Blog do Boris

Conversa para boi dormir

ANP desiste de aditivar gasolina, ignorando problemão que aflige as fábricas e reduz eficiência dos motores

Boris Feldman

10 de jul, 2017 · 6 minutos de leitura.

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Na maioria dos países de Primeiro Mundo, toda a gasolina recebe aditivos para reduzir o nocivo efeito dos depósitos carboníferos nos motores. Depois da aditivação básica, cada empresa se encarrega de acrescentar seus próprios aditivos para aumentar a qualidade e oferecer mais vantagens ao consumidor.

Não existe no Brasil a aditivação básica da gasolina: ela é comercializada nos postos como vem da refinaria (a chamada “comum”) ou a distribuidora aplica fórmulas próprias para criar a sua “aditivada” e, neste caso, cada marca tem aditivação específica.

Se o motorista pretende manter a uniformidade da gasolina, ou abastece em postos de mesma marca ou compra a comum e acrescenta ele mesmo o frasquinho de aditivo no tanque.

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A importância da aditivação levou o governo federal a estabelecer sua obrigatoriedade a partir de janeiro de 2014. Caberia à ANP estabelecer o modus operandi, ou seja, quais aditivos e em que volume, onde seria feita a mistura (refinaria, distribuidora?), custos, etc. Ou seja, uma operação de razoável complexidade, com dezenas de opções e envolvendo empresas privadas e órgãos públicos.

Incapaz de determinar como seria a aditivação, a ANP prorrogou a data inicial, de janeiro de 2014, para julho de 2015. Dezoito meses de reuniões, discussões, comissões e análises e…outra prorrogação, desta vez de dois anos, para julho de 2017. Alguém ouvir falar de aditivos na gasolina, este mês? Nem eu, pois agora a ANP desfechou o golpe fatal na aditivação, informando ter realizado em junho uma audiência pública para tratar do assunto.

E que, “entre as mudanças propostas, está a suspensão da aditivação compulsória da gasolina e a convocação dos setores envolvidos no assunto para um estudo de reavaliação da real necessidade da implantação da medida em nível nacional. A reavaliação levará em conta a evolução das tecnologias aplicadas aos combustíveis e aos motores nos últimos anos, assim como a proteção dos direitos do consumidor.


O mercado brasileiro mudou. A gasolina evoluiu, o teor de enxofre passou de 1000 partes por milhão (ppm) para 50 ppm. A matriz veicular teve aumento da participação dos biocombustíveis. Essa sucessão de fatos nos levou a fazer uma reflexão, a colocar o assunto em estudo para verificarmos o melhor custo-benefício para a sociedade”, afirmou a ANP em comunicado à imprensa. E criou uma comissão que deverá apresentar o resultado dos estudos em até 180 dias.

Uma “reflexão” que é pura conversa para boi dormir, pois é inegável que a redução do enxofre contribui para a limpeza do motor. Entretanto, os depósitos carboníferos não resultam do enxofre, mas da expressiva presença de carbono na gasolina e, por isso, a aditivação continua sendo praticada mesmo nos países com reduzido teor de enxofre na gasolina. Por quê a ANP voltou a prorrogar a exigência? Porque não quis enfrentar a Petrobras, que alegou dificuldades técnicas para efetuar a aditivação nas refinarias.

A ANP faz de conta ignorar um problemão enfrentado pelas fábricas de automóveis: elas sabem da importância de se aditivar a gasolina mas são obrigadas a recomendar (nos manuais) o abastecimento com a “comum” pela falta de padronização dos aditivos. O dono do carro raciocina que, se a fábrica não sugere a aditivada é por ela não ser necessária. E abastece com a comum, comprometendo – a longo prazo – a eficiência do motor.


Por essas e por outras é que o Brasil segue cumprindo sua vocação de país do Terceiro Mundo: não tira do papel decisões de relevância como a inspeção veicular (exigida pelo código de trânsito desde 1998), certificação de peças de reposição e acessórios e a exigência de equipamentos de segurança. Agora, vai também para o lixo a aditivação compulsória da gasolina.

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Oficina Mobilidade

Carros elétricos são mais seguros do que automóveis a combustão?

Alguns recursos podem reduzir o risco de incêndio e aumentar a estabilidade

26 de abr, 2024 · 2 minutos de leitura.

Uma pergunta recorrente quando se fala em carro elétrico é se ele é mais ou menos seguro que um veículo com motor a combustão. “Os dois modelos são bastante confiáveis”, diz Fábio Delatore, professor de Engenharia Elétrica da Fundação Educacional Inaciana (FEI). 

No entanto, há um aspecto que pesa a favor do automóvel com tecnologia elétrica. Segundo relatório da National Highway Traffic Safety Administration (ou Administração Nacional de Segurança Rodoviária), dos Estados Unidos, os veículos elétricos são 11 vezes menos propensos a pegar fogo do que os carros movidos a gasolina.

Dados coletados entre 2011 e 2020 mostram que, proporcionalmente, apenas 1,2% dos incêndios atingiram veículos elétricos. Isso acontece por vários motivos. Em primeiro lugar, porque não possuem tanque de combustível. As baterias de íon de lítio têm menos risco de pegar fogo.

Centro de gravidade

Segundo Delatore, os carros elétricos recebem uma série de reforços na estrutura para garantir maior segurança. Um exemplo são os dispositivos de proteção contra sobrecarga e curto-circuito das baterias, que cortam a energia imediatamente ao detectar uma avaria.

Além disso, as baterias são instaladas em uma área isolada, com sistema de ventilação, embaixo do carro. Assim, o centro de gravidade fica mais baixo, aumentando a estabilidade e diminuindo o risco de capotamento. 

E não é só isso. “Os elétricos apresentam respostas mais rápidas em comparação aos automóveis convencionais. Isso facilita o controle em situações de emergência”, diz Delatore.

Altamente tecnológicos, os veículos movidos a bateria também possuem uma série de itens de segurança presentes nos de motor a combustão. Veja os principais:

– Frenagem automática de emergência: recurso que detecta objetos na frente do carro e aplica os freios automaticamente para evitar colisão.

– Aviso de saída de faixa: detecta quando o carro está saindo da faixa involuntariamente e emite um alerta para o motorista.

– Controle de cruzeiro adaptativo: mantém o automóvel a uma distância segura do carro à frente e ajusta automaticamente a velocidade para evitar batidas.

– Monitoramento de ponto cego: pode detectar objetos nos pontos cegos do carro e emitir uma advertência para o condutor tomar cuidado.

– Visão noturna: melhora a visibilidade do motorista em condições de pouca iluminação nas vias.