Recém-lançada pela Fiat, a Strada Automática é um produto tão importante que poderia até ser o principal lançamento da marca italiana neste ano. A picape com câmbio CVT chega às lojas em duas versões de acabamento: Volcano, por R$ 111.990, e a inédita Ranch, com preço sugerido de R$ 116.990. Mas em São Paulo (SP), o modelo fica mais caro por causa do ICMS maior, e encosta nos R$ 121 mil.
Nesta avaliação, o Jornal do Carro acelerou a nova Strada Ranch, versão topo de linha e sem opcionais. Apenas a pintura é cobrada à parte. Cores sólidas, como é o caso do vermelho Montecarlo da unidade que aceleramos, custam R$ 931, valor que sobre para R$ 2.430 nas cores metálicas, e chegam a R$ 2.585 no caso da pintura perolizada.
Com o câmbio do tipo CVT (continuamente variável), a Fiat Strada inova e é a primeira picape compacta automática. A marca italiana ainda aproveitou para incorporar outros itens na picape, como o carregador de celular sem fio (por indução), além de couro nos bancos. Será que a atual Volkswagen Saveiro ainda tem alguma chance?
Enfim, automática
Com o lançamento, que a Fiat chama no mercado de Strada AT, a picapinha automática preenche uma lacuna histórica do segmento. Finalmente, um modelo da categoria apresenta uma solução real para quem busca a versatilidade de um veículo compacto com caçamba, mas com uso confortável que dispensa o pé esquerdo de acionar a embreagem.
Tanto a Fiat quanto suas rivais tentaram isso antes, mas com os desastrados câmbios robotizados (automatizados), que usavam atuadores eletrônicos para acionar a embreagem, sem interferência do motorista. Porém, essa opção tinha dinâmica ruim. Para quem estava na cabine, o funcionamento era sentido na forma de trancos e engasgos nas trocas de marcha.
Desta vez, a solução da Fiat é usar o sistema de polias com variação contínua. Trata-se do chamado câmbio CVT, que, no caso da Strada, é fornecido pela japonesa Aisin. Esse tipo de transmissão entrega um consumo de combustível mais eficiente, além do conforto. E traz sete marchas virtuais para dar um compasso mais agradável.
Essa configuração com motor 1.3 Firefly flex e câmbio CVT estreou no SUV Fiat Pulse, lançado em outubro. Entretanto, no caso da picape, a Fiat foi rápida em oferecer algo que o mercado não tinha. Isso porque a Strada automática contempla um público em expansão, que coloca a picape como opção até mesmo em relação aos SUVs, como o próprio Pulse.
Campeã de vendas
A Strada é um dos modelos mais emplacados do Brasil desde 2020 e, agora em 2021, é simplesmente o veículo mais vendido do País. Ou seja, com as novas versões automáticas, a picape da Fiat poderá conquistar ainda mais clientes, incluindo um público diferente, que faz questão do conforto do câmbio automático e de uma cabine mais tecnológica.
Além disso, por ser a primeira e única picape com câmbio automático do segmento, deixa a arquirrival e única concorrente, a VW Saveiro, a comer ainda mais poeira. Sem opção de câmbio automático e da carroceria com quatro portas na cabine dupla, a picape da marca alemã custa R$ 113 mil na versão mais completa – ou seja, quase o mesmo que a Strada AT.
Os números de emplacamentos demonstram o acerto da Fiat e do grupo Stellantis: segundo dados de novembro da Fenabrave, a Strada entregou pouco mais de 100 mil unidades. Ao mesmo tempo, o Argo entregou ⅕ a menos: pouco mais de 80.100 unidades. Enquanto isso, a concorrente Saveiro, no entanto, não chegou a 25 mil unidades.
Como funciona o câmbio CVT
Além de estar presente no Pulse, a caixa automática da Strada é bem semelhante à utilizada pelo Toyota Yaris. Assim, dispõe de simulação eletrônica de sete marchas. Com essa relação, apresenta desempenho que o câmbio continuamente variável não costuma ter, com trocas mais dinâmicas em movimento, sem subir os giros em excesso.
A Strada CVT é equipada sempre com o motor 1.3 Firefly flex de quatro cilindros e oito válvulas. Este motor gera 98 cavalos de potência máxima e um torque de 13,2 mkgf com gasolina. Já com etanol no tanque, os números sobem para 107 cv e 13,7 mkgf. Com esses números, o conjunto mecânico já contempla as novas regras de emissões de poluentes.
A garantia, no caso, é de três anos e, segundo a Stellantis, o câmbio CVT não vai necessitar de troca do óleo durante a vida útil do veículo. Além disso, o condutor tem três modos de condução. O primeiro é o Automático, que é padrão, e o computador determina as relações da polia de acordo com o acionamento do pedal do acelerador.
Nesse ponto, a Strada é diferente da maior parte dos carros da Fiat. A versão automática da picape prima pela suavidade, com o motor trabalhando sempre abaixo de 1.500 rotações por minuto. As marchas virtuais são ágeis e bem escalonadas. Dessa forma, na prática, ao alcançar os 50 km/h na cidade, por exemplo, o câmbio já estará entregando o equivalente à sexta marcha para manter o giro baixo.
Automática bebe menos
O lado “ruim” é que, se ajuda no consumo, este comportamento do câmbio não favorece a entrega de desempenho do motor Firefly. Para quem quer andar de forma mais esportiva, com saídas mais fortes e uma primeira marcha mais curta, há duas opções. A primeira delas é o modo Sport, que deixa a resposta do acelerador mais sensível e antecipa as trocas das marchas simuladas. Aqui, temos um comportamento mais “nervosinho”, ainda que atenuado, com regime médio de 2.000 rpm.
O outro modo é o manual, que permite ao condutor “trocar marchas” pelas aletas no volante. Neste caso, é o motorista quem comanda as mudanças. E tem o moto automático. Assim, apesar de uma certa morosidade, o câmbio CVT promete consumo melhor do que o da versão manual com o mesmo motor 1.3 flex. Este, inclusive, é o trunfo da Strada AT.
Segundo dados do Inmetro, o consumo fica em 8,8 km/l na cidade e 9,9 km/l na estrada com etanol no tanque. Já com gasolina, as médias sobem para 12,4 km/l e 13,9 km/l, respectivamente. Com esses números de consumo, a picape pode entregar uma economia de até 8% frente à Strada 1.3 equivalente com câmbio manual de cinco marchas.
Os equipamentos
Além do câmbio CVT, a Strada automática inclui controle de estabilidade com assistente de partida em rampa, controle de tração – que é uma evolução do antigo sistema Locker. O recurso faz ajustes de frenagem e aceleração computadorizados a até 65 km/h, mesmo em pisos escorregadios, e joga o torque para a roda com maior aderência.
Em termos de segurança, há quatro airbags de série, sensor de obstáculos traseiro e câmera de ré, bem como ganchos Isofix, faróis de neblina e sensor de pressão dos pneus. Tudo de fábrica na Strada Ranch.
A versão testada tem ainda os faróis de LEDs, rodas de liga leve de 15 polegadas calçadas com pneus todo terreno, estribos laterais da Mopar, barras de teto, skidplate no para-choques dianteiro (que, na real, é apenas uma pintura prateada) e capota marítima com o emblema Ranch, também um acessório da Mopar, que é a divisão de autopeças da Stellantis.
Tudo isso dá à Strada automática um estilo que flerta com esportividade, mas que também adiciona um toque de requinte com a cabine mais chique e caprichada. Essa sensação é reforçada pelos detalhes em marrom no revestimento de couro dos bancos, ou mesmo nos plásticos bicolores do painel – que riscam e sujam facilmente, é verdade.
Tem um porém
Quanto às credenciais para o trabalho, a Strada tem altura para o solo de 233 mm, e bons ângulos de 23 graus (entrada) e de 28 graus (saída). A suspensão traseira é por eixo rígido (tipo ômega), que sacrifica o conforto em prol da robustez e de uma maior capacidade de carga. Assim, a picape roda melhor quando carregada, e vira um “cavalo brabo” vazia.
Por sua vez, a caçamba tem 844 litros de volume, quatro ganchos de ancoragem e revestimento que protege as chapas de metal. A tampa traseira tem abertura controlada por sistema de molas, com acionamento super leve. Além disso, a tampa suporta até 400 kg de carga. Mas, diferente da Strada cabine dupla manual, a automática pode carregar 600 kg.
Ou seja, a capacidade de carga é 50 kg menor na versão CVT, justamente por causa do câmbio, que pesa mais. Na Strada manual, por exemplo, o peso em ordem de marcha fica em 1.150 kg. Já a Strada Ranch pesa 1.235 kg. Também por conta do peso extra, a Strada Ranch CVT é mais lenta ao acelerar, e faz o 0 a 100 km/h em 12 segundos.
Por fim, a picape compacta com transmissão automática tem velocidade máxima menor e alcança 165 km/h. A versão Freedom MT, com cabine dupla e o mesmo motor 1.3, por exemplo, leva 11,2 segundos para arrancar até os 100/h e atinge os 169 km/h.
Conectividade é um diferencial
Vale destacar algo curioso: embora herde o pequeno visor em preto e branco no quadro de instrumentos, que surgiu no Novo Uno (que acaba de sair de linha) e está presente no Mobi, a tela central multimídia é moderna. Além de colorida, tem 7 polegadas e vem com carregador de celular sem fio, por indução, outro “luxo” para o segmento.
O sistema tem ainda Android Auto e Apple Carplay de nova geração, que também se valem da conexão sem fio – embora apresentem conflitos e erros. Por fim, há duas entradas USB, uma para os bancos dianteiros, e outra para quem vai sentado atrás.
Dessa forma, a Strada Automática entrega o que alguns compradores de picape compacta queria, mas nunca tiveram. Também traz o câmbio automático, um desejo dos consumidores mais urbanos. Com essa receita, que une conforto e conectividade, a Strada ainda não é um Argo, mas ganha apelo, e merece ser líder neste 2021 atribulado no País.