqui na América Latina, mas infelizmente isso ainda não ocorre.”