Blog do Boris

Flex: quinze anos de boataria

Entre as dicas estapafúrdias, tem até a que recomenda adicionar querosene no tanque do carro flex

Boris Feldman

02 de abr, 2018 · 6 minutos de leitura.

Reforma tributária" >
83% da frota de veículos leves no Brasil é composta por veículos flex fuel, que não sofrerá qualquer impacto com a medida
Crédito: Volkswagen/Divulgação

O carro flex tem 15 anos. Lançado em 2003, foi a solução para reabilitar o motor a álcool que caiu em desgraça no fim da década de 80: a falta de planejamento resultou em filas de carros nos postos em busca do derivado da cana. Os motoristas que acreditaram na campanha do governo (“Carro a álcool, um dia você vai ter um”) se arrependeram amargamente de ter aderido à novidade. Oficinas mecânicas que tinham adaptado milhares de automóveis para o álcool passaram a fazer a conversão “do arrependimento”: a operação reversa que voltava o motor para a gasolina.

A redenção do álcool veio com a eletrônica que permitiu desenvolver o flex, que queima os dois combustíveis e permite ao dono do carro optar entre eles a qualquer momento. Em termos financeiros, se o álcool estiver custando mais de 70% da gasolina, não vale a pena abastecer com ele. Percentual que varia entre diversas regiões do país e conforme o estoque do álcool.

Passados esses 15 anos, apesar de o flex estar presente em todos os modelos nacionais e até em alguns importados, ainda é vítima de dezenas de boatos.

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Um deles diz que, se você estiver usando álcool, ao decidir mudar para gasolina tem que esvaziar o tanque antes de mudar o combustível E vice-versa. Uma “dica” às avessas e que vai de encontro ao conceito básico do flex, de receber qualquer combustível: álcool puro, gasolina pura ou uma mistura em qualquer proporção de ambos. Embora “puro” seja um eufemismo, pois ambos são batizados (água no etanol, alcool anidro na gasolina).

A rigor, o motor pode passar meses ou anos queimando etanol puro. Se um belo dia o motorista decidir mudar para gasolina (por ser mais conveniente em termos financeiros, ou pela maior autonomia já que seu consumo é menor), pode fazê-lo mesmo que o tanque ainda tenha metade de etanol. E vice-versa.

O que permite esta mistura em qualquer proporção é um sensor (“sonda lamba”) no escapamento. Ele analisa a quantidade de oxigênio presente no combustível que vem do tanque e passa esta informação para a central eletrônica que programa o motor para um perfeito funcionamento.


A melhor mistura é “mezzo a mezzo”? Depende: se o motorista quiser aproveitar as vantagens de ambos os combustíveis, então vale a pena abastecer com 50% de cada. Mas se ele insiste em autonomia, deve usar só a gasolina, que tem consumo menor. Se faz questão de desempenho, a indicação é o álcool no tanque. E se a preocupação for financeira, depende do custo relativo entre os dois combustíveis.

Adicionar querosene? Dica estapafúrdia, a menos que o veículo do prezado não seja um carro flex, mas um jatinho…

Algumas concessionárias recomendam abastecer o carro novo exclusivamente com álcool no primeiro mês. Nenhum fundamento, pois o flex queima qualquer combustível desde o primeiro até seu último dia. Se o carro vem da fábrica com etanol é por custar menos: em milhares de litros por dia, faz diferença.


E, finalmente, se o tanque tinha um combustível mas foi abastecido com outro, então o motorista só pode estacionar a noite após rodar “x” km. Não é bem assim. Só é verdade se:

  1. A mudança foi da gasolina para o álcool;
  2. O carro ainda tiver o tal tanquinho de gasolina; a temperatura ambiente estiver abaixo de 15ºC.
  3. O problema é que o sensor demora alguns quilômetros até reconhecer o álcool no tanque e poderia não acionar o sistema de partida a frio no dia seguinte.

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Oficina Mobilidade

Testes de colisão validam a segurança de um carro; entenda como são feitos

Saiba quais são os critérios utilizados para considerar um automóvel totalmente seguro ou não

03 de mai, 2024 · 2 minutos de leitura.

Na hora de comprar um carro zero-quilômetro, muitos itens são levados em conta pelo consumidor: preço, complexidade de equipamentos, consumo, potência e conforto. Mas o ponto mais importante que deve ser considerado é a segurança. E só há uma maneira de verificar isso: os testes de colisão.

A principal organização que realiza esse tipo de avaliação com os automóveis vendidos na América Latina é a Latin NCAP, que executa batidas frontal, lateral e lateral em poste, assim como impactos traseiro e no pescoço dos ocupantes. Há também a preocupação com os pedestres e usuários vulneráveis às vias, ou seja, pedestres, motociclistas e ciclistas.

“Os testes de colisão são absolutamente relevantes, porque muitas vezes são a única forma de comprovar se o veículo tem alguma falha e se os sistemas de segurança instalados são efetivos para oferecer boa proteção”, afirma Alejandro Furas, secretário-geral da Latin NCAP.

As fabricantes também costumam fazer testes internos para homologar um carro, mas com métodos que divergem do que pensa a organização. Furas destaca as provas virtuais apresentadas por algumas marcas.

“Sabemos que as montadoras têm muita simulação digital, e isso é bom para desenvolver um carro, mas o teste de colisão não somente avalia o desenho do veículo, como também a produção. Muitas vezes o carro possui bom design e boa engenharia, mas no processo de produção ele passa por mudanças que não coincidem com o desenho original”, explica. 

Além das batidas, há os testes de dispositivos de segurança ativa: controle eletrônico de estabilidade, frenagem autônoma de emergência, limitador de velocidade, detecção de pontos cegos e assistência de faixas. 

O resultado final é avaliado pelos especialistas que realizaram os testes. A nota é dada em estrelas, que vão de zero a cinco. Recentemente, por exemplo, o Citroën C3 obteve nota zero, enquanto o Volkswagen T-Cross ficou com a classificação máxima de cinco estrelas.

O que o carro precisa ter para ser seguro?

Segundo a Latin NCAP, para receber cinco estrelas, o veículo deve ter cinto de segurança de três pontos e apoio de cabeça em todos os assentos e, no mínimo, dois airbags frontais, dois laterais ao corpo e dois laterais de cabeça e de proteção para o pedestre. 

“O carro também precisa ter controle eletrônico de estabilidade, ancoragens para cadeirinhas de crianças, limitador de velocidade, detecção de ponto cego e frenagem autônoma de emergência em todas as suas modalidades”, revela Furas.

Os testes na América Latina são feitos à custa da própria Latin NCAP. O dinheiro vem principalmente da Fundação Towards Zero Foundation, da Fundação FIA, da Global NCAP e da Filantropias Bloomberg. Segundo o secretário-geral da entidade, em algumas ocasiões as montadoras cedem o veículo para testes e se encarregam das despesas. Nesses casos, o critério utilizado é o mesmo.

“Na Europa as fabricantes cedem os carros sempre que lançam um veículo”, diz Furas. “Não existe nenhuma lei que as obrigue a isso, mas é como um compromisso, um entendimento do mercado. Gostaríamos de ter esse nível aqui na América Latina, mas infelizmente isso ainda não ocorre.”