Blog do Boris

Milhões de km de testes… E os carros não param de dar defeito

Um pUm presidente de montadora tão honesto que confessou o inconfessável: a má-qualidade dos carros que fabrica e venderesidente de montadora tão honesto que confessou o inconfessável: a má-qualidade dos carros que fabrica e vende

Boris Feldman

06 de out, 2021 · 8 minutos de leitura.

onix plus" >
Onix Plus pegando fogo
Crédito: Kleiton James

Num passado recente, os protótipos de novos modelos eram testados nas ruas, em estradas ou fora delas. Em pistas de velocidade ou campos de provas idealizados para “castigar” o carro. As equipes de testes rodavam centenas de milhares de quilômetros com cada carro, acumulando milhões de km ao final das provas.

Hoje, uma boa parte destas provações a que se submete o carro é realizada no computador. Simula-se resistência dos materiais, fadiga de componentes, desgaste de peças e vários outros. O que não eliminou, mas reduziu a necessidade de testes reais.

VEJA TAMBÉM:

Publicidade


Mas nem assim os novos modelos deixaram de pregar peça nos engenheiros e comprometer a imagem da marca.

Exemplo recente foi do Chevrolet Onix, que andou quebrando o novo motor de três cilindros em certas situações. Um deles se incendiou no Nordeste. A GM correu para apagar o fogo, alterou calibrações básicas da central eletrônica e resolveu o problema.

Não me esqueço, por falar em GM, de um vexame – num passado mais distante – ao lançar a picape D20 com tração nas quatro rodas. A empresa chamou um pequeno grupo de jornalistas para “testar” o carro em condições adversas: subidas íngremes e enlameadas, travessia de riachos, trechos alagados de terra.


Das quatro submetidas ao teste, três tiveram a junta homocinética rompida e seguiram apenas com a tração traseira. A pergunta: o fornecedor não as testou antes de mandá-las para a GM?

Não é somente a GM. Depois de importar o Tipo, a Fiat decidiu fabricá-lo aqui. Quando acabou ganhando o apelido de Zipo (marca de isqueiro) tantos se incendiaram sem razão aparente.

fiat tipo i e vermelho traseira
Fiati Tipo: casos de incêndio prejudicaram o hatch no Brasil

A Volkswagen não escapou de várias mancadas. A maior delas foi lançar a Kombi versão diesel, pois o motor não ia além de 50 mil km: todos fundiam ao atingir essa quilometragem. Recentemente, o motor 1.0 (quatro cilindros) flex era incompatível com o etanol, que contaminava o óleo lubrificante. E tome o virabrequim corroído.

O sofrimento da Amarok foi na correia dentada do motor, que não recebia vedação adequada. E se rompia ao rodar com frequência em ambientes contaminados por minério, terra ou outras impurezas na atmosfera.

Também muito recente – tem dono de Ford sofrendo até hoje – foi o desastre do câmbio automático de dupla embreagem chamado Powershift (rebatizado de Powershit… ). Não foi só no Brasil, pois prejudicou a fábrica, concessionários e clientes do mundo inteiro.


A Volvo não escapou: a coifa que protege a junta homocinética do XC60 se rompia por motivos desconhecidos. E, sem esta proteção, a junta se rompia…

A pior montadora com o presidente mais sincero

Não é a toa que a marca Land Rover é considerada a pior entre todas as presentes no mercado norte-americano, segundo pesquisas da JD Power junto aos donos: em mais de 50 anos de jornalismo especializado, jamais ouvi tamanha sinceridade do presidente de uma fábrica.

Thiery Bolloré, que comanda a Jaguar Land Rover, avaliou – no ano passado – deixar de vender de cerca de 100 mil veículos por ano devido à má qualidade de seus produtos.


No Brasil não é diferente: entre outros, não faltaram motores V6 diesel destes carros ingleses explodindo com baixa quilometragem. E o mesmo com as turbinas do Evoque 2.0.

Um dos casos mais famosos do mundo foi da poderosa Mercedes-Benz: depois de milhões de quilômetros testando o Classe A (década de 90), o carro tomou bomba no “Teste do Alce” pela revista sueca Mundo da Tecnologia. A fábrica recolheu toda a produção e instalou dispositivos eletrônicos de estabilidade.

Por que tantos problemas em carros tão exaustivamente testados? Difícil encontrar explicações, até porque as fábricas se fazem de mortas quando questionadas…


Mas especula-se que os problemas são provocados por pressão das áreas comercial, de compras e financeiro da própria empresa.

  1. Comercial: quer o carro na rua o mais rápido possível e pressiona a engenharia para liberá-lo;
  2. Compras:  força seus fornecedores (terceirizados) a reduzir custos. Quando acaba a gordura e entra na carne, a qualidade cai. Nas pequenas quantidades de peças enviadas para testes em protótipos, nenhum problema. Depois, nos grandes volumes para atender a produção….
  3. Financeiro: briga entre a engenharia, que quer qualidade e durabilidade, e o financeiro que insiste em reduzir o custo de produção e aumentar a rentabilidade.

Ponto crucial é o equilíbrio entre o conflito de interesses em jogo dentro da própria empresa. Caberia ao presidente (ou CEO) a palavra final e decidir até que ponto vale a pena arriscar sua imagem?

Neste caso, a Jaguar Land Rover vai – com certeza – oferecer a melhor qualidade do mundo….


Newsletter Jornal do Carro - Estadão

Receba atualizações, reviews e notícias do diretamente no seu e-mail.

Ao informar meus dados, eu concordo com a Política de privacidade de dados do Estadão e que os dados sejam utilizados para ações de marketing de anunciantes e o Jornal do Carro, conforme os termos de privacidade e proteção de dados.
Jornal do Carro
Oficina Mobilidade

Testes de colisão validam a segurança de um carro; entenda como são feitos

Saiba quais são os critérios utilizados para considerar um automóvel totalmente seguro ou não

03 de mai, 2024 · 2 minutos de leitura.

Na hora de comprar um carro zero-quilômetro, muitos itens são levados em conta pelo consumidor: preço, complexidade de equipamentos, consumo, potência e conforto. Mas o ponto mais importante que deve ser considerado é a segurança. E só há uma maneira de verificar isso: os testes de colisão.

A principal organização que realiza esse tipo de avaliação com os automóveis vendidos na América Latina é a Latin NCAP, que executa batidas frontal, lateral e lateral em poste, assim como impactos traseiro e no pescoço dos ocupantes. Há também a preocupação com os pedestres e usuários vulneráveis às vias, ou seja, pedestres, motociclistas e ciclistas.

“Os testes de colisão são absolutamente relevantes, porque muitas vezes são a única forma de comprovar se o veículo tem alguma falha e se os sistemas de segurança instalados são efetivos para oferecer boa proteção”, afirma Alejandro Furas, secretário-geral da Latin NCAP.

As fabricantes também costumam fazer testes internos para homologar um carro, mas com métodos que divergem do que pensa a organização. Furas destaca as provas virtuais apresentadas por algumas marcas.

“Sabemos que as montadoras têm muita simulação digital, e isso é bom para desenvolver um carro, mas o teste de colisão não somente avalia o desenho do veículo, como também a produção. Muitas vezes o carro possui bom design e boa engenharia, mas no processo de produção ele passa por mudanças que não coincidem com o desenho original”, explica. 

Além das batidas, há os testes de dispositivos de segurança ativa: controle eletrônico de estabilidade, frenagem autônoma de emergência, limitador de velocidade, detecção de pontos cegos e assistência de faixas. 

O resultado final é avaliado pelos especialistas que realizaram os testes. A nota é dada em estrelas, que vão de zero a cinco. Recentemente, por exemplo, o Citroën C3 obteve nota zero, enquanto o Volkswagen T-Cross ficou com a classificação máxima de cinco estrelas.

O que o carro precisa ter para ser seguro?

Segundo a Latin NCAP, para receber cinco estrelas, o veículo deve ter cinto de segurança de três pontos e apoio de cabeça em todos os assentos e, no mínimo, dois airbags frontais, dois laterais ao corpo e dois laterais de cabeça e de proteção para o pedestre. 

“O carro também precisa ter controle eletrônico de estabilidade, ancoragens para cadeirinhas de crianças, limitador de velocidade, detecção de ponto cego e frenagem autônoma de emergência em todas as suas modalidades”, revela Furas.

Os testes na América Latina são feitos à custa da própria Latin NCAP. O dinheiro vem principalmente da Fundação Towards Zero Foundation, da Fundação FIA, da Global NCAP e da Filantropias Bloomberg. Segundo o secretário-geral da entidade, em algumas ocasiões as montadoras cedem o veículo para testes e se encarregam das despesas. Nesses casos, o critério utilizado é o mesmo.

“Na Europa as fabricantes cedem os carros sempre que lançam um veículo”, diz Furas. “Não existe nenhuma lei que as obrigue a isso, mas é como um compromisso, um entendimento do mercado. Gostaríamos de ter esse nível aqui na América Latina, mas infelizmente isso ainda não ocorre.”