Blog do Boris

Automóvel: amor e ódio

O carro, comparado hoje ao cigarro, voltou a constar nas “listas negras” da sociedade

Boris Feldman

30 de out, 2017 · 7 minutos de leitura.

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Amor e ódio
Crédito: Na história do automóvel, sua relação com o homem varia ciclicamente

Na história do automóvel, desde sua invenção no final do século 19, seu relacionamento com o homem varia ciclicamente entre amor e ódio.

Já começou mal: um vilão que desbancou o cavalo, carroças e carruagens, além de ser considerado um perigo nas ruas. Prova disso foi a reação da sociedade inglesa quando surgiram os primeiros e desengonçados automóveis. Foi promulgada uma legislação que os restringia, a “Red Flag Law” (lei da bandeira vermelha). Para circular, deveria ter uma pessoa caminhando alguns metros à sua frente com uma bandeira vermelha para avisar que o “perigo” se aproximava. E limitava a velocidade a …. sete quilômetros por hora. A lei foi revogada em 1896 e se permitiu que o “perigo” circulasse a vinte quilômetros por hora.

De vilão ao herói que revolucionou hábitos sociais e econômicos. Muito além de um simples meio de transporte, ampliou fronteiras, transformou-se em símbolo de status, liberdade, realização, sonho de consumo. Instigou estilistas, engenheiros, marqueteiros. Suas linhas, inicialmente quadradas e funcionais, se revestiram de graça e sensualidade. Seu interior se requintou. Foi cantado em prosa e verso. Meu Mustang cor de sangue, meu Corcel cor de mel. Desafiou limites e virou esporte. Desafiou o tempo e virou coleção

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oje, é odiado como o cigarro e na “lista negra” porque polui, congestiona e mata. Ações e campanhas atenuam mas não resolvem o trânsito caótico nem a mortandade que provoca. Queima combustíveis fósseis e joga na atmosfera o carbono guardado há seculos no fundo da terra e dos mares. Manifestações do Greenpeace & Cia atribuem ao automóvel uma culpa maior que carrega de fato. Todo o setor de transportes no mundo (terra, mar e ar) é responsável por apenas 14% da emissão de CO2, o gás do efeito estufa.

Em relação à poluição, os governos pressionam as fábricas para reduzir as emissões, além de estimular fontes alternativas de energia. Hidrogênio, etanol, biodiesel e eletricidade entre elas. A energia elétrica virá como solução definitiva para desindexar o automóvel das listas negras da sociedade.

Outros dois problemas provocados pelo automóvel são os congestionamentos e os acidentes. Na pauta de governos e fábricas há tempos, a eletrônica vai se encarregar de resolvê-los com os carros autônomos e conectados.


 

Tecnologia será solução para caso de amor e ódio?

Apesar de ainda estar engatinhando, o carro autônomo vai certamente reduzir substancialmente os acidentes com automóveis, pois 90% deles atualmente são provocados hoje pelo componente entre o volante e o assento, seja por imperícia, desatenção, imprudência ou alcolismo. Ainda que se levantem questões em relação à segurança do carro sem motorista, ele será muitas vezes mais confiável. Será uma transição complicada, uma completa revolução nos hábitos da sociedade que com certeza irá provocar reações contrárias. Assim como os acendedores de lampião a gás protestaram no final do século 18 contra a iluminação pública elétrica…


Um terceiro problema grave são os congestionamentos, que praticamente deixarão de existir com a autonomia indexada à conectividade dos carros. O volume de automóveis nas ruas e estradas será substancialmente reduzido quando forem autônomos. O mesmo carro que leva o pai para o escritório volta para casa e carrega a mãe para o dentista. E a filha para a escola.

Além de autônomos, os carros serão conectados entre si e com centrais de controle de trânsito. E informados da existência de problemas na rota e de como evitá-los. Nada disso num futuro remoto, pois várias destas funcionalidades já existem, ainda que precariamente. O carro mais sofisticado ainda não é autônomo mas já alerta ou assume o comando quando percebe a desatenção do motorista em determinadas situações. A conectividade também engatinha, mas o Waze já indica o congestionamento à frente e explica como evitá-lo.

Nas oscilações do relacionamento entre homem e carro, estamos prestes a entrar numa fase de amor incondicional…


 

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Oficina Mobilidade

Testes de colisão validam a segurança de um carro; entenda como são feitos

Saiba quais são os critérios utilizados para considerar um automóvel totalmente seguro ou não

03 de mai, 2024 · 2 minutos de leitura.

Na hora de comprar um carro zero-quilômetro, muitos itens são levados em conta pelo consumidor: preço, complexidade de equipamentos, consumo, potência e conforto. Mas o ponto mais importante que deve ser considerado é a segurança. E só há uma maneira de verificar isso: os testes de colisão.

A principal organização que realiza esse tipo de avaliação com os automóveis vendidos na América Latina é a Latin NCAP, que executa batidas frontal, lateral e lateral em poste, assim como impactos traseiro e no pescoço dos ocupantes. Há também a preocupação com os pedestres e usuários vulneráveis às vias, ou seja, pedestres, motociclistas e ciclistas.

“Os testes de colisão são absolutamente relevantes, porque muitas vezes são a única forma de comprovar se o veículo tem alguma falha e se os sistemas de segurança instalados são efetivos para oferecer boa proteção”, afirma Alejandro Furas, secretário-geral da Latin NCAP.

As fabricantes também costumam fazer testes internos para homologar um carro, mas com métodos que divergem do que pensa a organização. Furas destaca as provas virtuais apresentadas por algumas marcas.

“Sabemos que as montadoras têm muita simulação digital, e isso é bom para desenvolver um carro, mas o teste de colisão não somente avalia o desenho do veículo, como também a produção. Muitas vezes o carro possui bom design e boa engenharia, mas no processo de produção ele passa por mudanças que não coincidem com o desenho original”, explica. 

Além das batidas, há os testes de dispositivos de segurança ativa: controle eletrônico de estabilidade, frenagem autônoma de emergência, limitador de velocidade, detecção de pontos cegos e assistência de faixas. 

O resultado final é avaliado pelos especialistas que realizaram os testes. A nota é dada em estrelas, que vão de zero a cinco. Recentemente, por exemplo, o Citroën C3 obteve nota zero, enquanto o Volkswagen T-Cross ficou com a classificação máxima de cinco estrelas.

O que o carro precisa ter para ser seguro?

Segundo a Latin NCAP, para receber cinco estrelas, o veículo deve ter cinto de segurança de três pontos e apoio de cabeça em todos os assentos e, no mínimo, dois airbags frontais, dois laterais ao corpo e dois laterais de cabeça e de proteção para o pedestre. 

“O carro também precisa ter controle eletrônico de estabilidade, ancoragens para cadeirinhas de crianças, limitador de velocidade, detecção de ponto cego e frenagem autônoma de emergência em todas as suas modalidades”, revela Furas.

Os testes na América Latina são feitos à custa da própria Latin NCAP. O dinheiro vem principalmente da Fundação Towards Zero Foundation, da Fundação FIA, da Global NCAP e da Filantropias Bloomberg. Segundo o secretário-geral da entidade, em algumas ocasiões as montadoras cedem o veículo para testes e se encarregam das despesas. Nesses casos, o critério utilizado é o mesmo.

“Na Europa as fabricantes cedem os carros sempre que lançam um veículo”, diz Furas. “Não existe nenhuma lei que as obrigue a isso, mas é como um compromisso, um entendimento do mercado. Gostaríamos de ter esse nível aqui na América Latina, mas infelizmente isso ainda não ocorre.”