É comum esbarrar com donos de Civic. Por muito tempo, o sedã médio foi um dos carros mais vendidos da Honda no Brasil. Assim, há milhares de órfãos do modelo por aí. Pois o novo ZR-V veio ocupar essa lacuna deixada com o fim da produção local do sedã, há mais de dois anos. É uma mudança que faz sentido, afinal, muitos clientes da categoria continuam a migrar para os SUVs.
O Corolla Cross está aí para provar isso. O SUV vende mais que o Corolla sedã. Aliás, o Honda ZR-V é o SUV para concorrer com o Toyota. Em outros tempos, seria o arquirrival, tal qual os sedãs. Mas, pelo menos na primeira metade de 2024, o ZR-V não mostrou todo o seu potencial. Um resultado não definitivo, mas que exigirá ajuste na oferta.
Honda ZR-V tem plataforma de Civic, mas receita “antiga”
Para o lançamento no Brasil, a Honda trouxe o ZR-V do México na versão mais completa Touring. Esta tem preço de R$ 214.500, mas, uma recente promoção baixou a tabela do SUV em até R$ 20 mil, para R$ 194.500. Embora tenha sido algo momentâneo, é uma faixa mais palpável para o modelo, que vem apenas a gasolina.
A Honda, portanto, optou por trazer o ZR-V na versão “clássica”, com motor a combustão. Um conjunto mecânico que, por sinal, já foi muito desejado no Civic. O SUV tem motor 2.0 16V aspirado a gasolina e câmbio automático do tipo CVT com simulação de 7 marchas. A tração é dianteira e o desempenho é bom. São 161 cv de potência a 6.500 rpm e 19,1 mkgf de torque máximo a 4.200 rpm.
Ao volante, o Honda ZR-V tem acelerações agradáveis e não demora a responder. A Honda não divulga dados de desempenho, mas o SUV acelera de 0 a 100 km/h em cerca de 11 segundos. A velocidade máxima chega a 195 km/h. Já em relação ao consumo, segundo a tabela do Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBEV) do Inmetro, faz médias de 10,2 km/l na cidade e de 12,1 km/l na estrada.
Cabine é ponto alto do Honda ZR-V
A bordo, o Honda ZR-V traz aquele algo mais que o Civic sempre teve. O acabamento, por exemplo, é ainda melhor que no HR-V, com maior formação de couro e capricho nos materiais. Outro ponto alto é o espaço maior tanto em largura quanto altura e comprimento na comparação com o SUV compacto. No banco traseiro, três adultos viajam confortáveis. O porta-malas de 389 litros não é dos maiores, mas atende famílias de até cinco pessoas, por exemplo.
Em relação às tecnologias, o Honda ZR-V tem como destaque o multimídia com tela central de 9 polegadas. O equipamento tem respostas rápidas, menus fáceis de navegar e botões físicos, o que é sempre ótimo quando se está ao volante. Além disso, tem espelhamento sem fio com Apple iPhone, mas exige conexão por cabo com aparelhos Android.
No mais, o SUV tem ar-condicionado de duas zonas, quadro de instrumentos com display configurável, chave presencial, banco do motorista com ajustes elétricos, teto solar e assistentes semiautônomos Honda Sensing, como, por exemplo, frenagem automática de emergência, controle de cruzeiro adaptativo com função Stop&Go, farol alto automático, entre outros.
Como é acelerar o Honda ZR-V
Ao volante, o SUV mexicano é prazeroso no dia a dia na cidade. A cabine é silenciosa, tem ótimo isolamento acústico e capricho nos arremates. E a direção é macia, mas com respostas rápidas e um ajuste fino em manobras. A dirigibilidade se destaca neste SUV com suspensão traseira independente Multilink e freios a discos nas quatro rodas. O chassi é estável e sólido, mesmo com boa altura em relação ao solo e 17,8 cm de vão livre.
Em termos dinâmicos, portanto, o Honda ZR-V capricha. O que realmente falta é mais desempenho. O motor 2.0 a gasolina dá conta tranquilo do SUV com seus 161 cv e 19,1 mkgf. Contudo, o câmbio automático CVT com 7 marchas virtuais prioriza o consumo e não é tão rápido nas trocas mesmo no modo manual. Ou seja, a transmissão não entrega uma tocada esportiva. Isso fica mais evidente nas retomadas em estrada.
Assim, o Honda ZR-V não é um SUV que vai emocionar no desempenho. O ideal seria que o modelo tivesse o motor 1.5 turboflex do HR-V Touring, com 177 cv e 24,5 mkgf. Já o sistema e:HEV do Civic híbrido seria ainda melhor, porém certamente o modelo ficaria ainda mais caro. Seja como for, por força das leis de emissões mais severas a partir de 2025, a Honda vai ter que mexer na mecânica do ZR-V.
Segmento está se hibridizando
Nos números, dimensões e características em geral, o Honda ZR-V está no páreo com o Corolla Cross nas versões 100% a combustão, com motor 2.0 flex e câmbio automático CVT de 10 velocidades. Porém, o concorrente da Toyota tem produção em Sorocaba (SP) e custa bem menos nas versões de entrada, a partir de R$ 178.590.
A questão do preço, portanto, é o ponto crítico no ZR-V. Embora o SUV importado do México tenha melhor acabamento e dirigibilidade, com suspensão traseira Multilink (no Corolla Cross é por eixo de torção), o preço do Honda chega a superar a versão XRX Hybrid de topo de linha do arquirrival, hoje com tabela de R$ 213.010. Ou seja, o Toyota é mais barato e é híbrido flex.
Aliás, alguns segmentos estão “hibridizando” mais rápido que outros. É o que ocorre com os SUVs médios. Até 2022, o Toyota Corolla Cross era praticamente o único SUV híbrido da faixa de R$ 200 mil. Mas, em 2023, chegaram modelos de marcas chinesas, como GWM Haval H6 e BYD Song Plus.
Dessa forma, o ZR-V veio concorrer não apenas com Jeep Compass e Toyota Corolla Cross, líderes da categoria, mas com vários outros modelos com preço na faixa de R$ 200 mil, como Volkswagen Taos, Ford Territory e chineses elétricos e híbridos.
Nesta disputa, eletrificar os carros não é mais questão ecológica. Virou diferencial de mercado, e as marcas chinesas estão aí mostrando que os consumidores brasileiros querem veículos mais tecnológicos. Portanto, cabe à Honda ajustar a oferta e acelerar a nacionalização do seu sistema híbrido flex, caso queira melhorar o desempenho do ZR-V nas lojas.
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