Blog do Boris

Inmetro derrapa feio na etiquetagem de pneus

O órgão não exigiu exatamente o que mais interessa ao motorista: a durabilidade do pneu

Boris Feldman

12 de mar, 2018 · 6 minutos de leitura.

Inmetro derrapa na classificação dos pneus" >
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Crédito: Ilustração: Fabiano Azevedo/AutoPapo

Depois das geladeiras, o Inmetro criou o Programa de Etiquetagem Veicular de Consumo. Todas as marcas presentes no mercado brasileiro foram obrigadas a aderir ao programa para fazer jus aos benefícios do Inovar Auto, plano que vigorou até o final de dezembro de 2017 e que contemplou – com redução de impostos federais – o aumento da eficiência energética de seus modelos.

Todos os carros comercializados no país passaram obrigatoriamente a exibir no showroom a etiqueta de consumo, registrando quanto bebe aquele modelo e o classificando em relação aos concorrentes do mesmo segmento.

Agora é a vez dos pneus: a partir de abril, todos os comercializados no Brasil deverão ostentar uma etiqueta que os classificam de acordo com três características.

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A primeira é o atrito com o piso, que resulta num maior ou menor consumo de combustível. A segunda indica seu comportamento no asfalto molhado: confere maior ou menor aderência que os concorrentes? A terceira característica é o ruído que emite, medido em decibéis.

Entretanto, o Inmetro não exigiu exatamente o que mais interessa ao motorista: qual pneu tem maior durabilidade? Qual marca roda mais antes de exigir substituição?

Em outros países, este índice é obrigatório e chamado em inglês de Treadwear. Talvez você já o tenha visto na banda lateral de um pneu fabricado no Brasil para exportação, ou num carro importado. Ele varia de 60 a 700 e não reflete objetivamente a durabilidade, pois se trata apenas de um referencial.


A duração de um pneu varia em função do piso, calibragem, cuidados do motorista, peso do carro, qualidade do asfalto, alinhamento da direção e outros fatores. O índice Treadwear é determinado (nos EUA) numa prova a que são submetidos os pneus instalados em carros semelhantes que rodam a mesma distância (9.600 milhas ou 15.500 km) à mesma velocidade, no mesmo tipo de asfalto e se avalia então seu desgaste.

O pneu que se desgasta de acordo com um padrão estabelecido pelo governo tem índice 100. Mas se ele atinge apenas 60% da quilometragem padrão, seu Treadwear é 60. O pneu capaz de rodar o dobro do padrão faz jus ao índice 200, e assim por diante.

Quando o Inmetro divulgou a etiqueta pneumática, eu imediatamente o questionei a respeito do Treadwear e obtive a mais tosca das respostas: que a durabilidade depende das condições de utilização e não dá para determinar a quilometragem que ele vai atingir. O órgão imagina estar lidando com ignorantes que desconhecem como se determina o índice em outros países. E a obviedade de ser impossível estabelecer objetivamente, mas apenas referencialmente a durabilidade.


Aliás, o Inmetro já deu inúmeras demonstrações de incompetência ao estabelecer padrões de certificação do setor. Derrapou feio ao cuidar de pneus: pressionado por empresas do setor, chegou a emitir documento afirmando que pneu remoldado se enquadrava como novo (e não como remanufaturado). Percebeu o tamanho da encrenca e voltou atrás. A própria certificação de pneus remoldados “esqueceu” de exigir o registro das características originais da carcaça.

Decidiu recentemente estabelecer a certificação de peças de reposição mas se restringiu a vinte delas entre as milhares utilizadas num veículo. Algumas do motor, que não interferem com a segurança veicular – como pistões, anéis, bielas e bronzinas – foram agraciadas. Mas válvulas ou eixo de comando não foram contempladas. Apenas algumas ligadas à segurança foram incluídas, como rodas e fluido de freio. Mas, limpador de pararisa ficou de fora.

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Oficina Mobilidade

Testes de colisão validam a segurança de um carro; entenda como são feitos

Saiba quais são os critérios utilizados para considerar um automóvel totalmente seguro ou não

03 de mai, 2024 · 2 minutos de leitura.

Na hora de comprar um carro zero-quilômetro, muitos itens são levados em conta pelo consumidor: preço, complexidade de equipamentos, consumo, potência e conforto. Mas o ponto mais importante que deve ser considerado é a segurança. E só há uma maneira de verificar isso: os testes de colisão.

A principal organização que realiza esse tipo de avaliação com os automóveis vendidos na América Latina é a Latin NCAP, que executa batidas frontal, lateral e lateral em poste, assim como impactos traseiro e no pescoço dos ocupantes. Há também a preocupação com os pedestres e usuários vulneráveis às vias, ou seja, pedestres, motociclistas e ciclistas.

“Os testes de colisão são absolutamente relevantes, porque muitas vezes são a única forma de comprovar se o veículo tem alguma falha e se os sistemas de segurança instalados são efetivos para oferecer boa proteção”, afirma Alejandro Furas, secretário-geral da Latin NCAP.

As fabricantes também costumam fazer testes internos para homologar um carro, mas com métodos que divergem do que pensa a organização. Furas destaca as provas virtuais apresentadas por algumas marcas.

“Sabemos que as montadoras têm muita simulação digital, e isso é bom para desenvolver um carro, mas o teste de colisão não somente avalia o desenho do veículo, como também a produção. Muitas vezes o carro possui bom design e boa engenharia, mas no processo de produção ele passa por mudanças que não coincidem com o desenho original”, explica. 

Além das batidas, há os testes de dispositivos de segurança ativa: controle eletrônico de estabilidade, frenagem autônoma de emergência, limitador de velocidade, detecção de pontos cegos e assistência de faixas. 

O resultado final é avaliado pelos especialistas que realizaram os testes. A nota é dada em estrelas, que vão de zero a cinco. Recentemente, por exemplo, o Citroën C3 obteve nota zero, enquanto o Volkswagen T-Cross ficou com a classificação máxima de cinco estrelas.

O que o carro precisa ter para ser seguro?

Segundo a Latin NCAP, para receber cinco estrelas, o veículo deve ter cinto de segurança de três pontos e apoio de cabeça em todos os assentos e, no mínimo, dois airbags frontais, dois laterais ao corpo e dois laterais de cabeça e de proteção para o pedestre. 

“O carro também precisa ter controle eletrônico de estabilidade, ancoragens para cadeirinhas de crianças, limitador de velocidade, detecção de ponto cego e frenagem autônoma de emergência em todas as suas modalidades”, revela Furas.

Os testes na América Latina são feitos à custa da própria Latin NCAP. O dinheiro vem principalmente da Fundação Towards Zero Foundation, da Fundação FIA, da Global NCAP e da Filantropias Bloomberg. Segundo o secretário-geral da entidade, em algumas ocasiões as montadoras cedem o veículo para testes e se encarregam das despesas. Nesses casos, o critério utilizado é o mesmo.

“Na Europa as fabricantes cedem os carros sempre que lançam um veículo”, diz Furas. “Não existe nenhuma lei que as obrigue a isso, mas é como um compromisso, um entendimento do mercado. Gostaríamos de ter esse nível aqui na América Latina, mas infelizmente isso ainda não ocorre.”